Capítulo 22

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Quando chego ao clube — uma hora antes do meu horário — no dia seguinte, vou direto para a piscina. Sinto o aroma do cloro, depois me concentro no movimento regular das minhas braçadas. Meu ritmo está voltando ao normal.

Nadar sem parar, virar sem parar, braçadas rápidas, descansar, respirar para a direita, respirar para a esquerda, respirar a cada três braçadas. E o tempo também. Todo o resto desaparece. Quarenta e cinco minutos depois, sacudo meus cabelos, faço pressão nos ouvidos com a mão para tirar a água e vou até a Buys by the Bay encontrar a Sina.

Que ainda não respondeu a nenhuma das minhas mensagens. Estou imaginando o pior. Os pais dela nos ouviram, desceram, e Joalin já está a caminho de uma escola hardcore no Meio-Oeste, onde vai ter que picaretar granito e acabará levando um tiro de uma instrutora enlouquecida.

Mas então Sina não estaria separando aventais calmamente no canto da loja, estaria? Talvez estivesse. Assim como minha mãe, minha melhor amiga, às vezes, prefere organizar as coisas do que encarar a realidade.

— Como está a Joalin?

Sina se vira, apoia os cotovelos no balcão e olha para mim.

— Ela está bem. Vamos conversar sobre o que realmente importa e que não era importante o bastante para me contar. Por quê?

— O que não era importante...?

Sina empalidece. Está irritada comigo? Por quê? Então entendo. Abaixo a cabeça e sinto o sangue subir pelo pescoço.

— Você não achou importante mencionar que estava namorando? Nem que ele é, tipo, absurdamente lindo? Any, eu sou a sua melhor amiga. Você sabe tudo sobre mim e a Heyoon. Tudo.

Meu estômago fica embrulhado. Não contei nada a Sina sobre o Noah. Nada.

Por que não? Fecho os olhos e, por um segundo, sinto os braços dele em volta de mim. É uma coisa tão boa. Por que não contaria a Sina? Ela dobra um avental que diz, A vida é uma onda. Basta surfar nela, de qualquer jeito e o põe sobre os outros.

— Você é minha melhor amiga. E obviamente não conheceu esse cara ontem. O que está havendo?

— Não faz tanto tempo assim. Um mês. Talvez um pouco menos. — Sinto meu rosto ficar quente. — Eu só... achei... Não queria... Minha mãe sempre fala tão mal dos Urrea's... Eu me acostumei a guardar segredo.

— Sua mãe sempre fala mal de todo mundo. Isso nunca impediu você de me contar sobre o Vítor. Por que esse cara é diferente? Espera aí... os Urrea's? Você está falando dos seus vizinhos que se multiplicam feito coelhos? — Quando faço que sim com a cabeça, ela diz: — Uau. Como você conheceu um deles?

Então conto toda a história a Sina. Tudo sobre Noah, este verão, sobre quase ter ficado de castigo e ele ter subido até meu quarto. E todas as estrelas.

— Ele sobe até a sua janela? — Sina põe um dedo sobre a boca. — Sua mãe ia surtar se soubesse disso! Você sabe, né? Ela te internava num manicômio se soubesse que isso está acontecendo. — Agora ela parece menos irritada e mais impressionada.

— É verdade — concordo quando a sineta da porta toca, anunciando a chegada de uma mulher com uma saída de praia fúcsia, um enorme chapéu de palha e uma expressão determinada.

— Vim aqui no outro dia — diz ela, naquele tom levemente alto demais que as pessoas às vezes usam com vendedores —, e vi umas camisetas lindas. Voltei para comprar.

Sina estica a coluna e seu rosto adquire uma expressão imparcial.

— Temos muitas camisetas lindas.

— Essas tinham umas frases — explica a mulher, desafiadora.

— Temos várias dessas — repete Sina, endireitando os ombros.

Stony Bay... não é qualquer cidade — cita a mulher. — Mas no lugar do "não" tem...

— Um nó de marinheiro — interrompe Sina. — Estão naquele canto, perto da janela.

Ela aponta para trás com o polegar e se vira para mim. A mulher faz uma pausa, depois vai até a pilha de camisetas.

— E esse relacionamento misterioso é sério, Hermione? Ele parece... Sei lá... Mais velho que a gente. Como se soubesse o que está fazendo. Você e ele já...?

— Não! Não, isso eu teria te contado — respondo. Será?

— Ganho desconto se comprar uma para cada tripulante do nosso cruzeiro? — pergunta a mulher.

— Não — responde Sina, seca. Ela se inclina para mim. — A Heyoon e eu andamos conversando sobre isso. Muito, nos últimos tempos.

Tenho que admitir que isso me surpreende. Heyoon é tão séria que é difícil lembrar que também é uma garota de dezoito anos. É claro que ela e Sina vão falar sobre sexo depois desse tempo todo. Lembro-me de Heyoon, de uniforme escolar, mediando a equipe de debates da escola e dizendo, de maneira controlada: "Os que são a favor vão falar primeiro e depois os que são contra terão o mesmo espaço de tempo para a réplica."

— A Joalin acha que eu sou uma idiota. — Sina pressiona o dedo contra a cera de uma vela com a forma do farol de Stony Bay. — Ela diz que a Heyoon é uma retardada e vai ser ruim de cama.

Joalin!

— O que aconteceu com ela? Seus pais ficaram sabendo?

Sina balança a cabeça.

— Não. Ela teve sorte. Ou melhor, ela já está pronta pra outra graças ao seu namorado surpresa e à irmã assustadora dele. Minha mãe e meu pai não ouviram nada. Fui até o porão antes de sair e joguei o balde de vômito fora. Só disse para minha mãe que ela ficou acordado até tarde e estava cansado.

— Sininho, a Sabina talvez esteja certa sobre não esconder essa história. Ontem foi...

Ela faz que sim com a cabeça, respira fundo rapidamente e rói a unha do polegar.

— Eu sei. Eu sei. Um horror. Mas mandar minha irmã para um colégio interno? Não sei como isso pode ajudar.

A mulher volta para o caixa, os braços cheios de camisetas, todas rosa.
Sina se vira para ela com um sorriso alegre e profissional.

— Posso dobrar tudo para a senhora. Quer que ponha na sua conta no clube ou quer pagar separadamente?

Fico por ali até que o relógio me avisa que é hora de trabalhar. Sina não diz mais nada até o momento em que estou indo embora, quando então ela para de trocar o rolo de papel da caixa registradora e fala:

— Any, você tem o que toda garota quer.

— Você tem a Heyoon — afirmo.

— Claro. Mas você tem tudo. Como sempre consegue o que quer? — A voz dela tem um tom levemente amargo.

Penso na Sina que sempre tem que fazer os trabalhos de casa opcionais em todas as matérias. Que tem que me dizer que tirou uma nota melhor que a minha.

Que tem que comentar que uma calça que fica boa em mim seria "grande demais" para ela. Eu nunca quis competir, só ser sua amiga, a pessoa que ela não precisa superar. Mas, às vezes — como agora —, eu me pergunto se, para Sina, isso existe.

— Não faço nada de mais, Sina. — A sineta toca quando outro cliente entra.

— Talvez não faça mesmo. — A voz dela demonstra cansaço. — Talvez nem tente. Mas tudo funciona para você mesmo assim, não é?

Ela se vira antes de eu conseguir responder. Se é que havia uma resposta.

Minha Vida Mora do Outro Lado  -  NoanyOnde histórias criam vida. Descubra agora