Capítulo 1

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Eu ficava triste toda vez que chovia. Me sentia melancólica. Lembrava de coisas. Queria chorar. De alguma forma, criei o hábito de ranger meus dentes para segurar aquela dolorosa lágrima e fingir que estava tudo bem, que eu iria aguentar.

Quando enfim parei de olhar pela janela e virei-me para frente, percebi que a aula já tinha acabado. Que interessante. Publicidade não parecia mais interessante como antes. Todas as minhas ideias gritantes e força de vontade haviam se esvaído, e não me sentia mais participante daquilo. Parecia impossível me sentir como antes.

Cheguei em casa e vi a cena da minha mãe brincando com a Holly. Eu estava tentando não fazer ela se apegar tanto ao cachorro, mas minha mãe estava se apegando a quase tudo.

— Mãe, a Holly vai para casa hoje, sabia? — Falei jogando minha bolsa no sofá. — O Ethan volta hoje.

— Ele foi visitar os pais e ficou apenas três dias? — Ela reclamou abraçando a Holly.

A pequena maltês branca era muito carinhosa, mas de alguma forma, eu e ela não nos demos bem de cara. Talvez a cachorrinha não tenha gostado de uma mulher invadindo seu apartamento e beijando a boca de seu dono, e eu entendia, se estivesse em seu lugar, não agiria muito diferente. Mas o desprezo de Holly até me incomodava, parecia que ela gostava de todas as pessoas no mundo, exceto eu. Tentei conquistar a peluda, mas nada do que fiz fui suficiente, e algumas vezes até latia de raiva para mim. Aff.

Ethan disse que seria bom passarmos um tempo juntas durante sua viagem até a casa dos pais em Cambridge, mas minha mãe precisou intervir em nossa relação e ela acabou cuidando da cadela.

— Pois é. — Me abaixei e comecei a apertar a Holly também, o que a fez rosnar para mim e me segurei para não apertar seu focinho. — Como foi no trabalho?

— Foi legal. — Ela respondeu me observando afastar do animal. — E o seu dia?

— Legal.

Eu precisei arrastar Holly pelo caminho na hora de devolvê-la ao dono, e ela evitou as poças de água que se formaram pelo dia chuvoso. Holly estava com preguiça de andar, mas eu estava louca para encontrar aquele idiota.

— Holly, eu enxugo suas patinhas se elas molharem. — Falei para ela quando a mesma sentou no meio do caminho e ficou me olhando. Eu a levaria no colo, mas era capaz de ser mordida caso eu tentasse. — Prometo deixar elas branquinhas de novo. Vamos. — Choraminguei suplicando que ela andasse de novo. Aquela cadelinha pequena era tão marrenta quanto eu.

Levantei os braços me sentindo vitoriosa quando chegamos ao prédio. Já tinha escurecido por completo. O porteiro ficou me olhando passar como sempre, Ethan já tinha feito várias caras feias para ele, mas eu até gostava, não do porteiro, mas de como meu namorado tinha ciúme.

Ajeitei meus cabelos enquanto o elevador subia. Em dias chuvosos meu cabelo ficava parecendo uma farofa. Holly também parecia estar com o pêlo farofado, e aquilo me rendeu a risada mais sincera do meu dia.

— Estamos gatas. — Falei para ela. — Quer dizer, você ta cachorra.

Pude jurar que vi a cadela revirar os olhos. Brincadeira, mas se Holly fosse uma pessoa, ela o faria.

Ethan abriu a porta poucos segundos depois que toquei a campainha. Ele parecia ter acabado de sair do banho, seus cabelos negros e lisos estavam molhados e bagunçados, e a toalha ainda jogada sobre o pescoço.

— Eu ia te ligar. — Ele disse me puxando para dentro. — Não precisava andar até aqui. Eu tenho carro lembra?

— Você estava demorando demais. E também, achei que Holly iria me matar se eu demorasse mais algum tempo. — Abracei seu pescoço e ele retribuiu o abraço, ainda rindo pelo meu comentário. — Senti sua falta, chato.

TemperamentalOnde histórias criam vida. Descubra agora