Dois dias depois, Joalin segue minhas instruções para chegar ao comitê de campanha da mamãe e fazer uma entrevista. Ela parece uma pessoa totalmente diferente daquela que estava ao volante em busca de Bacardi em New Hampshire. Está muito bem-vestida num vestido longo. Ela batuca no volante, acende um cigarro, fuma e acende outro assim que termina.
— Está se sentindo bem? — pergunto, indicando que ela deveria ter virado à esquerda num cruzamento.
— Bem porra nenhuma. — Joalin joga a bituca do cigarro pela janela e acende o isqueiro de novo. — Não bebo, nem fumo, nem nada há alguns dias. Foi o maior tempo que fiquei sóbria desde que eu tinha o quê? Uns onze anos. Estou me sentindo um lixo.
— Tem certeza de que quer esse emprego? Fazer campanha... É tudo um espetáculo... Eu também me sinto assim e não estou precisando ficar limpa.
Joalin solta um bufo.
— Ficar limpa? Quem fala isso? Você fala igual ao meu avô.
Reviro os olhos.— Sinto muito se não conheço as gírias mais recentes. Você me entendeu.
— Não posso ficar em casa o dia inteiro com a minha mãe. Ela me enlouquece, porra. E se não provar que estou fazendo alguma coisa de útil com o meu tempo, vou ser mandando para o Acampamento Tomahawk.
— Tá brincando! Esse é o nome do lugar para onde seus pais querem mandar você?
— Algo assim. Talvez Acampamento Guilhotina. Acampamento Castração? Seja lá o que for, não me parece um lugar em que vou sobreviver. Com certeza não vou ter uma revelação sobre como devo me dedicar mais à vida enquanto estiver comendo tubérculos e frutos silvestres e aprendendo a construir uma bússola com teia de aranha ou seja lá o que for preciso fazer quando se está sozinho no meio do mato. Essa merda toda não é para mim.
— Acho que você deveria aceitar o trabalho na loja do pai do Noah. — Aponto para a direita quando chegamos a outro cruzamento. — Ele é bem mais tranquilo do que minha mãe. Além disso, você teria as noites livres.
— O pai do Noah tem uma bosta de uma loja de ferragens, Any. Mal sei a diferença entre uma chave de fenda e uma chave inglesa. Não sou a Sra. Conserta Tudo como seu namoradinho.
— Não acho que você vai ter que consertar nada, só vender as ferramentas. É essa casa aí.
Joalin entra, cantando pneu, no estacionamento do comitê, onde o gramado está cheio de cartazes enormes, em vermelho, azul e branco: PRISCILA ROLIM:
NOSSAS CIDADES, NOSSAS FAMÍLIAS, NOSSO FUTURO. Em alguns deles, ela está usando uma capa de chuva amarela e apertando a mão de um pescador ou de outros heróis do cotidiano... Em outras, ela é a mãe que conheço, com um coque muito bem feito, de terno, conversando com outras pessoas "que fazem acontecer".
Joalinasai e anda pela calçada, ajeitando o vestido com força. Os dedos dele estão tremendo.
— Você vai ficar bem?
— Dá para você parar de perguntar isso? Minha resposta não vai mudar. Estou me sentindo como um terremoto ambulante de intensidade 8,9 na escala Richter.
— Então não faça a entrevista.
— Tenho que fazer alguma coisa, senão vou enlouquecer — irrita-se ela. Então, olhando para mim, a voz dela fica mais tranquila. — Relaxa, menina. Quando não estou fumado demais, sou mestra em fingimento.
Estou sentada na recepção, folheando uma revista People e me perguntando quanto tempo a entrevista vai durar, quando recebo uma ligação de Noah no celular.
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Minha Vida Mora do Outro Lado - Noany
FanfictionSinopse: "Minha mãe nunca ficou sabendo de uma coisa, algo que ela reprovaria radicalmente: eu observava os Urrea's. O tempo todo." Os Urrea's são tudo que os Rolim não são. Barulhentos, caóticos e afetuosos. São de verdade. E, todos os dias, de seu...