Capítulo 5

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Quando chego em casa do trabalho, no dia seguinte, grudenta de suor por ter voltado caminhando no calor do verão, meus olhos se voltam imediatamente para a casa dos Urrea’s. O lugar parece estranhamente silencioso. Fico ali parada, olhando, e então vejo Noah na frente da garagem, deitado de costas, fazendo algum tipo de reparo numa possante motocicleta preta e prateada.

Quero deixar bem claro que não sou, de jeito nenhum, o tipo de garota que acha motos e jaquetas de couro atraentes. Nem um pouco. Dylan McLaggen, com suas blusas escuras de gola rulê e sua poesia sombria, foi o mais próximo de um “bad boy” de que já cheguei, e ele foi o bastante para me fazer querer fugir de todos para o resto da vida. Namoramos por praticamente toda a primavera, até eu perceber que ele não era um artista torturado mas sim a própria tortura.

Dito isso, sem planejar, ando até o fim do nosso quintal, passo pela cerca de “boa vizinhança” da minha mãe — a barricada de quase dois metros que ela instalou alguns meses depois que os Urrea’s se mudaram — e subo o caminho até a casa deles.

— Oi — digo. Começou bem, Any.

Noah ergue o corpo, se apoia nos cotovelos e olha para mim por um minuto sem dizer nada. O rosto dele forma uma expressão incompreensível, e eu desejo nunca ter decidido vir até aqui.
Então, ele declara:

— Imagino que isso seja um uniforme.

Droga. Esqueci que ainda estava usando isto. Olho para mim mesma, para a saia azul curta, a bufante blusa branca de marinheira e a gravatinha vermelho-vivo.

— Ã-hã. — Estou realmente envergonhada.

Ele faz que sim com a cabeça, depois abre um sorriso largo para mim.

— Não me pareceu algo que Any Gabrielly usaria. Onde você trabalha? — pergunta, antes de pigarrear. — E por que trabalha lá?

— No Breakfast Ahoy. Perto do píer. Gosto de me manter ocupada.

-- E o uniforme?

— Meu chefe desenhou.

Noah me analisa em silêncio por um ou dois minutos, depois afirma:

— Ele deve ter uma imaginação muito fértil.

Não sei como responder àquilo, por isso tento parecer indiferente como Diarra faria, e dou de ombros.

— Paga bem? — pergunta Noah, estendendo a mão para pegar uma chave inglesa.

— São as melhores gorjetas da cidade.

— Aposto que sim.

Não tenho a menor ideia de por que estou tendo esta conversa. Nem de como continuá-la. Ele está concentrado em desatarraxar ou desprender alguma coisa ou sei lá o termo que se usa. Então pergunto:

— Essa moto é sua?

— É do meu irmão, o Bailey. — Ele para de trabalhar e se senta, como se fosse falta de educação continuar, já que estamos realmente tendo uma conversa. — Ele gosta de cultivar uma imagem de bad boy. Prefere isso a ser o atleta, apesar de ser, na verdade, um atleta. Diz que arranja meninas mais inteligentes assim.

Faço que sim com a cabeça, como se soubesse disso.

— E consegue?

— Não sei. — A testa de Noah se enche de vincos. — Essa história de cultivar uma imagem sempre me pareceu coisa de gente falsa e manipuladora.

— Então você não segue um estilo? — Eu me sento no gramado ao lado da garagem.

— Não. Sou exatamente o que você está vendo. — Ele sorri para mim de novo.

Minha Vida Mora do Outro Lado  -  NoanyOnde histórias criam vida. Descubra agora