Capítulo 2

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Clara

Minha vida era uma comédia romântica, com toda a certeza. Tirando a parte do romance, o que aconteceu no consultório, com toda a certeza foi muito divertido para minha médica substituta, e ex-namorada. Para mim, foi extremamente constrangedor, além de ter me deixado espumando de raiva. Não fiquei irritada com Sofia, apesar de passar pela minha cabeça, diversas vezes, que tudo não passou de uma pegadinha elaborada por ela mesma. Eu estava mesmo era com raiva da minha má sorte e do meu potencial de sempre passar vergonha. Era uma sina minha.

Quando a vi me encarando com aqueles olhos inacreditavelmente lindos e expressivos, mas totalmente surpresa por me encontrar ali, meu coração parou de bater por dois segundos. Foi um susto tremendo e uma mistura de sensações que eu não sabia descrever.

Sem saber o que fazer ou dizer, corri para a cabine e tratei logo de me vestir. Eu precisava sair o mais rápido possível dali. Aquele encontro não foi planejado, como eu também não me sentia preparada para lidar com um acontecimento tão inusitado.

Eu acreditava mesmo, depois de tanto tempo, que ela não fosse voltar mais – não que eu ficasse pensando nisso, mas todo mundo tem um passado, e era inevitável recordá-lo eventualmente.

Enquanto me vestia, não conseguia raciocinar direito, como também não consegui controlar os nervos. Me expressei de todas as formas possíveis, a fim de aliviar a tensão, e acabei proferindo alguns muitos palavrões. Mesmo que eu abominasse palavras tão feias, e não fosse uma atitude típica minha, foi impossível não usá-las para extravasar toda a minha inquietação. Eu me encontrava em estado de negação.

Aquilo não poderia estar acontecendo. Que falta de sorte a minha!

Antes de sair da cabine e voltar a encarar o motivo da minha agrura, respirei fundo algumas vezes e sai daquele espaço apertado, ao decidir encarar de uma vez por todas aquela situação.

Eu não havia planejado o que falar. Talvez, nem dissesse nada, mas a sua cara-de-pau elevada me deixou ainda mais irritada. O seu esforço em se demonstrar profissional, e ignorar o que havia acabado de acontecer, não me convenceu. Havia sido humilhante demais estar de pernas abertas para minha ex-namorada – vergonhoso para mim. Já para ela, devia ter sido no mínimo engraçado.

Meu Deus, que vergonha!

A única coisa que eu precisava no momento era constatar meu enorme nível de azar. Era mesmo alto, e tive certeza disso quando me revelou que aquele era seu primeiro dia de trabalho no consultório de Olívia e, coincidentemente, eu estava ali.

Depois disso, nada mais precisava ser falado. Marchei para fora, sai e fechei a porta. Escândalo também não era algo que eu admirava, mas foi impossível controlar meu impulso, potencializado por minha raiva, e não bater a porta com força.

Corri para o estacionamento, busquei meu carro e dirigi que nem uma louca em direção ao meu trabalho. Já havia passado duas horas de atraso e eu não estava em condições psicológicas de trabalhar nem de lidar com a auspiciosa da minha chefe. Mas faltar estava fora de cogitação. Só pioraria minha reputação.

Sem arrancar milagrosamente uma lasca de pintura do meu carro, que era todo arranhado do teto ao aro do pneu, cheguei ao meu trabalho e estacionei na minha vaga reservada. Contudo, antes de abandonar o veículo e sair do estacionamento, eu necessitava desabafar e entender o que estava acontecendo. Só não esperava ser esbofeteada com mais algumas revelações.

Peguei o celular e tentei, frustradamente, uma ligação por vídeo com todas as meninas. Maria não atendia em seu horário de trabalho, quando estava ministrando alguma aula. Samantha, raramente, percebia o celular na hora que ele tocava. Ela quase nunca via a ligação, mas sempre me retornava depois.

Qualquer Semelhança É Uma Mera Coincidência 2Onde histórias criam vida. Descubra agora