Primeiro dia no estágio. Ethan fez questão de dirigir até Londres só para me levar, e acabei não conseguindo pará-lo já que ele foi me buscar bem cedo na casa dos meus pais.
— Quer almoçar comigo? — Ele disse no carro quando chegamos.
— Tenho aula de tarde. Podemos nos ver à noite.
— Tudo bem, então. — Eu concordei me aproximando para receber um beijo. — Boa sorte, gatinha.
— Estou mais para uma leoa. — Respondi abrindo a porta do carro.
Ele ficou no carro até eu entrar no edifício. Falei com a moça da recepção e logo fui enviada para o setor de marketing. E depois de ser apresentada aos integrantes do setor, me mostraram minha mesa e fui levada para a chefe, que eu já conhecia da entrevista.
— Hana Collins. — Ela disse meu nome me encarando com os braços cruzados. — Acabei escolhendo você, porque fiquei muito curiosa com seu jeito nas entrevistas. Me dê um bom retorno por isso.
Ela me encarou por alguns segundos, talvez com expectativa, mas apenas assenti e sorri em silêncio.
— Nada a dizer? — A mulher levantou a sobrancelha.
— Sempre tenho o que dizer. — Respondi com uma expressão mais divertida. — Difícil é me calar quando começo. Vai dar tudo certo entre nós se você quiser.
Ela torceu a boca e depois riu, talvez com um pouco de sarcasmo?! Difícil dizer.
— Obrigada pela oportunidade. — Falei. — Vamos nos dar bem.
Não tive muito o que fazer naquele dia. As tarefas que viriam a mim ainda seriam designadas, então apenas tentei sorrir para todo mundo que vinha ver a novidade do escritório (vulgo eu) e esperei o turno acabar para eu ter uma curta viagem de Londres a Surrey, onde teria aula.
Me sentindo ainda perdida com a nova rotina optei por almoçar na universidade.
Até me surpreendi quando Jenna veio falar comigo na cantina. Ela estava na turma dos formandos agora, minha ex melhor amiga.
— Lembrei de você um dia desses, Hana. — Ela disse enquanto eu comprava um sanduíche. — Minha mãe sempre pergunta de você.
— E é? — Continuei andando sem me importar com ela e sentei numa mesa para saborear minha humilde refeição. Jenna sentou-se também, estava estranha. — Faz um tempão que você me excluiu da sua lista de amigas. Tipo um ano inteiro.
Ela fez uma expressão de surpresa. Quando eu contei para a Jenna que iria trancar o curso por um tempo ela não entendeu, quando virei bibliotecária ela se afastou e quando meu irmão morreu ela nem me enviou uma mensagem de conforto. Grande amiga. Amigona ela.
— Eu estava numa fase complicada também. — Falou depois de suspirar e eu continuei comendo meu sanduíche. — Tinha acabado de terminar um relacionamento, o curso estava muito pesado...
— Poxa, eu também. — Falei com sarcasmo e tomei um pouco do meu suco enquanto ela me encarava sem saber o que falar. — Perdi meu namorado, perdi minhas amigas, perdi meu irmãozinho...
— Hana, eu não fazia ideia de que a coisa estava tão feia. — Ela aproximou-me de mim no banco. — Fiquei com vergonha de falar com você depois de tudo.
— Entendi. — Sorri para ela. Era muito cansativo discutir com a Jenna, porque ela sempre foi muito dramática. — E por que está falando comigo agora? Logo mais você se forma e eu vou continuar aqui. Peso na consciência?
— Pensei que talvez pudéssemos sair para conversar ou dormir uma na casa da outra...
Franzi a sobrancelha e quis rir um pouco.
É mais ou menos assim. Quando tudo está desabando, todos te abandonam. Quando seu castelo está de pé outra vez, querem te fazer uma visita.
— Tenho planos com uma amiga hoje. — Falei sorrindo. — E vou dormir na casa do meu namorado.
— Você está namorando? — Ela perguntou não saberia se animada ou assustada. — Voltou com o...?
— Meu namorado se chama Ethan. — Falei por cima dela avistando a Mary, que surgiu na cantina desnorteada como de costume. Acenei sorrindo. — Minha amiga chegou.
Abocanhei o resto do meu sanduíche e não liguei para a indigestão por comer tão rápido.
— Ela mal me conhecia e ficou do meu lado. — Falei depois de conseguir engolir. — Quando ninguém queria ficar comigo eu me afeiçoei a ela e todos meus momentos com você pararam de ser engraçados.
— Então, eu nem posso tentar voltar ser sua amiga? — Formou-se uma tensão entre seus olhos. — Admito que fui egoísta, tá bom? Mas eu também estava sofrendo.
— Eu tenho é que te agradecer. — Levantei percebendo que a Mary estava me esperando. Ela certamente não queria interromper minha conversa. — Quando você se afastou eu pude conhecer pessoas boas de verdade. E talvez não tivesse acontecido se você não tivesse se afastado.
— Hana...
— Só para ficar claro. — Peguei minha bolsa. — Você não é minha amiga.
Pulei na Mary deixando a Jenna para trás. Minha amiga Mary sempre ria daquele jeito fofo e perguntava se eu tinha comido bem, como foi meu dia e era legal segurar seu braço e sair andando pelo campus como duas adolescentes.
— Me livrei de uma chata agora. — Falei enquanto andávamos. — Obrigada, Mary.
— Obrigada pelo que? — Ela riu me olhando.
— Só por ter vindo me buscar. Eu te amo, de verdade. — Apertei sua bochecha e ela apenas sorriu.
— Sinto o mesmo, Hana, minha melhor amiga.
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Temperamental
RomanceEu percebi que a luz que entrava pela janela do meu quarto era muito bonita e deixava o ambiente iluminado de uma forma bem especial. Percebi também que era ótimo ler no ônibus em vez de ficar olhando pela janela e fingindo estar gravando um vídeo c...