Capítulo 15

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No dia em que volto a bancar a babá, a Sra. Urrea me leva para o mercado, para que eu distraia as crianças e tire porcarias das mãos delas enquanto ela analisa a pilha de vales-desconto e lida com os comentários maldosos.

— Deve dar trabalho cuidar de tantas crianças — Esse ela ouve muito.

— Mas é um trabalho bom — responde ela calmamente, tirando o cereal de chocolate de perto das mãozinhas ávidas de Jaden.

— Você deve ser católica. — É outro que ela ouve de vez em quando.

— Não, só fértil. — Ela tira das mãos de George o último bonequinho Transformers.

— Essa bebê precisa de um gorro — aconselha uma senhora de expressão severa no corredor dos congelados.

— Obrigada, mas o clima está ótimo. Ela tem vários em casa, cada um mais lindo que o outro. — A Sra. Urrea pega uma caixa grande de waffles congelados e põe no carrinho.

Dou a Lili uma mamadeira de suco, fazendo uma mulher com cara de hippie e sandália papete afirmar:

— Ela está grandinha demais para tomar mamadeira. Deveria estar usando copinho agora.

Quem são essas pessoas e quem pediu a opinião delas?

— Você não tem vontade de matar ou pelo menos de xingar esse povo? — pergunto baixinho, empurrando o carrinho para longe da mulher do copinho, com Fred e George pendurados nas laterais como miquinhos.

— É claro, mas fazer o quê? — A Sra. Urrea dá de ombros. — Que exemplo eu estaria dando?

[...]

Já perdi a noção de quantas voltas dei na piscina, mas sei que foram menos do que costumava dar. Estou cansada, mas feliz quando subo a escada, tirando a água do cabelo. Adoro nadar desde que me entendo por gente, desde que tive coragem de seguir Joalin para fora da arrebentação. Vou voltar para a equipe.

Passo a toalha no rosto e confiro o relógio — quinze minutos até a piscina abrir, o que normalmente é acompanhado por uma onda de pessoas passando pelos portões. Meu celular apita na cadeira.

DÁ UMA PARADA, AQUAGIRL!, escreve Sina da loja de presentes. VEM FALAR COMIGO.

Stony Bay tem muito orgulho de Stony Bay. A loja de presentes do clube, a By the Bay Buys, tem uma montanha de objetos estampados com os pontos turísticos da cidade. Quando entro, Sina já está trabalhando, dizendo com gentileza para um senhor de short quadriculado rosa:

— Veja só, o senhor pode comprar o mouse pad da Rua Principal, este jogo americano com a vista aérea do delta do rio, este pequeno abajur com o formato do nosso lindo farol e estes porta-copos com a bela vista do cais. Assim, o senhor nem precisaria sair de casa. Poderia ver a cidade toda da sua sala de jantar.

O homem parece confuso, talvez com o leve sarcasmo de Sina ou com a ideia de gastar tanto dinheiro.

— Eu só queria isto aqui, na verdade — diz, segurando guardanapos com a frase Um Martini, Dois Martinis, Três Martinis, Chão. — Pode colocar na minha conta no clube?

Depois que Sina efetua a venda e o homem sai, ela finge ficar vesga para mim.

— É o primeiro dia e já estou me arrependendo. Se toda essa história de beatificação de Stony Bay invadir meu cérebro e eu decidir entrar para o clube de jardinagem, você vai me mandar para a reabilitação, não vai?

— Estou do seu lado, irmã. Você viu a Joalin? Ela deveria chegar aqui dez minutos mais cedo para eu mostrar onde o uniforme fica e tudo o mais. Sina confere o relógio.

Minha Vida Mora do Outro Lado  -  NoanyOnde histórias criam vida. Descubra agora