Capítulo 24

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Horas mais tarde, estou deitada em minha cama, encarando o teto, depois de sair do banho, usando uma camisola que tenho desde os oito anos. Ela costumava ser romanticamente longa; hoje, fica apertada nas coxas.

Minha mãe finalmente admitiu estar exausta e foi dormir no seu quarto. Pela primeira vez, me pego pensando se Luan já passou a noite aqui. Eu nem saberia se tivesse. O quarto dela fica do outro lado da casa e tem uma escada que dá para o quintal. Eca, não pense nisso.

Ouço uma batida na minha janela e, ao olhar, vejo uma mão apoiada no vidro. Noah. Vê-lo é como ter a sensação de que estava sufocando e que finalmente encontrei o ar. Vou até lá, ponho a mão contra a dele, depois abro a janela.

— Oi. Posso entrar?

Ele entra com a maior facilidade, plantando as pernas no chão firmemente enquanto passa o corpo com cuidado por baixo da vidraça, como se já tivesse feito isso mil vezes. Então olha em volta e sorri para mim.

— Está arrumadinho demais, Any! Tenho que fazer isso.

Noah tira um dos tênis e joga na direção da minha escrivaninha, depois tira o outro e o joga, com cuidado e sem fazer barulho, perto da porta. Então, uma meia é atirada na minha cômoda e a outra, na estante.

— Não para, não. — Pego a camiseta dele, a arranco e a jogo do outro lado do quarto. Ela fica pendurada na cadeira da minha escrivaninha.

Quando chego mais perto, Noah segura meu braço.

— Any.

— Hummmm — respondo, distraída com a linha fina de pelos que circunda o umbigo dele e desce para dentro da calça.

— Eu deveria ficar preocupado?

Olho para ele, meus pensamentos confusos.

— Com o quê?

— Com o fato de, pelo visto, você ser a única menina do planeta que não conta tudo para a melhor amiga no exato instante em que acontece. Eu tenho irmãs, Any. Achei que isso fosse uma regra: a melhor amiga sabe de tudo. A sua nem sabia que eu existia.

— A Sina? — pergunto, rápido, então percebo que não sei o que dizer. — É meio complicado com ela. Está com um monte de coisas na cabeça... Eu só achei que... — Dou de ombros.

— Você estava preocupada com ela? — indaga Noah, se afastando de mim e se sentando na cama. — Não com vergonha?

Sinto o ar fugir dos pulmões e tenho dificuldade de respirar.

— De você? Não. Não. Nunca. Eu só... — Mordo o lábio.

Os olhos dele analisam meu rosto.

— Não estou tentando pressionar você. Só quero entender a situação. Você é... sei lá... "a filha da deputada." Eu... bom... sou "um daqueles Urrea's", como o pai da Daniela dizia.

Ele pronuncia a frase como se tivesse aspas e eu não aguento. Sento-me na cama e ponho uma mão no rosto dele.

— Eu sou apenas eu — digo. — Estou feliz por você estar aqui.

Noah estuda meu rosto, depois pega minha mão e me puxa. Ele me abraça cuidadosamente, fazendo com que minha cabeça repouse no seu braço e a sua cabeça deite no meu ombro. Seus dedos passam lentamente pelos meus cabelos.

O paradoxo é que, apesar de eu estar, ao mesmo tempo, consciente do calor do seu peito nas minhas costas e dos músculos sob o short que cobrem as pernas entrelaçadas às minhas, me sinto tão segura e confortável que caio quase imediatamente no sono.

Minha Vida Mora do Outro Lado  -  NoanyOnde histórias criam vida. Descubra agora