•She•

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  O corredor  se estendia a frente —sombrio e estranhamente quieto,— vez ou outro meus pés pisavam em um azuleijo irregular, o que fazia as rodinhas da minha mala travarem. Algumas luzes do corredor não acendiam, deixando o lugar assustador e triste. A freira para em uma das portas amareladas do corredor e a abre com uma das chaves tirada do avental.

—Esse é o seu quarto, descanse.— a freira diz dando espaço para que eu entre.

   O quarto era pequeno e branco, com espaço apenas para duas camas de solteiro, um guarda roupa de madeira e uma mesa de cabeceira. À frente, uma janela estreita  era ladeada pelas camas. Puxo a mala pra dentro do quarto, atrás de mim a porta se fecha e ouço os passos arrastados da freira se afastando.

     Abraço meu próprio corpo a dor em meu peito me sufoca, caio de joelhos. Me permito chorar, a visão do quarto mal iluminado era solitário e triste e aos poucos se tornou borrões amarelo-palidos. Eu queria que aqueles cortunos negros parassem em minha frente e me oferecesse a mão, preciso nesse momento da presença de HongJoong mostrando que ele estaria ali e que me ajudaria a superar o luto. Parte de mim  nesse momento tinha esperança que ele abrisse a porta do quarto e me abraçasse, soltasse um "Allie-tapada, não chore, sua meleca ta pingando."; mas a realidade mostrava que estavamos à quase 13.216,15 km de distância um do outro e que ele nunca cruzaria a porta do quarto. Ele nem sequer gostava de mim, eu era apenas uma estrangeira boboca e idiota.

Presciso tanto de você, HongJoong.— sussurro baixinho entre um soluço e outro.

     •••

   A mesma freira de ontem me guia até o refeitório para tomar o desjejum, hoje iria ser meu primeiro dia de aula naquele lugar, também era o funeral e enterro de minha avozinha, enxugo as lagrimas que começaram a deturpar minha visão.

—Depois do café, acompanhe as internas em direção ao ônibus escolar, senhorita.—  diz a freira, que mais cedo descobri que se chamava irmã Carmem.

—Irmã... Eu posso ir ao enterro?— minha cabeça estava muito pesada, doía. Noite passada foi um pesadelo, mal consegui dormir, o cansaço dos ultimos dias em meu corpo beirava a exaustão.
—Os internos não podem sair.— ela responde, dando a volta e me deixando sozinha.

   O refertorio tinha cerca de 20 mesas, enfileiradas em um agrupamento de quatro. As mesas estavam postas, mas os rostos infantis esperavam anciosas o início do desjejum. Me sento na mesa mais próxima, onde uma garotinha de onze anos me recebe com um sorriso.

    Depois de feita orações de agradecimento pelo alimento as crianças começam a comer, olho pras torradas à minha frente com desgosto, meu estômago revira enjoado.

—A comida daqui não é tão ruim.— a garota ao meu lada diz.

—Só não sinto fome.... — respondo, espetando a torrada com o garfo.

—Você é novata, não é?— a garota volta a perguntar.

—Me viu chegar ontem?

—Oh não, você é a unica garota aqui de aparentes 17 anos.— a garota responde, o que me faz olhar ao meu redor. O refeitório era composto absolutamente por meninas de 4 à 13 anos, essas me olhavam curiosas e barulhentas.— ...a propósito eu me chamo Clarinha, posso saber o seu nome?

—Allegra.— respondo apenas.

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☀️Miss. Sunshine🌻 • HongJoongOnde histórias criam vida. Descubra agora