Combustão espontânea

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Céus!

Céus, céus, céus!

Meu coração estava disparado.

Se eu movesse um pouquinho o meu rosto, os nossos lábios se tocariam...

Eu estava para quase seguir ousada em me inclinar e mordiscar o seu lábio em provocação ali mesmo. Afinal, já me encontrava um bocado tonta e sem muito controle de mim mesma...

Por mais que a... conversa de Bruno tivesse me arrepiado, feito eu momentaneamente parar de pensar e só sentir aquele furacão de desejo, quando ele disse aquela última frase imperativa, fez em mim surgir um outro instinto...

E fiz o movimento oposto.

Afastei-me dele rápida, encostei as costas na cadeira e o olhei nos olhos.

Bruno, parado onde estava, encarou de volta arregalando um pouco os olhos, surpreso.

Durante todo o momento que ele estava me falando o que queria ter a mais comigo, o que ele queria ter feito... eu não o via, pois estávamos com as cabeças lado a lado. Foi então incrível ver a mudança de expressão dele de momentos anteriores para agora...

Era aquele olhar predador que conheci no elevador...

Redondo, aceso, escuro...
E perigoso. Parecia imprevisível...

Seu cabelo de alguma forma havia eriçado, assim como cada pêlo do meu corpo ao ver aquele olhar de caçador faminto ali, do outro lado da mesa, e logo após confessar a sua ansiedade em me devorar...

Eu vivia um turbilhão de sensações físicas e era difícil pensar, até por conta da confusão mental após misturar tantos drinks. Não havia comido há muito tempo também, então estava ainda mais sensível e vulnerável à tudo o que acontecia.

Forcei uma respiração consciente. O ar poderia trazer alguma coisa que eu não via.

Consegui identificar um pouco: Estava com desejo, tonta da bebida, com um leve medo, mas menos temerosa, e a adrenalina me dava um breve ar de sobriedade e instinto de conservação, como se eu realmente estivesse com a vida em perigo.

Essa mistura inebriante com a tensão de me sentir encurralada, fazia realmente eu buscar formas de escapar das garras de Bruno.

Tá, talvez sentir uma enorme excitação com suas perseguições de desejo também tivesse a sua contribuição ali...

A questão é que as emoções estavam intensas, confusas e algumas eram contraditórias. E constatar isso sinceramente não me ajudou muito...

Nesse estado eu já não conseguia dirigir consciente mais a mim mesma ou o meu próprio destino. É quase como se eu me assistisse sem ter o controle...

Apenas continuei a reagir instintivamente e eu mesma me surpreendi com o que fiz.

Contra quase tudo de autopreservação que poderia ter, aproximei-me um pouco mais de Bruno, indo mais para frente, para a ponta da minha cadeira...

Ajeitei-me sentada e ereta, parecendo confiante e petulante, só que completamente tensa, arrepiada por dentro e por fora, com as pernas tremendo embaixo da mesa...

Cruzei os meus braços e o enfrentei sustentando, oca de nervosa, os seus olhos predadores ansiosos, sentindo, além de tudo, as minhas orelhas quentes gritando em protesto.

— Eu vou?

O formigamento do perigo iminente começou a aparecer na nuca e expandir pela superfície da minha cabeça, como se eu enfrentasse a própria morte ali e o corpo começasse a tentar me anestesiar.

Gerenciando PaixõesOnde histórias criam vida. Descubra agora