Capítulo 13

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Ethan estava pegando as chaves do carro para me levar para casa quando tudo apagou. Eu gritei quando o estrondo do trovão alcançou meus ouvidos ao mesmo tempo que senti algo tocar meus ombros.

— Calma, sou eu. — Ethan disse me abraçando por trás. — Me desculpa pelo susto.

— Não. — Respondi com a voz trêmula. — Eu não gosto dessas chuvas.

— Melhor esperarmos a energia voltar. Não é bom andar na rua domingo a noite e sem luz.

Ele ligou a lanterna do seu celular e voltamos para o sofá sem ter muito o que fazer com a casa toda escura. Holly se recolheu ao lado do dono e suspirei quando ela rosnou com minha tentativa de pegar em sua patinha.

— Está nervosa para a entrevista amanhã? — Ele disse quebrando o silêncio. — Estou muito feliz que passou para a segunda fase. Acho que eles gostaram muito de você.

— Não sei. Talvez só queiram ver de novo a cara da menina que fez um discurso doido.

— Eu acho que não. Tenho certeza que gostaram do seu discurso. Algumas verdades precisam ser ditas, e você sabe dizê-las muito bem.

— Obrigada. — Murmurei e encostei minha cabeça em seu ombro.

Ethan não se moveu quando abracei seu braço e recolhi minhas pernas para cima do sofá. Não percebi quando me rendi as lágrimas que estavam lutando para escapar.

— Hana? Está chorando? — Ele perguntou, provavelmente porque minhas lágrimas caíram em sua camisa. Meu choro foi silencioso, mas Ethan percebia até meu silêncio.

— É, bem...

— O que houve? Tem medo de trovões?

— Não tenho medo, mas é que me trás recordações muito ruins. — Solucei e me afastei para enxugar minhas lágrimas. — Me desculpa.

— Quer me contar?

Ethan contornou meu ombro com seus braços e me puxou para seu peito, e me manteve ali mesmo que minhas lágrimas estivessem o molhando.

— Você ficou perdida na chuva? — Ele disse.

— Não. — Respondi já com a voz fanha. — É sobre o Jason.

— Você o esqueceu na chuva?

— Não. — Pressionei os olhos. — Pouco antes dele falecer, tivemos um momento difícil no hospital. O médico já havia alertado que a qualquer momento ele poderia partir. Ele já estava refém das sondas e máquinas, era muito difícil de ver.

— Oh... — Ethan suspirou e afagou meu ombro.

— Um dia teve um blackout a noite, e eu estava com ele para papai e mamãe descansarem em casa. Quando tudo apagou todas as máquinas desligaram e eu entrei em pânico. Eu jurava que iria perdê-lo naquele dia. — Solucei me recordando com clareza daquele dia. — Me senti perdida, como uma irmãzinha mais nova que não tem capacidade de puxar seu irmão de um precipício.

— Foi nesse dia que ele se foi?

— Não. O gerador do hospital ligou depois de alguns minutos e ele foi se recuperando. Mas eu fiquei com tanto medo.

— Já passou.

Ethan me abraçou mais forte e quase me ninou como uma criança. Viver aquele momento em minha mente me deixou muito triste, porque toda aquela impotência era real e eu não pude trazê-lo de volta.

— No dia seguinte Mary veio me ver na biblioteca e contar sobre ela e Robert. — Falei recordando. — Eu quis contar para ela tudo que estava acontecendo, mas não consegui.

— Por que não contou? Não confiava nela naquela época?

— Confiava, mas era muito difícil. Eu tinha perdido todas as minhas amigas e meu namorado.

— Elas não eram suas amigas e ele não era seu namorado. Agora você tem pessoas de verdade.

— Eu sei disso.

A luz voltou de repente, mesmo que ainda chovesse do lado de fora. Ethan olhou para meu rosto e sorriu um pouco. Certamente eu estava toda vermelha e desconfigurada pelo choro, mas ao ver seu sorriso eu me senti mais tranquila.

— Desculpe por sempre trazer histórias tristes. — Falei passando as mãos nos olhos para espantar as lágrimas que ficaram acumuladas ali.

— Não tem problema, Hana. Na verdade, eu gosto de ouvir sobre o Jason. Não sei, gosto de imaginar como as coisas seriam se ele estivesse aqui, se nos daríamos bem, se ele apoiaria nosso relacionamento... Apesar de ser triste, ouvir sobre ele me trás um sentimento bom, não sei explicar.

— Sério? — Franzi as sobrancelhas.

Ethan assentiu com a cabeça.

— Poderia me falar mais sobre ele. Coisas boas.

Parei um pouco para pensar. Na verdade, apesar da terapia, ainda era muito difícil falar sobre Jason. Eu estava ainda fugindo de pensar sobre ele.

— Ele era meu melhor amigo. — Falei e instantaneamente Ethan sorriu. — Talvez eu seja muito infantil porque meus pais tiveram meu irmão mais novo muito tarde por acidente. Eu já estava entrando na adolescência quando ganhei um caçula. Ainda lembro de estar lá quando ele disse a primeira palavra, e te juro, foi Hana. Mamãe e papai surtaram é claro, mas quem mais seria? — Acabei rindo. — Eu era a babá dele, porque quando mamãe precisou voltar para o trabalho, eu que ficava com ele. Me lembro de repetir meu nome várias vezes, e foi a primeira palavra que ele disse.

— Isso é a sua cara. — Ethan gargalhou.

— Minha infância foi estendida por ter que brincar com meu irmãozinho, e sem perceber nos tornamos amigos. Tenho certeza que se dariam bem e ele gostaria muito de você.

— Fico feliz em saber disso.

— Eu também. — Sorri e me permiti apenas sorrir por pensar daquela forma. 

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