Papai estava bem entretido mexendo no celular sentado no sofá. Se ele olhasse para mim iria se assustar com a minha cara. Eu tinha algo para dizer, várias coisas na verdade, mas depois de enrolar por uma semana, eu me vi engasgada com minhas próprias decisões.
Era uma noite comum no meio da semana. Tínhamos jantado e estávamos indo bem, sempre contávamos sobre nossos dias. Não é como se tudo estivesse nos seus devidos lugares e sentimentos equilibrados, mas estávamos indo bem. E eu tinha medo de sair e tudo desmoronar outra vez.
— Pai. — Falei chamando sua atenção.
— O que foi filha? — Ele disse bloqueando a tela do celular.
— Consegui um estágio. — Falei um pouco séria. Na verdade essa não era a principal notícia.
— Que maravilha, Hana! — Ele sorriu.
Mamãe apareceu na sala distribuindo um café. Ela sentou no braço do sofá e ficou comemorando com o papai.
— Preciso conversar com vocês sobre uma coisa. — Falei sorrindo, mas estava um pouco nervosa. — Esse ano que passou foi muito difícil para gente, não é?
— Não vamos falar sobre isso. — Mamãe se apressou em dizer já parecendo um pouco chorosa. — Temos que comemorar a boa notícia.
— Mas precisamos falar sobre isso. — Retruquei. Me sentei na mesinha de centro de frente para eles e enchi meus pulmões de ar. — Quando o Jason morreu eu senti vontade de ir junto.
Mamãe colocou a mão no rosto e papai me encarou parecendo magoado.
— Eu fiquei muito doente e sei que vocês também. — Continuei falando. — Mas acho que agora é a hora de procurar nossa felicidade. Nós podemos nos resconstruir, não foi culpa nossa.
— Por que está falando sobre isso? — Papai resmungou. — Estamos bem. Estamos nos virando.
— É. — Suspirei. — Se vocês querem bancar os durões, tudo bem. Mas vou contar a minha história.
— História? — Mamãe perguntou parecendo confusa.
— Quando achei que meu mundo tinha acabado, eu conheci o Ethan. — Falei e percebi a cara feia do papai. — Pai, me escute, por favor.
— É que você parece muito iludida por ele.
— O Ethan se aproximou de mim num momento muito complicado e aceitou a minha pior versão. Ele sempre parecia saber o que me dizer e eu encontrei um conforto na sua companhia. Eu o amo. E... Não quero mais ficar longe dele.
Mamãe pareceu um pouco comovida e até enxugou uma lágrima, enquanto papai me encarou com os olhos espremidos.
— Eu gostaria que vocês voltassem a sair, que procurassem alguma coisa para se divertir. — Falei me levantando. — Precisamos um do outro.
— Ah, Hana... — Mamãe choramingou. — Estamos fazendo o possível.
— Vamos tentar um pouco mais. — Insisti. — Precisamos ser felizes e fazer o que nos deixa feliz.
— O que você quer dizer com essa conversa toda? — Papai me fuzilou com os olhos.
— Eu vou morar com o Ethan. — Falei e ambos se assustaram. — Porque eu não quero mais evitar fazer o que quero. E vocês deveriam fazer o mesmo.
Não foi tão simples, é claro. Apesar do "você que sabe" do papai, eu soube que eles ainda precisavam digerir aquilo.
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Temperamental
RomanceEu percebi que a luz que entrava pela janela do meu quarto era muito bonita e deixava o ambiente iluminado de uma forma bem especial. Percebi também que era ótimo ler no ônibus em vez de ficar olhando pela janela e fingindo estar gravando um vídeo c...