Capítulo 10

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Ethan estava ajudando a colocar as coisas do Jason nas caixas. Foi um dia difícil, porque mexer em todas aquelas coisinhas revirava meu emocional. Minha mãe deixou escapar algumas lágrimas e papai tentou ficar com algumas coisas. No final cada um guardou alguma coisa, eu mesma guardei um baú onde ele guardava moedas, botões e tudo que fosse interessante para ele.

— Você quer um suco, Ethan? — Mamãe disse antes de sair do quarto quando já estávamos finalizando.

— Eu quero. — Papai disse antes. Ele nem conseguia disfarçar que estava incomodado com a presença do meu namorado.

— Acho que terminamos. — Falei me encostando no Ethan e ele colocou seu braço no meu ombro. — Por que você não toma um banho e come com a gente? — Sorri para ele.

— Ele não tem trabalho? — Papai resmungou.

— Hoje é domingo. — Falei puxando o Ethan pelo braço para fora do quarto.

Eu sabia que o Ethan só não respondia meu pai, porque era meu pai. Eu peguei umas roupas para ele e uma toalha.

— Talvez eu devesse ir. — Ethan disse segurando o que dei para ele. Papai estava nos olhando do corredor. — Posso te ver mais tarde.

— Ahhh não vá, por favor. — Olhei para meu pai, o qual suspirou. — Se você for eu vou junto.

Empurrei o Ethan para o banheiro e fui atrás do meu pai. Ele fingiu estar entretido com alguma coisa na garagem.

— Eu sinto vontade de chorar todos os dias. — Falei depois de sentar no banco ao seu lado. Ele me olhou parecendo surpreso. — Eu me sinto culpada também.

— Hana... Você não...

— Eu achei que seria bem mais útil se eu morresse no lugar dele. — Falei o interrompendo. — Perdi a maioria dos meus amigos e meu ex namorado.

Papai abaixou a cabeça. Eu não costumava conversar sobre essas coisas com ele, só que estava começando a sentir que precisava.

— O Ethan foi a única pessoa que soube o que me dizer. — Olhei para seu rosto, mesmo que ele tenha desviado. — O senhor nem imagina o quanto eu fiquei mal e o quanto ele cuidou de mim. Qualquer um já teria me deixado.

— Só sinto que ele está te tirando de mim. — Papai suspirou. — É horrível saber que ele pode cuidar de você, mas que eu não consigo mais.

— Pai, o senhor também precisa ser cuidado. — Toquei seu ombro e afaguei. — Você e mamãe não saem mais, por que se abandonaram desse jeito?

— Quando você crescer vai entender melhor as coisas. — Ele suspirou de forma prolongada com os olhos fechados.

— Pai, tenho quase 25 anos. Eu sei o que é bom para mim e o que não é. O Ethan é bom. Dê uma chance para ele, por mim.

— Entendi. — Ele fez um sinal de legal com os polegares.

É claro que uma boa relação não nasce de um minuto para o outro, e papai era muito orgulhoso para mudar suas atitudes de forma tão visível. Mas ele estava se esforçando, e apesar do dia cansativo, aquilo me fez sorrir.

— Foi estranho ele tentando conversar comigo. — Ethan disse deitado na minha cama. — Mas foi legal.

— Ele não é mal. — Respondi encarando o teto vazio do meu quarto.

Eu gostava de deitar depois do almoço nos domingos, era o único dia que eu sentia que podia descansar sem me sentir culpada. O Ethan nunca havia deitado em minha cama, mesmo depois de todo tempo que tínhamos juntos.

— Vamos brincar. — Enfiei minha mão por baixo de sua camisa, mas ele a segurou por cima do tecido.

— Seus pais estão na sala. — Ele disse olhando para a porta, a qual estava fechada.

Tentei soltar minha mão, mas ele foi muito resistente e pareceu desesperado, o que me fez gargalhar.

— Shhhh. — Ethan resmungou. — Eu não vou sair vivo daqui.

— Tudo bem, parei.

Mas assim que ele soltou minha mão, tentei novamente tirar sua blusa. Era muito engraçado vê-lo tão preocupado com algo.

— Hana, não podemos fazer isso aqui. — Ele disse entrelaçando nossos dedos e assim prendendo minhas mãos.

— Eu quero viver essa adrenalina. — Sorri sem vergonha.

Ethan me observou com os olhos congelados, mas quando parei de sorrir, ele soltou minhas mãos e beijou-me.

— Eu vou para o inferno. — Murmurou. — Mas quero te ver sorrindo.

Mas mesmo depois de alguns beijos, Ethan se retraiu envergonhado como nunca o tinha visto antes.

— Não vai funcionar. — Ele disse baixinho. — Acho que não consigo.

— Quantos anos você tem? — Brinquei já rindo da cena. — Fale comigo, garoto virgem.

— Você me coloca em cada situação. — Ele disse virando-se de costas para mim.

— Foi engraçado. — O abracei me encostando em suas costas. — Eu só estava brincando. Desculpa.

— Tudo bem. — Senti sua mão tocar a minha em sua cintura. — Acho que fiquei muito nervoso.

Quando você está com a pessoa certa qualquer momento é especial.

— Está preparada para amanhã? — Ele disse se virando novamente para mim.

— Não estou sentindo nada até então.

Aquela semana eu havia recebido a ligação de uma empresa de publicidade me chamando para uma entrevista de estágio. Achei interessante meu currículo ser encontrado tão de repente, se quando havia distribuído currículos em busca de estágio, Jason ainda estava vivo. Pensei que aquele poderia ser um aviso de que as coisas não estavam perdidas, que ainda haviam oportunidades me chamando.

— Vai ser em Londres?

— Sim. — Assenti. — Não estou com muita expectativa, já que nem sou a aluna exemplar de outrora.

— O que tem? Eu nunca fui aluno exemplar e já me contrataram como funcionário efetivo sem me formar. — Ethan ergueu os cantos de sua boca num sorriso vitorioso.

— Ai, convencido.

Ele sabia que era mesmo genial e que eu escutava seu programa na radio toda semana.

— Mas não se preocupe. — Ele disse calmo. — Você é Hana e pode conseguir tudo que quiser.

— E se tiver outra Hana? — Estreitei meus olhos.

— Duvido que ela seja tão inconveniente e doida. — Sorriu mostrando os dentes. — Mas sério, você é carismática só em olhar para a pessoa, vai conquistar os entrevistadores com um oi.

— Você me superestima. — Apertei suas bochechas. — E eu adoro isso. Vou vestir minha armadura e arrasar com eles.

— Tenho certeza que vai. Vou te buscar amanhã, que horas acaba?

— Pela tarde. Você vai mesmo dirigir até Londres só para me buscar?

— Claro! Aproveito e compro uma cafeteira para o James por lá enquanto te espero.

— Então aceito a carona. — Assenti sorridente.

— Vai dar tudo certo. — Disse-me mesmo que eu não tenha manifestado grande preocupação, mas foi bom ouvir.

TemperamentalOnde histórias criam vida. Descubra agora