Eu percebi que a luz que entrava pela janela do meu quarto era muito bonita e deixava o ambiente iluminado de uma forma bem especial. Percebi também que era ótimo ler no ônibus em vez de ficar olhando pela janela e fingindo estar gravando um vídeo clipe. Além de ser muito gratificante dormir depois de terminar todas as tarefas, após um banho, a cama lhe abraça da forma mais confortável e carinhosa, e sua mente pode enfim descansar. E é muito melhor chorar no abraço de alguém, do que na escuridão solitária do seu quarto. Vai passar, Hana, vai passar...
— Jason, eu tirei dez na prova. — Fiz um sinal de legal olhando para o céu pela janela do ônibus no caminho de volta para casa — Sinto sua falta. — Suspirei, mas sorri para o céu azul.
Os dias chuvosos haviam passado aparentemente. Talvez eu que tenha sentido aquele verão mais triste do que realmente foi. Mas a mudança de estação estaria marcando a minha mudança. Naquele outono eu queria colher momentos felizes.
Depois de encarar as coisas ao lado do Ethan e com a ajuda do Dr. Carter, eu resolvi ir voltando a minha vida aos pouquinhos. Um dia de cada vez. Uma pequena mudança a cada dia. Uma batalha a cada momento. Eu estava realmente disposta a não desistir de mim mesma, e quando sentia muita dor, eu apenas sentia, precisava sentir e entender que estava tudo bem.
Minha mudança para aquele dia seria meu guarda-roupa. Andava me sentindo apática quanto a minha imagem, parecia outra pessoa quando me olhava no espelho. Quando meu irmão havia adoecido, por mais esquisito que isso possa parecer, eu conheci a minha melhor versão. Eu sempre fui inconveniente e sincera, mas quando Jason ficou doente, a casa precisava de alguém que animasse a todos e que passasse esperança para aquele garotinho que acreditava que iria morrer. Me tornei forte, como nunca achei que seria, larguei a faculdade para ajudar nas despesas, dormi noites seguidas no hospital ao seu lado sem demonstrar o quanto estava exausta, aprendi jogos para brincar com ele, realizei todos os seus desejos que estava ao meu alcance... Eu fui minha versão mais corajosa e forte, e dessa forma acreditei que conseguiria tirá-lo daquilo, que em algum momento ele ficaria bom outra vez e voltaríamos para casa. O sentimento da perda levou com meu irmão toda minha coragem e vontade de continuar.
Encarei meu guarda-roupa naquela tarde e sem pensar muito arranquei dos cabides as roupas que não usava mais.
— Você vai doar tudo isso? — Mamãe disse mexendo nas roupas que eu separei. — Você ficou com alguma coisa, Hana?
— Fiquei só com o que eu preciso. — Respondi organizando as caixas que levaria para a doação.
— Mas querida, acho que vai precisar comprar algumas roupas. — Ela checou meu guarda-roupa quase vazio.
— Então vou renovar meu look. — Sorri.
Mamãe pareceu comovida e se aproximou me olhando de perto.
— É bom te ver sorrindo. — Ela murmurou.
— Quer ir as compras comigo?
— Certo. Vamos sim.
— Acho que vou cortar o cabelo. — Disse de repente. — Está muito comprido. — Reuni as longas mechas, que até pareciam ter perdido a viva cor caramelo acobreado de outrora, era mais como cinza morto.
— Hana, você está muito estranha. — Mamãe me encarou parecendo confusa. — Você sempre adorou seu cabelo comprido.
— Mas agora eu quero cortar. Sinto que minha cabeça está muito pesada.
***
Eu dei um gritinho quando me vi no espelho do salão com o cabelo curto, no pescoço, o Chanel mais charmoso que alguém poderia ter. Meu Deus. Eu amei. Joguei meu cabelo de um lado para o outro me sentindo a garota mais sexy do mundo. Por que eu nunca tinha feito isso antes?
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Temperamental
RomanceEu percebi que a luz que entrava pela janela do meu quarto era muito bonita e deixava o ambiente iluminado de uma forma bem especial. Percebi também que era ótimo ler no ônibus em vez de ficar olhando pela janela e fingindo estar gravando um vídeo c...