Dona de si

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Era tudo preto. Eu falava "Alguém pode me ajudar?" repetidamente, mas parecia que não havia alguém ali, ou eu era ignorada. Cega e com um frio forte que me fazia tremer, a sensação é que seria o meu fim...

Acordei no silêncio com o coração acelerado.

Olhei em volta... Reconheci o ambiente. Era o meu quarto.

Que horas são?

Ai, droga!

Deve ter passado a hora, a temperatura não é da manhã. Estava escuro, pois a cortina de blackout mantinha assim a qualquer hora do dia. O celular com o despertador, está na sala!

Corri para pegá-lo. Já eram 10h32 e o alarme tocava abafado no sofá. Era para eu já estar na empresa.

Rapidamente me arrumei. Ciente da condição das minhas pernas agora, escolhi uma calça para cobrir as manchas, depois de aplicar mais pomada.

Um ponto talvez positivo de estar com pressa, é de não ter espaço na cabeça para conseguir pensar em algo além do essencial corriqueiro...

A caminho da agência, racionalizei o pesadelo... E que não chequei as mensagens após acordar.

O sonho parecia um lembrete de que ser independente não significa necessariamente ficar sozinha, embora eu até gostasse disso. O problema seria não ter opção de alguém com quem compartilhar as coisas, e contar quando precisasse de um ombro — algo que fujo de admitir que posso precisar.

Respirei fundo...

Independente disso, eu sei que tenho que acertar as coisas com Bruno. E isso é porque me importo com a felicidade dele. Não seria necessariamente me explicar, até porque nem eu tenho todas as respostas de por que reajo como faço às vezes, mas sim um pedido de desculpas por ter saído daquele jeito.

Espero que ele aceite bem... e que esteja bem.

Comecei a ficar pesarosa por Bruno não merecer isso e os meus olhos lacrimejaram... Incomodar a paz e alegria dele e gerar uma situação desagradável me tirava pontos na minha própria cabeça.

Ao mesmo tempo, sentia que Bruno às vezes precisava de uma fagulha para tomar atitudes — e por acaso tenho percebido que gosto de provocar o fogo... Contudo, isso era no campo do desejo. É diferente, não é?

A noite, antes de dormirmos, foi muito boa para ficar marcada assim. De marca, basta as nos joelhos...

Espero ser uma companhia melhor para ele. Bruno merece isso.

Estacionei. Ao ver um casal andando entre os carros na garagem, lembrei imediatamente de Igor... e o meu coração de repente ficou audível e rápido, além de um aperto ansioso no peito surgir.

Comecei a pegar instintivamente o celular para checar as notificações enquanto esperava o elevador. Eu deveria mandar uma mensagem para ele. Sabia que queria vê-lo de novo...

— Espero que você fique bem!

O meu coração derreteu e suspirei ao ler. Bruno realmente merecia tudo de bom. Será que ele era demais para mim?

Balancei a cabeça e entrei na caixa de metal que se abriu vazia para mim.

Comecei a me sentir um pouco culpada por estar com Bruno e desejando rever Igor...

Não gostei dessa sensação.

Tenho que me acostumar que não estava mais em uma relação monogâmica agora.

Sei que não quero voltar ao mesmo modelo de relacionamento que, vez após outra, fracassou comigo por um motivo central similar: de eu perceber sempre os meus desejos sendo mutilados de acordo com as vontades e crenças de uma única outra pessoa.

Gerenciando PaixõesOnde histórias criam vida. Descubra agora