Capítulo 16

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A noite estava fria e o vento entrava por baixo da porta. Dava para ouvir o balançar das folhas na árvore atrás da casa, mas isso já não chamava atenção de nenhum dos dois deitados na cama. Billy percebeu que podia dormir em cima da menor pois ela estava decidida a não falar nada do que ele queria saber. Por isso ele saiu de cima dela e se deitou ao lado - não sem antes cutucá-la forte para fora da cama. Virou de costas como se estivesse em seu quarto e ali ficou quieto.

Ana nem ligou para o quão birrento ele estava e voltou a se ajeitar sobre o colchão. Achou a posição que a faria dormir, mas sentiu a boca seca e pensou que deveria buscar um copo de água. Mas não queria se levantar e não conseguia dormir por isso. Suspirou leve e levantou rapidamente e , descalça, seguiu para a cozinha no andar debaixo. Pegou um copo de vidro no armário o mais silenciosa que pode e foi enchê-lo na pia.

Olhou pela janela e dava para ver a penumbra das folhas das árvores balançarem pelo gramado. Bebeu a água quando ouviu um silvo, mas tão rápido quanto veio foi embora. Abaixou o copo e analisou o quintal. Não havia nada com o que se preocupar, mas havia algo que não a deixava descansar a mente. Deixou o copo dentro da pia e voltou ao quarto, já estava tarde.

Abriu a porta encostada e Billy estava do mesmo jeito de quando deixou o quarto.  Suspirou vendo o espaço estreito que sobrou para ela. Deitou e suspirou de novo, talvez para incomodar o maior mas sabia que do jeito que ele era, não daria a mínima. 

Fechou os olhos e apoiou as mãos sobre o peito. E diferente do comum, o sono realmente veio. Ficou contente e se deixou levar pela inconsciência. 

Porém, se viu diante de casa enquanto o céu estava vermelho. O vento açoitava as árvores e seus cabelos atrapalhavam sua visão. Passou a mão nos fios e olhou ao redor para saber o que estava acontecendo. Não havia ninguém nas ruas e ao olhar para trás, viu a porta de casa escancarada. Se aproximou e viu terra na soleira da porta e os tapetes bagunçados. Adentrou mais para ver se alguém estava ali, mas não parecia haver nada a não ser os móveis destruídos.

Entrementes, ouviu algo do lado de fora e voltou seus passos. Um vulto passou correndo e Ana decidiu persegui-lo para o quintal do vizinho. Passou pelo corredor estreito mas ao chegar nos fundos, não havia nada. O vento levantava as folhas secas do chão e se enroscavam em seu cabelo solto. A suas costas um grito soou seguido de rosnados. Correu de volta a rua e pensou em acordar, mas nada aconteceu.

Do outro lado da rua, em frente ao sobrado vermelho, Dustin tentava acertar o monstro com um taco de madeira. Ele acabou acertando a caixa de correio azul o que fez o som reverberar por toda a rua. A garota correu e tentou formar bolas de energia nas mãos, mas não conseguia. Era como se toda sua magia tivesse sumido do nada. Com a movimentação, o monstro voltou a atenção para ela e avançou.

Sem escolhas, Ana fugiu enquanto ouviu as unhas baterem no asfalto. Só que o som não se aproximava mais de si, e sim se afastava. Olhou para trás e a coisa corria atrás de Dustin. Engoliu em seco sem saber o que fazer porque a única coisa que podia fazer, foi tirada de si. Ainda assim, correu pela rua enquanto tentava chamar sua magia de volta, sem sucesso. Sentia suas pernas doerem mais do que quando treinava e sabia que tinha alguma coisa muito errada.

Aquela dimensão queria matá-la com toda a certeza. Mas aquilo deveria ser um sonho, então não teria problema. Apesar disso, não parou de correr até chegar na avenida principal onde Dustin estava caído no chão e o taco largado a distância com o monstro em cima dele. 

—Não. – gritou e a coisa se virou, sangue pingava de sua boca de pétalas.

Percebeu que seu primo estava morto.

Abriu os olhos no susto e por um segundo quase não sentiu a cama abaixo do corpo. Sua visão rodou e fechou os olhos respirando descompassada. Sentiu seu braço esquerdo esbarrar em algo morno e se virou vendo, pela luz fraca do quintal dos fundos, as costas cobertas pela camisa de Billy. Engoliu a saliva acumulada na boca e com uma mão trêmula, passou sobre a testa orvalhada de suor. Se deitou de lado e sem pensar, passou o braço por cima do loiro e ainda pousou a mão sobre seu peito.

No fim, acabou colando o corpo no do maior e descansou o rosto em sua nuca. Enquanto sentia os próprios batimentos cardíacos e tentava acalmar sua própria respiração e seu coração também. Respirava fundo e sentiu na palma da mão o coração do maior começar a acelerar um pouco. Mas ainda estava atordoada então não quis se separar ainda. Queria respirar normalmente para por suas ideias no lugar.

Billy se mexeu e foi se virando, o que colocou os planos de se acalmar primeiro em risco. Sabia que ele iria perguntar o que estava acontecendo e não estava disposta a despista-lo. O loiro ficou com o rosto próximo do seu mas não se preocupou em encara-lo nos olhos. Sentiu o braço dele passar por cima do seu que ainda estava ao seu redor e não ouviu nenhuma palavra dele. Se ajeitou melhor e se sentia melhor conforme o tempo passava.

E a realidade começou a fazer caminho por sua mente. Abriu os olhos vendo mais ou menos a pele bronzeada e pensou que Dustin não estava na segurança do seu quarto. Na verdade, nem sabia onde ele estava. Podia estar na casa dos Byers ou em qualquer outro lugar fugindo daquelas coisas sanguinárias. Soltou o ar que nem percebeu ter prendido e foi se desvencilhando de Billy.

—Tudo bem? – a voz rouca chegou em seus ouvidos.

—Sim. Foi só um pesadelo. – respondeu baixo e fraco.

Ficou de joelhos na cama e espiou pela janela a rua. Deveria ir atrás de Dustin e quem sabe dos outros também, vai saber no que eles estavam metidos. Mas não fazia ideia de onde procurar. Havia muitas florestas ao redor da cidade. Eles poderiam estar em qualquer lugar. O loiro se sentou apoiado na cabeceira da cama e olhava atentamente o rosto dela iluminado pela luz amarelada e fraca.

Viu faróis iluminarem a rua e a caminhonete do xerife surgiu. Conforme se aproximava, foi perdendo a visão, parece que parou em frente a sua casa e portas abriram e fecharam. Então viu os cachos bagunçados de Dustin balançarem pelo corredor até a porta dos fundos. Suspirou aliviada e se sentou apoiando as costas na parede logo abaixo da janela. Ana olhou para Billy, os olhos azuis refletiam a luz fraca e a encarava de volta.

E assim ficou por um tempo sem saber se dava uma desculpa para ele e ia ver seu primo, ou deixava para falar com o mais novo na manhã seguinte. Talvez ele nem quisesse vê-la. Talvez ele tivesse medo dela como tem medo daquelas coisas lá fora. Pensar nisso a deixou perdida. Desviou os olhos do maior e sentiu o ar se tornar escasso novamente. Respirou fundo sentindo as lágrimas quase transbordando pelos seus olhos, e fechou os olhos. Ouviu o farfalhar de tecidos e a presença do maior bem ao seu lado.

A princípio, Billy hesitou mas percebeu que um abraço deixou a garota bem mais calma. E se aproximou para fazer isso mas ficou sem jeito olhando para ela de cabeça baixa. Não fazia ideia do que estava acontecendo mas tinha certeza que não era um bom momento para brincadeiras ou discussões. Por fim, trouxe os ombros dela para dentro do seu abraço. Sentiu as mãos dela passarem por sua cintura e com o mesmo toque tenso, passar para suas costas.

O rosto dela estava encaixado em seu ombro e não ouviu um ruído, mas sentiu algumas gotas de lágrimas passarem pelo tecido de sua camisa. Entrementes, ouviu-se os passos de Dustin seguirem pelo corredor. E assim, Ana pode descansar.


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hey, sou eu de novo hehe
finalmente meu bloqueio criativo está indo embora
por isso hoje trago mais um capítulo
espero que gostem e que ainda estejam acompanhando :)

não esqueça de dar uma estrelinha ⭐

até a próxima...


edit: 23/10/21
correção nas travessões das falas





Bad Guy [REESCREVENDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora