Capítulo 32

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– Você não vai acreditar no que aconteceu comigo — diz Noah no instante em que atendo o celular, aproveitando o intervalo no clube.

Eu me afasto da janela para o caso de o Sr. Lennox resolver ignorar a placa de “Salva-vidas fora do posto” e sair correndo para me tirar meu primeiro ponto.

— Manda.

Ele baixa o tom de voz.

— Sabe a tranca que pus na porta do meu quarto? Bom, meu pai notou. Pelo visto. Então, hoje, quando eu estava estocando as prateleiras do setor de jardinagem, ele veio me perguntar por quê.

— Ih...

Chamo a atenção de uma criança que está entrando na hidromassagem (existe uma regra que proíbe menores de dezesseis anos) e balanço a cabeça, severa. Ela sai, cabisbaixa. Meu uniforme deve tê-la impressionado.

— Então eu expliquei que queria ter privacidade e que às vezes eu e você ficamos juntos lá e não queremos ser interrompidos dez milhões de vezes.

— Boa resposta.

— Pois é. Achei que tivesse acabado por aí. Mas, depois, ele disse que precisava que eu fosse até os fundos para conversar comigo.

— Ih de novo...

Noah começa a rir.

— Vou até lá, ele me faz sentar e me pergunta se estou sendo responsável. É... Com você.

Entrando na sombra dos arbustos, eu me afasto ainda mais de um possível olhar do Sr. Lennox.

— Ai, meu Deus.

— Digo que sim, que está tudo sob controle, tudo nos conformes. Mas fala sério! Não acredito que ele está me perguntando isso. Quero dizer, pelo amor de Deus, Any. Os meus pais? Fica difícil não saber dos fatos da vida naquela casa. Por isso digo a ele que estamos indo devagar e...

— Você contou isso a ele? — Meu Deus, Noah! Como vou olhar para a cara do Sr. Urrea agora? Socorro.

— Ele é meu pai, Any. Contei. Não que eu não quisesse fugir da conversa no mesmo instante, mas ainda assim...

— E o que aconteceu depois?

— Bom, lembrei a ele que aprendi tudo muito bem na escola, sem contar em casa, e que nós dois não somos irresponsáveis.

Fecho os olhos, tentando me imaginar tendo a mesma conversa com a minha mãe. Inconcebível. Sem trocadilhos.

— Aí... ele começou a falar... — a voz de Noah fica ainda mais baixinha — bom... sobre pensar em você e, hum... dar prazer aos dois.

— Ai, meus Deus! Eu teria morrido. O que você disse? — pergunto, querendo saber, apesar de estar completamente concentrada nessa possibilidade. Dar prazer aos dois, né? O que eu sei sobre isso? E se a Daniela, a ladra, sabia coisas que eu desconheço completamente? Não posso perguntar à minha mãe.

“Deputada sofre ataque cardíaco durante conversa com a filha.”

— Respondi “sim, senhor” muitas vezes. Ele não parava de falar e eu só conseguia pensar que a Joalin poderia entrar a qualquer minuto e ouvir meu pai dizendo coisas como: “Eu e sua mãe sempre... blá-blá-blá.”

Não consigo parar de rir.

— Ai, ele não fez isso. Ele não usou sua mãe como exemplo.

— Pois é! — Noah também está rindo. — Quero dizer... Você sabe que me dou bem com os meus pais, mas... Pelo amor de Deus.

Minha Vida Mora do Outro Lado  -  NoanyOnde histórias criam vida. Descubra agora