Para surpresa de todos, e provavelmente dele mesmo, Joalin se dá muito bem no diretório de campanha. Ela faz ligações para possíveis eleitores com vinte sotaques diferentes. Convence pessoas comuns que acreditam na minha mãe a escrever para jornais locais sobre como suas vidas mudaram porque a deputada Priscila Rolim cuida deles. Em duas semanas, ele até começa a escrever discursos curtos para ela. Mamãe e Luan não param de falar sobre isso.
— Aquela garota é um espetáculo! — exclama Luam enquanto vamos a mais um encontro com eleitores, onde fico parada ao lado de minha mãe, tentando parecer centrada e compreensiva. — Ela é inteligente e esperta. Sempre mantém os pés no chão.
[...]
— É. Tudo se resume a manipular as coisas... E as pessoas — concorda Joalin quando conto isso a ele.
Estamos parados na entrada da garagem dos Urrea's enquanto Noah conserta o Mustang. Estou sentada no capô, sobre um cobertor — Noah, meio envergonhado, insistiu em cobrir o carro, dizendo que não queria que a base da tinta fosse arranhada. Está brigando com algum problema na fiação.
— Quem poderia imaginar que anos de mentiras e embromações poderiam ser tão úteis? — completa Joalin.
— Você não se incomoda com isso? — pergunta Noah. — Any, pode me passar a chave inglesa? Só Deus sabe o que o antigo dono do carro fazia. Batia pega? A embreagem foi pro saco... e o câmbio fica fazendo um barulho irritante, apesar de estar funcionando. Além disso, todas as juntas homocinéticas estão soltas.
— Pode falar na nossa língua, cara? — pede Joalin enquanto entrego a chave inglesa a Noah. Ele está sob o carro, ralando, e sinto uma vontade imensa de beijar a trilha de suor que desce da sua garganta. Estou fora de controle.
— Alguém não cuidou desse carro como ele merece — responde Noah. — Mas você... Foi mal, Any... Você não acredita em nada que a Priscila defende, Joalin. Nem é republicana. Não se sente mal ajudando na campanha dela?
— Claro — afirma Joalin com naturalidade. — Mas quando foi que não me senti mal? Não tem nada de novo aí.
Noah sai de baixo do Mustang e se estica lentamente.
— E tudo bem com isso? Não sei como.
Joalin dá de ombros.
Noah passa a mão pelos cabelos, como sempre faz quando está confuso ou hesitante.
— Bom, a Sina foi para Nova York com a namorada este fim de semana — murmura Joalin.
Levo um susto. Não sabia que Sina ia viajar com Heyoon.
— Para mim, ela é uma idiota metida que só vai acabar machucando a Sina. Mas tentei impedir minha irmã? Não. Já fiz várias burradas. É hora da Sina fazer também.
Os dedos de Noah se fecham, pegando algo na caixa de ferramentas. Ele escorrega para baixo do carro de novo.
— Vai se sentir melhor se ela estiver infeliz?
— Talvez. — Joalin pega o refrigerante que está ao lado dele há meia hora. — Pelo menos, não vou ser o único.
[...]
— Any, você está corcunda. Endireite as costas e sorria — sussurra minha mãe.
Estou ao lado dela na reunião das Filhas da Revolução Americana, apertando mãos. Estamos aqui há uma hora e meia e eu já disse: “Por favor, votem na minha mãe. Ela se preocupa muito com o estado de Connecticut” mais ou menos umas quinze milhões de vezes. E ela se preocupa mesmo. Pelo menos isso é verdade. Percebo que, a cada evento, me sinto cada vez pior, mais culpada, em relação ao que ela se preocupa.
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Minha Vida Mora do Outro Lado - Noany
FanfictionSinopse: "Minha mãe nunca ficou sabendo de uma coisa, algo que ela reprovaria radicalmente: eu observava os Urrea's. O tempo todo." Os Urrea's são tudo que os Rolim não são. Barulhentos, caóticos e afetuosos. São de verdade. E, todos os dias, de seu...