Capítulo 19

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–Tenho uma surpresa. — Noah abre a porta da van para mim dois dias depois.

Não vejo Joalin nem Sina desde o incidente no clube e estou feliz por poder tirar uma folga de todo aquele drama.

Entro na van e meus tênis amassam uma pilha de revistas, um copo de café da Dunkin’ Donuts vazio, várias garrafas de Gatorade e água mineral e muitas embalagens não identificáveis de comida. Pelo visto, Sabina e seu fusca ainda estão no trabalho.

— Uma surpresa para mim? — pergunto, intrigada.

— Bom, é para mim, mas para você também. Mais ou menos. Na verdade, é uma coisa que quero que você veja.

Isso me deixa um pouco nervosa.

— É uma parte do corpo?

Noah revira os olhos.

— Não. Pelo amor de Deus. Espero ser menos sem noção do que isso.

Dou uma risada.

— Está bem. Só queria ter certeza. Vai, mostra.

Viajamos até Maplewood, a duas cidades daqui, um vilarejo mais acabado do que Stony Bay. Noah estaciona a van diante de uma loja com uma enorme placa que diz: “Seminovos do Bob Francês”.

— Bob Francês?

— O Bob infelizmente acha que colocar “francês” no nome faz ficar mais chique.

— Entendi. Então você seria o Noah Francês?
— Oui, oui. Vem. Quero que me diga o que acha dessa belezura.
Belezura?

Ele pega minha mão depois que saímos do carro e me leva até o estacionamento dos fundos. É um pátio lotado de veículos antigos, em vários estados de degradação, com grandes letras brancas pintadas nos para-brisas.

Observo as letras e percebo que todas as frases dizem coisas como: “UMA PECHINCHA POR US$ 3.999”, “NÃO SE FAZEM MAIS CARROS COMO ESTE” ou “RUGE COMO UM TIGRE”.

Paramos em frente a um carro branco acinzentado com um enorme capô e um interior minúsculo. O para-brisa diz: “ESTA BELEZURA PODE SER SUA POR UMA BAGATELA.”

— Bagatela significa, é claro, mil e quinhentos dólares — diz Noah. — Mas ele não é lindo?

Não entendo nada de carros, mas os olhos dele estão brilhando, então respondo, entusiasmada.

— É maravilhoso.

Ele ri.

— Eu sei, não está, mas vai ficar. É um Mustang 73. Imagina esse carro bem pintado. Com bancos novos, volante de couro e...

— Dados pendurados no retrovisor? — pergunto, desconfiada. — Vermelho Ferrari? Bancos de pele de leopardo?

Noah balança a cabeça.

— Quem você acha que eu sou, Any? De jeito nenhum. Verde--musgo, é claro. E nada de dados. E, antes que pergunte, também não vou colocar bonecas havaianas.

— Nesse caso... adorei.

Ele sorri.

— Ótimo. Tenho certeza de que posso fazer esse carro funcionar de novo e é um conversível... e eu só queria saber se você... ia gostar dele porque... Só queria ter certeza disso. — Ele bate no capô, inclinando um pouco a cabeça. — Faz quatro anos que estou juntando dinheiro para comprar um carro. Deveria deixar para a faculdade, eu sei — afirma, como se esperasse que eu fosse dar uma bronca nele sobre responsabilidade financeira. — Mas a Sabina está usando o fusca direto. Pelo visto, a Lary dirige muito mal. E você e eu não podemos ficar nos encontrando no telhado. Além disso, é um ótimo negócio.

Minha Vida Mora do Outro Lado  -  NoanyOnde histórias criam vida. Descubra agora