Capítulo 12

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    Simone e Philip caminhavam pela calçada de um edifício antigo, eles estavam calados e com um olhar vago. Simone não olhava para seu filho e Philip percebeu que tinha acontecido algo, ele viu que o rosto da sua mãe estava manchado com uma tinta preta e que ela estava segurando o choro:

- Aconteceu algo?

   Simone não respondeu e continuou andando e limpou o rímel que tinha borrado. Philip sentiu uma vontade de chorar, parecia que todos os seus sentimentos tinham se unidos naquele instante: tristeza; raiva; amor; saudade e decepção. Simone percebeu que Philip não estava bem, mas ela não tinha coragem de perguntar o que estava acontecendo, pois, enquanto Philip se consultava com a Dra. Carla, ela reconheceu que o motivo daquilo estar acontecendo era ela. Simone não tinha sido uma boa mãe e naquele dia tinha aceitado que houve uma falha materna, pensou bem e chegou à conclusão de que seria melhor conversar com Philip e dizer a verdade.

   Em uma lanchonete, perto do ponto onde iriam pegar o ônibus, havia uma placa dizendo que os donuts estavam em promoção, um copo de café expresso com dois donuts por R$ 14,35. Eles se olharam e pareciam entender o que o outro queria, atravessaram a rua sem dizer uma palavra, sentaram em um sofá booth azul e pediram a promoção. Simone então começou a dizer:

- Phil, precisamos conversar, tenho que te dizer a verdade sobre tudo.

- Pode dizer, estou ouvindo!

 Ela então fixou os olhos nas mãos de Philip e começou a chorar, Philip não demonstrou nenhum sentimento, ele parecia saber o motivo daquele choro e esperava ela dizer, mas a verdade é que ele estava com o pensamento longe, ele usava isso como porta de escape, e nem se quer olhou para a sua mãe.

- Me perdoa, eu deveria ter sido uma mãe melhor. Eu estou arrependida.

- Do que a senhora está falando?

- Eu tenho alguns traumas, e deixei que isso me fizesse uma pessoa ruim. Eu não tive um bom relacionamento como meus pais, minha mãe não ligava para mim e meu pai me espancava por coisas fúteis, eles tinham um péssimo caráter e deixei que os erros deles influenciassem no meu.

- Onde a senhora quer chegar?

- Eu tinha desistido de tudo, para mim, as pessoas não eram confiáveis. Meu tio me estuprava, meus avós não gostavam de mim e meu pai... defendia o tio Paulo. No baile de inverno passei pelo pior momento do colegial, Robert me envergonhou na frente de todos.

- O meu pai fez isso?

- Sim! durante muito tempo eu quis mata-lo, mas ele se redimiu e conseguiu me reconquistar.  Nós tínhamos tantos planos, eu estava voltando a ter alegria, mas não queria ter filhos, eu tinha medo de ser como minha mãe e de deixar acontecer com minha filha o mesmo que aconteceu comigo. Casamos, meus pais faleceram e o tio Paulo ficou doente, Robert sugeriu interná-lo, mas eu queria ver aquele homem morrendo sozinho e sentindo toda dor possível, e foi exatamente o que aconteceu.

- Deixou ele morrer?

- Sim!

 - Mas parece que os céus me castigaram, seu pai e eu sofremos um acidente e eu estava grávida, perdi o bebê e seu pai ficou em estado grave. Ficamos 6 meses no hospital e eu tinha esperança que o Bob iria ficar bem, ele sempre dava um jeito em tudo, mas infelizmente, o amor da minha vida, me deixou.

 Simone não conseguia parar de chorar. A garçonete veio até a mesa e perguntou se estava tudo bem e se tinha algo que ela podia fazer parar ajudar, mas Philip balançou a cabeça negando a ajuda e pediu que sua mãe tentasse se acalmar, mas Simone não conseguia parar de chorar, então ele levantou, pegou sua mãe e foi para o ponto. Quando chegaram em casa, Philip sabia que sua mãe não estava nada bem e a deixou sozinha, ele estava tentando entender o que ela quis dizer quando falou em "dizer a verdade sobre tudo", era tudo muito confuso, mas o melhor naquele momento era deixá-la sozinha e encerrar o assunto.

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