Capítulo 3

274 30 0
                                    

Juliana

Acordei no dia seguinte com disposição, fiz minha higiene, coloquei uma roupa para passar o dia e encontrei com o pessoal da república. Alguns animados, outros nem tanto pareciam almas que existiam sem vida nenhuma. Após algumas horas os rapazes foram fazer as compras para o social da noite, enquanto as garotas ficaram decorando, preparando os petiscos, organizando a parte chata que eles jamais conseguiriam entender.

Tudo pronto, fomos nos arrumar para aquela pequena festa que de tanta bebida e comida podia acreditar que de pequena ela não teria nada. Enfim, passei alguns minutos tentando achar uma roupa, não para chamar atenção porque nunca fui disso, mas pelo motivo mais óbvio, a minha pessoa não havia trazido nada que a levasse em uma festa. Por fim, encontrei uma roupa confortável e bacana para usar, dei-me conta de que havia retirado basicamente tudo de dentro da mala, minhas coisas estavam literalmente espalhadas por todo o quarto, uma verdadeira bagunça.

A combinação ficou perfeita, um short preto em alfaiataria, uma cropped sem manga e uma sandália gladiadora. Assim pronta segui para a sala ao qual havia muito mais pessoas que pudesse contar e o mais importante, não sabia quem eram, salvando apenas a turma da república que estava me familiarizando, porque ainda os consideravam pessoas estranhas apesar de ter conhecido um pouco deles. A verdade seja dita me sentia um peixe fora d'água, não somente por estar em um ambiente lotado de pessoas desconhecidas, mas por simplesmente não curtir essas coisas, bebidas, musica alta e agitação.

Segui até a varanda tentando fugir de todos a minha volta. O vento soprava, a brisa do mar alcançava as minhas narinas, aquele barulho das ondas me traziam a melhor sensação em estar no Brasil, apesar da música alta invadir os meus ouvidos, a paz e tranquilidade de não ter que falar com pessoas estranhas declarava ser o meu lugar preferido. Sem ninguém, pelo menos alguns segundos sem ninguém.

– CLOE??? – gritou Rachell vindo ao meu encontro. – Trás uma das batidas para a Juh!

– Não precisa! – falei.

Cloe veio em minha direção com um drink em sua mão.

– Vai adorar essa! – sorriu.

– Não, obrigada! – encarei a mão de Cloe estendida em minha direção com uma bebida.

– Ah vai, é apenas uma bebida inofensiva! – minha futura cunhada me olhou com uma expressão divertida.

– Não adianta fazer essa cara. Acredite, é recíproco, elas não gostam de mim e vice versa! – sorri tentando convencê-las.

Elas nunca entenderiam. Como poderiam? Ambas não sabiam literalmente nada sobre minha vida. E uma das coisas ao qual me levaram a ser caseira além de puxar para a minha mãe foi uma situação aterrorizante que passei em um dos primeiros dias de faculdade. Era festa da calourada, muita gente circulando, estava com as minhas novas amigas e inconsequentemente bebemos tudo que nos ofereciam.

Nem sei em que momento tomei aquela bebida forte, apenas acordei jogada em um corredor de hotel. Nada depois de ter pegado um copo de um dos veteranos, minha memória havia sido apagada e naquela darda situação somente acusava a bebida. Precisei ligar para os meus pais, quando foram me buscar ainda tiveram que pagar os gastos do quarto que nem mesmo sabia o que tinha feito naquele lugar. Apenas me senti um caco, com a cara largada no chão, uma enorme frustração me alcançou devastando a minha inocência para fora de mim. A partir daquele dia vi a menina sumir.

Minha mãe fez questão em me levar ao hospital, não tirava sua razão, afinal, não me lembrava sequer de nada após aquela maldita bebida. No entanto, a preocupação de uma mãe vai além do que pensamos, ela queria mesmo saber se me encontrava com saúde mental e física. Quando fiz o exame de sangue para checar os níveis de álcool, ele identificou uma substância ao qual chamavam de "Boa Noite Cinderela". Meus pais saíram de si, e vê-los em pleno desespero me fez jurar a mim mesma que jamais tomaria bebida alcoólica alguma.

República do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora