– Me deseje sorte no Chuck E. Cheese — suspira a Sra. Urrea enquanto deixa Noah e eu na loja de ferragens. — Aquela lanchonete é o inferno na Terra, só que com pizza e um enorme rato falante.
Hoje Joalin e Noah trabalham. Mas Joalin não apareceu para nos dar carona. A Sra. Urrea disse que não precisava que eu ficasse de babá porque Jaden foi convidado para uma festinha de aniversário no Chuck E. Cheese, e nos levou.
Como eu saí cedo do Breakfast Ahoy, estou folheando o guia preparatório para o vestibular que Sina me deu.
Noah começa a desembalar um carregamento de pregos. Não falamos nada sobre a ausência da Joalun, mas noto os olhos de Noah, sob os cílios negros espessos, passarem de vez em quando pelo relógio acima da porta, assim como fazem os meus. Não quero que Joalin pise na bola. Mas dez minutos passam, depois vinte, depois meia hora.
O Sr. Urrea vem lá dos fundos para nos cumprimentar. Ele dá um tapa nas costas de Noah e me beija na bochecha, dizendo que há café fresco no escritório.
Está enfiado lá, diz, fazendo a contabilidade. Noah assobia baixinho enquanto seleciona pregos e anota quantidades num bloquinho. Ouço um barulho repetitivo vindo do escritório do Sr. Urrea. Viro as páginas do guia tentando identificar o som.
Click-Click-Click-Click-Click.
Olho para Noah, sem entender.
— É a caneta — explica ele. — Meu pai diz que clicar nela sempre ajuda a somar ou, nesse caso, subtrair. — Ele abre uma caixa de pregos de cabeça arredondada e os deixa cair, fazendo barulho, na gaveta de plástico em frente a ele.
— O faturamento não melhorou?
Chego por trás de meu namorado para abraçá-lo e apoio o rosto nas costas dele. Noah está usando um moletom cinza e eu respiro fundo, sentindo seu cheiro.
— Pelo menos não piorou — responde com certo humor, se virando para me encarar e colocando a mão na minha nuca, finalmente sorrindo ao me puxar para mais perto.
— Tá com uma cara de cansado... — Traço a sombra azulada escura sob os olhos dele com o indicador, lentamente.
— É. Tô. Gostei disso que você está fazendo, Any.
— Ficando acordado até tarde, é? Pra fazer o quê?
— Estou é acordando muito cedo, mas, para ser sincero, nem parece que já é de manhã quando se acorda às quatro.
Os olhos dele ainda estão fechados. Passo o indicador pelo rosto de Noah e vou subindo de novo até o outro olho.
— Você está acordando às quatro? Por quê?
— Não ria.
Por que essa frase sempre me faz sorrir? Ele abre os olhos e sorri de volta para mim.
Faço meu rosto tomar uma expressão mais sóbria.— Não vou rir.
— Virei entregador de jornal.
— O quê?
— Do Sentinela de Stony Bay. Começo às quatro, seis dias por semana.
— Há quanto tempo está fazendo isso?
— Duas semanas. Não achei que seria tão ruim assim. A gente nunca vê entregadores de jornal enchendo a cara de Red Bull e tabletes de cafeína nos filmes.
— Provavelmente porque eles costumam ter uns dez anos. O Bailey não poderia fazer isso?
A mão dele se emaranha nos meus cabelos para tirar o elástico, porque é isso que ele sempre faz.
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Minha Vida Mora do Outro Lado - Noany
FanfictionSinopse: "Minha mãe nunca ficou sabendo de uma coisa, algo que ela reprovaria radicalmente: eu observava os Urrea's. O tempo todo." Os Urrea's são tudo que os Rolim não são. Barulhentos, caóticos e afetuosos. São de verdade. E, todos os dias, de seu...