O dia estava ótimo, o Sol brilhava no belo ceú azul, os tripulantes do navio cantarolavam animados, fora mais um saque bem feito e havia muitas caixas no navio.
-Bom, rapazes, temos comida suficiente por uma semana e nada pode nos deter, somos os maiores piratas que esta Terra já viu - o capitão gritou animado e elevou sua espada para o alto soltando uma gargalhada divertida que foi acompanhada pelos marujos do navio.
Helena divertia-se com aquela agitação, tudo parecia surreal aos seus olhos, talvez piratas não fossem tão ruins assim.
-Ho ho ho uma garrafa de rum - cantarolou Chad erguendo uma garrafa vazia para Helena - ops, acho que sobrou apenas a garrafa... Mas você não ia beber mesmo, é menor de idade.
-Tenho 19 anos, Chad - Helena sorriu e deixou-se levar pela alegria contagiante do loiro.
-É mesmo? - Chad encarou a ruiva por um tempo até cair na gargalhada - meu Deus, estou levemente alterado - e voltou a rir após seu comentário.
-Bobo alegre, levanta essa bunda gorda e vem me ajudar a levar essa caixa para a cozinha - gritou Henrique empurrando um caixa enorme pelo convés.
-Você chama de bunda gorda agora, mas entre quatro paredes é essa bundinha gostosa que te faz delirar - zombou Chad virando a bunda para o colega de quarto e balançou levemente os quadris.
A ruiva ao ver a cena caiu em risos e apoiou as mãos no parapeito do navio.
-Cala a boca, sua loira tingida e vem me ajudar.
-Já vai - o loiro bufou e virou-se para Helena que aos poucos parava de rir - logo estarei de volta, ruivinha, não saia daqui.
-Sim, senhor, estarei esperando.
Chad apressou-se em ajudar o colega e logo os dois estavam erguendo a caixa e a carregando pelo navio.
A ruiva ainda se manteve por um tempo parada apenas observando, mas quando notou que poucos homens estavam na proa decidiu sair dali e seguir para o refeitório.
O dia passou rápido, logo havia escurecido e todos foram dormir, fora uma noite serena e calma, porém um estrondo e um movimento forte atingiu o navio.
Gritos ecoaram da proa e todos sairam de seus aposentos, uma correria se instalou no navio e o som da lâmina sendo desembainhada se fez ouvir, Helena correu para a proa e encontrou Henrique cercado por três homens fortes que empunhavam cada um sua espada.Helena pegou a espada de um dos homens que já haviam sido mortos no decorrer do combate e lançou-se contra um dos homens, lhe golpeando o flanco direito.
Os outros dois homens ficaram surpresos por alguns segundos, o que foi uma ótima chance para Henrique enfiar sua espada contra a coxa de um dos homens, porém o homem restante se recuperou rápido do choque e tornou a abaixar sua espada contra o moreno, mas esta foi interceptada por uma espada de um fio.
-Tome mais cuidado, garanhão - zombou Chad enquanto forçava sua espada contra o terceiro homem o fazendo recuar dois passos.
-Valeu, idiota - o som metálico ecoava por toda a proa, as espadas se chocavam violentamente.
-Henrique! - gritou Helena ao ver um homem franzino aproximar-se por trás do moreno corpulento, que assim que ouviu o grito da ruiva se virou e por pouco não conseguia proteger-se.
Helena lutava bravamente, sua espada cortava o ar e zunia como uma abelha feroz, fora naquele momento que os dois homens que a treinaram viram os frutos de seus trabalhos árduos e sentiram-se revigorados com tamanha surpresa.
O capitão, mesmo ao longe, observava a bravura de sua menininha que chegara de forma ingênua, sem saber nada sobre a crueldade do mundo, mas que mesmo tendo que as enfrentar agora não deixava de ser aquele anjo puro que chegara há semanas.
Um tiro ecoou, forte e alto, o zumbido da bala cortou o barulho da briga e as espadas cessaram, todos olhavam para os lados a procura de bem havia disparado.
Ninguém parecia se mover, até que as espadas inimigas em um movimento rápido desceram cortando o ar e muitas atingindo o oponente.
Chad foi veloz ao se desviar e o fio da lâmina pegou apenas em sua roupa, já Henrique foi atingido em seu ombro esquerdo que jorrou o liquido vermelho, manchando-lhe as roupas e o chão.
Helena, ao contrário dos homens, prestou atenção a cada movimento do inimigo e quando este foi atacar-lhe já estava preparada para contra atacar.
O choque de lâminas tornou a ficar presente, pés batendo contra a madeira tornavam tudo mais desesperador, a dor dos tripulantes não se comparava ao medo de conhecer o fim daquela aventura perigosa.
As coisas pareciam niveladas, nenhuma tripulação parecia ser mais forte do que a outra, era uma batalha equilibrada, nunca antes presenciada pelo capitão ou qualquer outro tripulante.
Henrique golpeava com força e raiva, colocava em cada golpe o ódio que sentia por Chad, a falta de resposta por parte de Helena, o descaso de seu pai, tudo era jogado contra o homem a sua frente que demonstrava em seu olhar um certo medo e incompreensão, de onde viera tanta fúria?
Aos poucos o moreno conseguiu levar seu rival para a beira do navio e parou de golpeá-lo, erguendo rapidamente o pé esquerdo e chutando-lhe o peito, este por sua vez trombou com a mureta e caiu para o mar.
Já o loiro estava em maus lençóis, outro homem havia se juntado ao primeiro para feri-lo, tornando cansativo e difícil defender-se e a atacar, a roupa do loiro estava com cortes que deixavam aparente seus ferimentos, apesar da maioria não ser profundo, mas que com o forte vento e a brisa marinha ardia terrivelmente.
A dor parecia dominar todo o seu corpo e se tornava praticamente impossível pensar tamanha era a dor que sentia, Henrique ao ver seu colega em apuros se pôs entre ele e os dois homens golpeando com a bainha da espada o estomago de um dos homens e chutando o outro em suas partes sensíveis.
Quando Helena conseguiu derrubar seu inimigo um grito ecoou pelo ar quente que havia se formado no meio da luta, os homens que ainda estavam vivos fugiram e se jogaram no mar.
-Vencemos - gritou o capitão Sanchez e seu sorriso se abriu - é isso ai homens, fizeram um otimo trabalho, aqueles que não estão feridos ajudem os feridos.
Logo todos os homens estavam se agilizando e cuidando dos ferimentos um do outro.
Helena, Henrique e Chad estavam no aposento dos rapazes e a ruiva cuidava dos ferimentos de ambos, que a cada toque chiavam de dor.
-Que merda, isso dói, porra - resmungou Henrique segurando o braço da garota e a encarando.
-Estou fazendo o possível para não doer, mas isso está horrível - a garota apontou para o corte onde já se formava um pouco de pus misturado com sangue seco.
-Se esforce mais, então - Henrique foi cruzar os braços, mas este simples ato o fez gemer de dor - cacete, vou morrer de dor.
-Tinha que ser um pirralho mimado - Chad começou a rir, mas o movimento fez seus machucados arderem - tá, talvez esteja doendo demais.
Helena riu dos dois rapazes e voltou a fazer os curativos, passava alcóol e algumas pomadas que estavam na caixinha de primeiros socorros.
-Não tá doendo não? - Henrique ergueu as mãos para tocar no lábio e na bochecha cortada da ruiva e essa se manteve parada - não deveria cuidar dos teus ferimentos primeiro?
-Vocês são mais importantes para este navio do que eu, sou apenas uma garota, vocês em bom estado valhem mais que eu - Helena deixou seu rosto repousar na mão aspera do homem a sua frente - e eu não me importo em sentir um pouco mais de dor para ajudá-los.
-És realmente um anjo - as mãos do moreno a trouxeram para perto e beijou-lhe os lábios com cuidado e delicadamente com medo de machucá-la.
-Hey, sem querer cortar o clima ai, mas eu estou aqui - falou Chad enquanto erguia uma almofada para bater em Henrique.
-V-vamos cuidar disso logo - comentou Helena se afastando envergonhada e voltando a fazer os curativos.
E naquele dia Helena reparou em como sua vida havia mudado, no quanto se tornara independente e dona de si, ainda com seus trejeitos de menina, mas com uma visão de mulher.
Antes não possuia amigos para partilhar suas tristezas, suas vitórias ou alegrias, mas agora possuia uma familia, sim familia, pois apesar do pouco tempo de convivencia considerava todos como parentes, o capitão Sanchez a tratava como uma filha, Chad era-lhe o irmão, o confidente, o melhor amigo, já Henrique, bem, para ele ela ainda não havia encontrado um definição.
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Seja meu anjo
AcakUma jovem ruiva se vê longe de casa, rodeada por homens estranhos, em um grande navio pirata, quanto tempo a pureza de seu coração e corpo vão conseguir aguentar a crueldade que seus olhos irão presenciar? Com a pureza de um anjo a jovem ruiva terá...