Nada dura eternamente

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Embalada pelo sono uma jovem dormia calmamente, um sono tranquilo e sem sonhos, coberta por lençois brancos e macios a garota ressonava baixinho, seu livro favorito jazia ao seu lado, como se estivesse zelando por seu bem estar, "a princesa dos encantos", esse era o titulo do livro, os olhos da garota da capa pareciam reluzir a luz do luar, a rosa parecia mais viva e vermelha, um vermelho forte, proximo ao sangue.

Ao longe corvos negros pousavam em galhos de uma arvore antiga que já estava sem vida a muitos anos, pareciam encarar a janela do quarto da garota, como se esperassem que algo acontecesse a qualquer momento.

Mas nada aconteceu, o dia amanheceu e os corvos partiram, no lugar deles vieram canarios amarelos que cantavam felizes, a garota que dormia serenamente acordou colocando seu livro sobre a comoda ao lado de sua cama.

"Está um belo dia" pensou a jovem sorrindo e se levantando de sua cama, "um otimo dia para passar os ultimos dias de férias a beira-mar", com isso a jovem se trocou, vestiu um vestido branco e leve, com rendas em sua barra, antes de sair de seu quarto pegou uma bolsa onde guardava três livros que costumava ler para lhe acalentar.

A passos rapidos a garota desceu as escadas até chegar a sala onde seu pai estava sentado lendo o jornal daquela manhã.

-Bom dia, pai - cumprimentou a garota beijando o pai na face e correu para a cozinha indo pegar uma maça para comer, encontrando sua mãe fazendo algumas torradas - bom dia, mãe.

-Bom dia, minha filha, dormiu bem? - perguntou a mulher alta e ruiva com um sorriso gentil e acolhedor.

-Dormi incrivelmente bem - respondeu a jovem pegando uma torrada e mordiscando - vou dar uma volta na praia, logo estarei de volta - antes de sair beijou a mãe e correu em direção a porta.

A casa da garota não ficava muito longe da praia, em poucos minutos a jovem já caminhava tranquilamente a beira-mar, com seus cabelos vermelhos como fogo voando quando o vento batia suavemente em seu rosto, seus pés tocavam a areia branca e macia, um leve sorriso se delineava nos labios rosados da garota, tudo parecia incrivel e calmo, ao longe algumas embarcações aportavam para deixarem mercadorias.

A praia estava deserta, como sempre estivera, poucas pessoas conheciam aquele pedaço de paraiso, já que ficava distante da cidade e isolada por uma mata densa e pedreiras enormes ao seu redor, a ruiva só conhecia aquele local por causa de sua casa que ficava tão proxima a praia que podia vê-la da janela de seu quarto e sentir a brisa maritma da varanda.

Quando estava chegando proximo ao seu local favorito a garota sentiu mãos a envolverem, um pano foi levado a seu nariz e seus sentidos foram a abandonando, logo havia perdido a visão e dormia nos braços de um homem que lhe carregou até o fim da praia.

O balanço do mar embalava o navio, um movimento suave e sereno, os marujos andavam de um lado para o outro da embarcação, suas espadas muito bem embainhadas permaneciam em seus trajes como um ornamento a ser ostentado.

A Lua brilhava no alto do ceú e as estrelas pareciam ter sido bordadas ao seu redor, brilhavam e reluziam como se tivessem vida, era uma noite linda, cheia de mistérios, embevecia a quem lhe olhasse com tamanho esplendor.

-Vamos, mais rapido, o navio que será saqueado saira do porto amanhã de manhã e se não chegarmos a tempo não haverá outra oportunidade para alcança-lo, então se mexam, seus imbecis, ou lhes corto a jugular - gritou um homem alto e forte, a pele queimada pelo Sol, os olhos negros como a noite e os cabelos compridos e ondulados presos em um rabo de cavalo rente a nuca, seus dedos longos acariciavam a bainha da espada que trazia em sua cintura.

Todos os tripulantes começaram a se mover pela proa, iam de um lado para o outro, levantando mastros, levando barris, puxando cordas, logo o navio seguia pelo mar, as ondas batiam contra a embarcação, mas isso não parecia afetar nenhum dos que estavam dentro do navio, muito pelo contrario, parecia anima-los cada vez mais, a brisa batendo em seus rostos cobertos por barbas enormes os deixava excitados, ansiosos para chegar em terra firme.
O capitão do navio, aquele que a pouco dera a ordem de seguirem o trajeto mais rapido, logo se apressou em comandar tudo, observava cada passo de seus tripulantes.
Quando o mar parecia ter se acalmado e o navio já não mais balançava de um lado pro outro tudo ficou em ordem, o capitão deu um sorriso discreto e entrou por uma porta de madeira maciça.
As coisas pareciam quietas, silenciosas até, nunca antes o local havia ficado daquela forma, ainda mais com um saqueamento tão proximo, a não ser...
-Quero todas as mulheres fora deste navio, agora! - gritou o homem em tom de ordem e várias portas se abriram, mulheres saiam dos quartos atordoadas e perdidas, sem saber aonde ir - quantas vezes tenho que dizer que é proibido trazer mulheres a bordo, seus imbecis? Quero todas no porão e depois veremos o que vamos fazer... - a voz do capitão diminuiu de tom quando seus olhos se encontraram com os de uma jovem e bela ruiva que acabara de abrir a porta para sair, sua expressão serena e apaziguadora chamou a atenção do homem facilmente irritavel.
-Perdão, senhor, mas tenho que voltar para casa... Não sei como vim parar aqui e não sei como voltar, minha familia deve estar atrás de mim... - disse a garota ajeitando sua bolsa em seus ombros.
-Não tenho como leva-la para casa agora... Mas em dois meses voltaremos para nossa ultima parada... - comentou o capitão - já estamos distantes de lá.
-Mas... Onde deixara as outras? - perguntou a ruiva olhando ao redor e vendo as outras mulheres desesperadas.
-Na proxima cidade que pararmos - respondeu o capitão - e quanto a vocês levem-nas até o porão, seus imprestaveis - todos os marujos presentes começaram a levar as mulheres para longe dali - venha, você ficará no meu quarto - com isso o capitão levou a jovem pelos corredores até chegarem a uma porta grande e escura.
-Por que todas as outras foram para o porão e eu estou aqui?
-Porque você é apenas uma criança, aquele lugar não é pra você - dizendo isso o homem abriu a porta e deixou que a jovem entrasse primeiro.
A ruiva entrou no comodo se sentindo desconfortável por estar sozinha com um homem, ainda mais desconhecido e que confinava mulheres em um porão.
-Sinta-se em casa - comentou o homem colocando alguns cobertores e travesseiros em um sofá proximo a cama - você pode dormir na cama, não se preocupe, não farei nada com você...
-Ah, mas a cama é do senhor, não tenho direito de tira-lo do seu conforto.
-Fique com a cama, eu insisto, uma dama não deve se sujeitar a dormir em um sofá velho e empoeirado como este, mas diga, qual o seu nome?
-Obrigada por me deixar ficar aqui... Meu nome é Helena Montenegro...
-Helena... Realmente tem um nome de princesa e se parece com uma - o homem se aproximou da ruiva e sua mão se ergueu em direção ao rosto da garota que instintivamente fechou os olhos assustada.
A garota sentiu um leve movimento em seus cabelos que logo cessaram e ela abriu os olhos curiosa, vendo nas mãos do homem uma pequena folha esverdeada.
-Era apenas uma folha - disse o homem tentando acalmar a ruiva que se encolheu com o tom brusco que havia dito.
A jovem estava assustada, se encolheu e olhou para o chão tremula, estava em um navio com pessoas que nem ao menos conhecia, qualquer um em seu lugar ficaria incerto, perdido, com medo e angustiado.
Helena afastou-se sutilmente ainda olhando para o chão.
-Está tudo bem, pequena Helena, não lhe farei mal - disse o homem tentando soar amigável, mas sua voz era grossa e rouca, o que assustava ainda mais a ruiva - irei deixá-la um pouco sozinha para se acostumar com o quarto, não saia daqui, não quero que nenhum daqueles imbecis lá fora te vejam.
A garota concordou com a cabeça e sentou-se na cama vendo o homem sair pela enorme porta de madeira maciça.
A jovem durante toda a sua vida nunca vira nada parecido, nunca se imaginara, nem em seus piores pesadelos, que sua bela vida pacata fosse mudar tão drasticamente, mas afinal, nada dura eternamente.

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Bem esse é o primeiro capitulo e o primeiro livro que posto aqui, ainda não sei como isso funciona direito, mas espero que aqueles que leram tenham gostado, deixem seus comentários, notaa, qualquer coisa, obrigada por lerem.

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