Capítulo 23

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Pego um copo de limonada depois do trabalho e estou tirando o ridículo maiô do clube no meio da cozinha quando a campainha toca. Até o toque da nossa campainha mudou desde o início do verão. Agora temos uma que enche a casa com as primeiras notas de cerca de vinte músicas diferentes, desde "Take Me Out to the Ball Game" até "Zip-a-Dee-Doo-Dah". Nas últimas duas semanas, minha mãe a programou para tocar a abertura de "It' s a Grand Old Flag". É sério, não estou brincando.

Pego uma regata e um short na lavanderia e os visto rapidamente, depois olho pelo vidro jateado. Sina e Joalin estão na porta. Que estranho. Quinta e sexta são as noites em que a Sina sai com a Heyoon. E a minha casa não é o lugar preferido da Joalin. Não é nem o meu lugar preferido.

— Quer conhecer a palavra de Deus? — pergunta Joalin quando abro a porta. — Porque eu fui salvo e gostaria de passar a boa nova para você. Por mil dólares e três horas do seu tempo. Brincadeira. Podemos entrar, Any?

Assim que entram na cozinha, Sina vai até a geladeira para se servir da limonada da minha mãe. Depois de todos esses anos, ela sabe exatamente onde ficam os cubos de gelo especiais, com hortelã e casca de limão siciliano. Sina serve um copo para Joalin e ela aceita, franzindo a testa para os cubos cheios de pontinhos amarelos e verdes.

— Tem tequila aí? É brincadeira de novo. KKKKKK.

Ela está envergonhado. Faz muito tempo que não vejo na Joalin algo além de uma indiferença entediada, uma apatia chapada ou um desprezo drogada.

— A Joalin queria pedir desculpas por ontem à noite — começa Sina, mastigando um cubo de gelo.

— Na ver-da-de, foi a Sina que quis que eu viesse pedir desculpas — esclarece Joalin, mas olha diretamente para mim. — Queria pedir desculpas e dizer que estou envergonhada pra caralho. Foi uma idiotice sem tamanho e eu acharia que qualquer pessoa que fizesse isso com a minha irmã ou com você é uma retardada incurável, o que, é claro, leva à óbvia conclusão de que indubitavelmente eu sou uma. — Ela balança a cabeça, toma um gole de limonada. — Mas note que só usei palavras impressionantes, dignas da redação do vestibular. Que merda que eu fui expulsa do internato, né?

Há quanto tempo não vejo Joalin pedir desculpas? Sua cabeça está baixa, no meio dos seus braços dobrados, e ela respira fundo, como se tivesse corrido quilômetros ou como se aquilo tudo exigisse mais oxigênio do que o simples ato de respirar. Até os olhos dela estão úmidos, estivesse como se suando. Parece tão perdida que olhar para ele dói. Espio a Sina, mas ela está terminando a limonada, o rosto impassível.

— Obrigada, Joalin. Todos nós sobrevivemos. Mas você anda me assustando. Como você está?

— Bem, tirando o fato de ser a mesma idiota que eu era ontem, mas um pouco mais careta, estou bem. E você? Que papo é esse de você e Noah Urrea estarem juntos? Ele chegou mais longe que o meu amigo Vítor? Porque o Vítor ficou frustrado. E mais importante: qual é a da irmã gostosa do Noah?

— A irmã gostosa dele tem uma namorado que joga futebol americano e pesa oitenta quilos — respondo, evitando a pergunta sobre Noah.

— Claro — afirma Joalin, com um sorriso irônico. — E provavelmente ele também dá aulas na igreja aos domingos.

— Não. Mas acho que ele pode ser mórmon. — Sorrio de volta. — Mas não se preocupe. Eles estão juntos há um mês e, pelo que o Noah me contou, esse costuma ser o limite da Sabina.

— Opa, a esperança é a última que morre. — Joalin esvazia o copo e o põe na bancada. — Você tem alguma cenoura, aipo ou maçã? Tudo na nossa geladeira está misturado com alguma merda.

— É verdade — concorda Sina. — Mordi uma ameixa que parecia normal hoje de tarde e tinha algum recheio estranho de gorgonzola. É aquele negócio da TV que a mamãe comprou.

Minha Vida Mora do Outro Lado  -  NoanyOnde histórias criam vida. Descubra agora