Perdido no Tempo

Capítulo 24

Uma fábrica de horrores, talvez alguns descrevessem. Muitos homens presos em celas, recebendo alimentação básica, todos vestidos com uniformes brancos e de cabeças raspadas. Mas alguns recebiam uma alimentação especial. Eram os experimentos. Aqueles homens estavam sendo sujeitos a todo tipo de experiência.

― E nenhum familiar procura por eles? – Scott quis saber.

― O Sistema elimina qualquer arquivo e documentação referente a eles. É como se não mais existissem. –contou Eric, tranquilo.

― E o governo sabe disso?

Eric deu mais um de seus sorrisos que nunca chegavam ao olhar.

― Acredite, para o governo, é uma excelente solução se ver livre desse excedente. Existem presos de outros países. Eu não posso dizer quais, mas eles ficaram felizes em colaborar.

Scott ficou pensativo. Então era como Brandon relatara. O Sistema estava inserido nos mais altos escalões governamentais. Certamente também recebiam uma boa colaboração financeira para descartar os criminosos indesejados. E isso nunca chegara aos ouvidos da mídia, o que significava que era uma trama bem planejada e intricada. Talvez Eric Russeau nem fosse o cabeça de tudo. Ele não lhe parecia tão poderoso assim. Eric era mais um pau mandado que acreditava cegamente no Sistema assim como Wesley Mackenzie. Eram peões naquele jogo.

― Há interesses maiores em tudo isso, não é? – Scott perguntou.

― E quando não há? – Eric respondeu. – O Sistema não é apenas mais um projeto para ajudar na infraestrutura, na área social e política das cidades. É algo mais amplo. É algo para o bem maior.

Continuaram caminhando pelos corredores imaculadamente brancos do local. Scott não sabia onde estava. Era o estado de Nevada ainda, mas não tinha a mínima ideia da localização exata. Scott estava pensativo. Como previra, nem mesmo a viagem temporal de Brandon evitaria que o Sistema existisse, porque ele já estava inserido nos altos escalões. O máximo que Brandon poderia fazer era evitar que a realidade de 2035 fosse tão cruel, ou seja, amenizar os efeitos do Sistema, mas não eliminá-lo de vez. Scott suspirou. Eric parou diante de uma ala e apontou.

― Nossa colaboração para com a genética. – anunciou.

Scott viu mulheres presas em um pavilhão. Uma delas foi levada até uma poltrona reclinável em uma sala onde tudo parecia ser esterilizado. Médicos e enfermeiras colocaram a mulher deitada na poltrona. A mulher usava o mesmo uniforme branco dos presos masculinos. Uma injeção foi aplicada em seu braço, fazendo com que ela adormecesse; seus pulsos e tornozelos foram presos; foi colocado um enorme pano branco sobre ela. Scott olhou para Eric, enquanto os médicos trabalhavam.

― Esterilização. Após o segundo filho, todas as mulheres se tornarão inférteis. Controle populacional. Como sabe, a previsão é que em poucos anos, os recursos naturais do planeta comecem a se tornar escassos. É bom que, especialmente os mais pobres, se conscientizem da necessidade de um menor numero de filhos na família. Você sabe como pobre tem mania de procriar. – Eric disse com menosprezo. – Isso serve também para os estrangeiros que vierem morar em nosso país. Não precisamos de mais explosões demográficas.

― Mas e se a mulher ainda quiser ter filhos?

― Serão feitas campanhas para conscientizar a população. Aos poucos, todos aprendem. Só em casos especiais, o Sistema permitirá três filhos em uma mesma família. Estamos pensando no bem de todos.

A operação terminou e a mulher, ainda inconsciente, foi levada para outra ala, onde ficaria sob observação.

― Brevemente aboliremos essas cirurgias. Serão fabricadas pílulas eficazes que esterilizarão o sexo feminino. E é um processo mais indolor. Há alguns efeitos colaterais, mas de acordo com o avanço dos testes, isso também diminuirá.