Capítulo 10

23 3 0
                                    

  Depois do trágico dia no baile de inverno, Simone decidiu afastar-se complemente de qualquer pessoa. Ela tinha perdido a fé na humanidade e repetia para si:

- Pessoas são más. Pessoas me fazem sofrer.

Ela achava que sua sina era sofrer.
  Seus pais, seu tio, seus avós, o amigo e todo o resto do colégio contribuíram para esse pensamento depressivo.
  Simone não conseguia entender o real motivo de tanto sofrimento, parecia que só ela passava por isso e ninguém conseguia entendê-la. Ela tinha desistido até de ir ao colégio. A diretoria acionou a assistência social e os psicólogos, eles pareciam realmente preocupados e perceberam que algo muito sério estava acontecendo com Simone. Foram até a casa dela várias vezes, todas as tentativas de conversar com ela eram frustradas. Simone se manteve irredutível e fechada e foi assim até sua idade adulta, sozinha.

  Tudo isso passou por sua cabeça quando pensou em perder o filho. Ela acreditava que era melhor manter o seu passado e a verdade sobre o pai de Phil em segredo, contar a verdade seria o mesmo que reviver cada momento trágico e terrível, mas essa era apenas a versão dela, pois seu filho enxergava a situação de outro jeito.

- Mãe... o que está acontecendo?

- Nada filho!

 Será que os filhos realmente conhecem seus pais? Philip sabia que sua mãe escondia algo e que aquilo lhe causava sofrimento, mas ele tinha perdido a vontade de tentar conversar com a própria mãe, tinha se tornado um filho negligente e desinteressado, mas sabia que naquele momento sua mãe sentia uma dor profunda; era capaz de ver isso pelo olhar vazio e pela expressão de dor que ela fazia. Então, depois de 9 anos e meio, o filho ábdito tenta se reaproximar da mãe.

-Mãe! a senhora vem agindo estranho ultimamente...

- Impressão sua.

- Sabe... eu não gosto muito de conversar sobre meus sentimentos, a senhora sabe disso... mas sou um excelente ouvinte. Eu não posso resolver seus problemas e muito menos fazer com que a senhora sinta-se melhor, acho que ninguém pode, mas se quiser dizer o que está te causando esse olhar e essas expressões bizarras... sério mãe, a senhora está com uma cara horrível!!! se quiser dizer o que há de errado, prometo não contar para ninguém.

- Está tudo bem, filho!

- É óbvio que não está nada bem.

- Está sim filho, não se preocupe.

- Sabe mãe, eu sei o quanto dói pedir ajuda. sofremos tanto, passamos os piores momentos sozinhos, sei o que é sofrimento. Eu não falo sobre o que sinto para ninguém porque as pessoas não ligam, elas dizem que sempre estarão do nosso lado, nos fazem pensar que somos importantes... algumas até se declaram, dizem nos conhecer muito bem, mas quando realmente precisamos de ajuda elas viram as costas. Quando eu era mais novo sempre tentei ser um filho bom, mas a senhora parecia não gostar de mim, te dava flores e a senhora jogava fora só porque aquilo fazia lembrar do meu pai; eu tento entender a sua dor, ele era seu marido, mas eu sou seu filho. A senhora lembra do dia que cheguei da escola e te vi chorando na cozinha? eu te abracei e disse que te amava, me viu usando o relógio do meu pai e disse que eu era um erro. Eu sofria bullying na escola e a senhora nunca foi até lá...

   Antes que Philip terminasse o seu discurso ofensivo e deprimente, sua mãe o interrompeu, ela tinha o hábito de atalhar a fala de Phil quando era mais novo, as vezes ela nem se quer parava para ouvir.

- Não vamos falar disso agora!

- Viu só? eu não disse que ninguém nunca liga para os nossos sentimentos? sabe, a senhora nunca parou para conversar comigo quando era mais novo, sempre demonstrei que era carente e que precisava de ajuda, mas infelizmente só foi perceber quando era tarde, quando eu já tinha desistido de mim. eu entendo sua dor.

Tudo Irá Ficar Ok!Onde histórias criam vida. Descubra agora