Capítulo 18

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  Achei bacana o João cantar uma música dos anos retrô e ainda por cima pra mim, mas tava mega curiosa. Ensaiamos as que já estavam decidida de eu cantar, desde às 14h até 20h, minha mãe me ligou então tive que ir embora.Provavelmente eles iriam aproveitar essa minha deixa, para passarem a música do João.

  Subi o elevador sozinha com um sorriso dando mil voltas no entorno da cabeça, tava bem empolgada pra cantar na festa da escola. Cheguei em casa toda entusiasmada, doida pra contar pra mamãe.

- Mãe, você não sabe, vou cantar na festa da escola, vai ter um super baile anos retrô.

- Sério filha, que bom, que ótimo.

- É sim, tô pensando em ir estilo hippie, tem que ir a caráter.

- Que interessante filha, eu posso ajudar você, eu já fui hippie.

- Sério mãe?

- Sério. - Falou minha mãe rindo. - Mas isso foi a muito tempo mesmo.

- Que legal. Cadê o papai?

- Tá lá no quarto filha, a gente queria conversar com você.

- Pode falar mãe.

- Espera aí deixa eu chamar seu pai. - Ela caminhou até a porta e bateu. - Nando querido, a Cléo chegou. - Mamãe chamava papai de 'Nando'.

  Meu pai saiu do quarto com uma cara de sono e de acabado, deve ser de tanto trabalhar, ainda bem que sábado meus velhos teriam um descanso e iríamos passear.

- Então filha, seu pai e eu queríamos nos desculpar, eu sei o quanto isso significa pra você. - Já fechei a cara, na hora.- Mas nós vamos ter que suspender aquele passeio de sábado, porque vamos precisar ir a um jantar de negócios do seu pai em São Paulo, partiremos amanhã à tarde.

  Olhei pra cara dos meus pais, com uma cara que realmente só poderia ser uma cara bem de paisagem. Senti uma lágrima cair, mal lembro a última vez que saí com os meus pais.

- Mas filha, se você quiser pode ir com a gente, mas vai ter que ficar no hotel, porque é um jantar de adulto, reservado e importantíssimo pra carreira do seu pai. E você sempre foi tão compreesiva.

- Tudo bem mãe. - Falei secando as lágrimas e forçando um sorriso sincero. - Vou ficar por aqui mesmo, esperando por vocês.

- Sabia que ia entender minha lindona. - Falou meu pai fazendo cócegas, cosquinha é golpe baixo.

  Nós jantamos, depois meu pai lavou a louça e eu sequei, quando acabamos meus pais me deram um beijo de boa noite, disseram que me amam e em seguida entraram pro quarto. Assim que eles fecharam a porta eu desabei em lágrimas, sou muito sentimental. Fiquei sentada na mesa esperando ouvir algum ruído, barulho de chave ou porta na casa do vizinho, precisava dele mais do que nunca, até que ouvi a porta bater. Peguei minha mochila e meu uniforme, tranquei a porta do meu quarto, caso meus pais fossem lá e coloquei no bolso. E os seguintes momentos aconteceram como na música do Projota.

  "Bati na porta dele com lágrimas no rosto, abracei ele apertado num gesto desesperado."

- Tá foda em casa e os problemas tão demais.

  Ele me abraçou ainda mais forte e eu me desfiz em lágrimas. Contei pra ele sobre o que tinha acontecido e depois como me sinto.

- Parece que tudo é mais importante que eu pra eles, os clientes, o trampo,

a carreira, e eu? Eu nunca me encaixo nos planos deles ou na rotina deles. - Tava sentada no sofá do João, com ele me dando carinho, isso me deu mais vontade ainda de chorar. - Vizinho, será que eu posso dormir aqui com você hoje?

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