Não precisava me preocupar em me acostumar com o lugar, já que o apartamento do Ethan já tinha a minha essência, mesmo quando eu não estava lá. Mas precisava aceitar a nova rotina. Aceitar, porque eu sabia que seria simples querer ficar ao lado dele, já estava acostumada só de pensar em meus devaneios. Mas aceitar uma nova vida era minha dificuldade. Aceitar que eu poderia ser feliz.
Esvaziei o meu quarto no sábado, e tentei não me apegar ao sentimento de melancolia e despedida. Era difícil não sentir medo. Parte de mim queria me punir por estar indo embora, como se não me julgasse merecedora de seguir em frente. Mas cantarolei mais alto que os meu pensamentos, queria estar feliz.
Mary apareceu quando tudo já estava em malas e caixas, mesmo assim fizemos uma festa do pijama.
— Me senti muito errada quando saí da casa do meu pai — ela disse bebericando o suco de morango, que minha mãe nos serviu. — Das duas vezes que fiz isso.
— Eu me lembro — sorri olhando em volta. Meu pequeno quarto já não parecia mais meu. — E o sentimento mudou?
— Felizmente sim! Não tente se culpar ou ficar muito apegada a alguma coisa que você não sabe. Se lá não for seu lugar, certamente terá que dizer adeus em algum momento, não é?
— Você tem ficado muito sensata! — bati palmas fazendo minha amiga rir.
— Andei muito com você — me empurrou.
Comemos algumas batatinhas e conversamos sobre nossas memórias, com muitas risadas e empolgação, até o semblante da Mary ficar sombrio quando tocamos no nome do Theo.
— O Theo vai ficar bem! — falei respirando fundo. — Todo mundo tem momentos assim, inclusive eu estou em um desses há bons tempos... Vou me certificar de ajudá-lo!
— Hana, a garota que o Theo gosta... É você — ela contou sem jeito.
— É o que todo mundo pensa — acabei rindo. — Mas...
— É você! — ela me interrompeu esbanjando sua certeza. — Ele confessou.
— Quê?
— Semana passada ele apareceu para conversar com Robert, estava bem desanimado como nos últimos tempos. Entre um desabafo e outro, ele revelou que você é a única garota que ele amou... — esfregou a mão no cabelo, nitidamente envergonhada. — E ele acha que ainda te ama.
— Ele disse isso? — suspirei. — Acho que ele está apenas iludido com algo que a cabeça dele inventou.
— E o amor não é isso? Nossa mente encantada por outra pessoa.
— É... — murmurei perdida.
De repente me toquei que aquilo poderia não ser uma brincadeira do Theo, e então ele devia estar muito ferido. Ah não!
— Ele não te culpa — Mary disse preenchendo o meu silêncio. — Mas ele se culpa por não ter conseguido ser quem você precisava, por não ter te preenchido como o Ethan. E está tentando, mas ainda se sente magoado.
— Ele é bom ator, não é? — sorri sem graça alguma. — Poxa vida! O certo a se fazer numa situação assim é se afastar da pessoa e pegar ranço dela! Ele deveria torcer o nariz ao me ver! Por que insistiu em gostar de mim? E por que está me contando isso, amiga da onça?
Sacudi meus cabelos, os bagunçando com toda intensidade possível, depois rolei pelo chão como o ato mais infantil que encontrei no momento.
— Porque achei que você deveria saber — ela choramingou. — Você é a pessoa que mais está cuidando dele nesse momento... Essa informação é importante!
— Então, ou estou o magoando ainda mais ou alimentando suas esperanças de alguma forma... — refleti. — Vou fazer alguma coisa! Ainda não sei o quê, mas... Ethan tentou me alertar, e eu não acreditei.
— Não é culpa de ninguém!
— Não é... Mas sabe, Theo e eu somos muito parecidos, e é por isso que tenho estado tão preocupada com ele.
Estávamos sempre lá para animar a todos, preencher os silêncios vergonhosos, dizer o que ninguém tinha coragem, sorrir mais do que qualquer um... E talvez por isso ninguém levasse nossas feridas tão a sério. E talvez por isso as pessoas achassem que superar qualquer coisa fosse extremamente simples para nós. Mas não éramos intensos apenas para sentimentos felizes...
***
Balões estavam espalhados por todo o chão da sala quando entrei no apartamento do Ethan na tarde de domingo. Havia um painel na parede que dizia: Bem-vinda, Hana! Você é o sol dessa casa!
— Uau! — falei sem saber reagir.
— Eu que fiz tudo! — Ethan contou me encarando, certamente não querendo perder nenhum minuto da minha reação.
— Até o bolo? — apontei para a mesa, que tinha diversas comidas e um bolo decorado com o meu nome.
— Tudo menos a comida! — pigarreou e revirou os olhos, o que me fez gargalhar.
— Eu amei! Muito obrigada!
Deixei a mala de lado e o abracei. Trocamos um beijo profundo, mas fomos interrompidos quando Holly estourou um balão tentando chamar nossa atenção.
— Você quer guerra, não é? — falei encarando a cadela. — Mas eu não! Porque gosto de você, peluda!
Peguei Holly no colo, mesmo que ela estivesse de mau humor. Ethan contornou seus braços sobre nós e eu sorri com os olhos fechados.
— Me sinto em casa!
Nota da autora: Ooi! Tudo bem? Faz uma vida que não apareço por aqui... Antes de qualquer coisa, queria pedir desculpas! Eu ainda tenho o desejo de concluir a saga, e espero conseguir.
Se alguém ainda estiver aí, espero que goste! ❤❤
To tentando voltar...
Um xero!!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Temperamental
RomanceEu percebi que a luz que entrava pela janela do meu quarto era muito bonita e deixava o ambiente iluminado de uma forma bem especial. Percebi também que era ótimo ler no ônibus em vez de ficar olhando pela janela e fingindo estar gravando um vídeo c...