Capítulo 13

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   Na manhã seguinte Philip levantou bem antes do horário que costumava acordar e foi até o antigo escritório do pai, ele passou a manhã inteira sentado em uma poltrona. Philip não comeu; não tirou o pijama; não abriu a boca em nenhum momento, parecia que o melhor lugar para se estar era no vazio do pensamento. Simone não deu falta do filho, achou que ele estava trancado no quarto como sempre e demonstrou não se importar em saber se estava bem ou não, ela simplesmente se arrumou e saiu.

    Na antiga Cidade portuária, que ficava perto da casa de Philip, havia um enorme pier e muitas pedras, o mar era bravio e haviam placas que proibiam se banhar naquela praia, era um lugar famoso por ser o local preferido dos suicidas. Simone foi até o pier, ficou parada olhando a praia por exatos vinte e cinco minutos e, simplesmente, se jogou. Philip sentiu que naquele dia algo terrível iria acontecer, na madrugada anterior ele entrou no quarto de sua mãe e a beijou em sua testa como se fosse uma despedida, parecia saber que Simone já tinha planejado o seu suicídio. Ela tinha deixado um bilhete dentro de uma bíblia antiga dizendo:

- A covardia é gerada pela bravura. Seja bravo e gere covardia em alguém.

   A carta estava no livro de provérbios, capítulo 24 verso 10.  

"Se te mostrares frouxo no dia da angústia, a tua força será pequena.".

  Quando Philip encontrou a bíblia na mesa de centro e leu a carta, seu coração ardeu e a campainha tocou, era um senhor, conhecido da família, o convidou para passar a noite com eles:

- Olá jovem Phil, há alguém aí com você?

- Não, minha mãe saiu cedo e ainda não chegou.

 O vizinho sabia o que tinha acontecido e estava ciente que Phil tinha problemas psicológicos, ele temia dar a notícia de súbito e agravar os seus problemas. Sua mulher teve a ideia de convidar Philip para passar a noite com eles e dar a notícia do falecimento de sua mãe, e assim fizeram. Na casa desse casal havia um quarto vago que era do filho mais velho:

- Você pode ficar no Quarto do João, ele já tem a casa dele e não vai mais precisar desse quarto.

- Obrigado, mas eu não entendo, Por que me chamaram?

  Jorge e sua esposa, Márcia, sentaram na cama e colocaram a mão sobre a coxa de Philip, Márcia não conteve suas lágrimas e Jorge então respondeu:

- Hoje de tarde, quando eu estava cuidando do jardim, fui chamado até o Instituto médico legal para fazer o reconhecimento de uma mulher que se suicidou, ela não tinha família e a informação que deram à eles é que eu a conhecia. Sua mãe pulou de um pier, Philip, passei o resto do dia tentando resolver as documentações para liberar o corpo, mas você precisa ir até lá amanhã com seus documentos para fazer a certidão de óbito. Eu sinto muito, filho.

  Philip estava parado, olhava fixamente para a bíblia que estava na cabeceira da cama. Márcia o abraçou e disse que iriam cuidar dele, Philip olhou para Jorge e sorriu. Pegou a bíblia e abriu em provérbios, passou toda a madrugada lendo e relendo esse livro.

 Na manhã seguinte, Philip estava arrumado sentado na sala com a bíblia na mão e uma jovem passou pela porta da cozinha e ficou parada olhando de longe, era Stéfany, filha mais nova do casal e tinha a mesma idade de Philip:

- Meus pais me contaram o que aconteceu. Receba meus pêsames pela sua perda e meu total apoio para o que precisar.

- Obrigado, mas eu não preciso de ajuda.

 A jovem engoliu seco, apertou o nariz e se retirou de costas com um sorriso confuso. Stéfany era apaixonada por Philip desde quando a sua família se mudou para aquela rua, ela pensou que aquele momento seria o melhor para tentar se aproximar dele. Márcia viu que sua filha estava no canto da cozinha sentada sobre a mesa e disse para ela tentar entender o que o rapaz estava passando, além de estar enfrentando alguns problemas psicológicos, havia acabado de perder a única pessoa que tinha:

- Eu não vou deixar ele sozinho. Nós vamos cuidar dele, não é?

- Sim, filha.




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