Sofia
Passar mais tempo com Clara estava sendo desafiador. Ela era folgada, espaçosa e bastante abusada. Não perdia uma oportunidade de me deixar sem graça, além de ser uma conquistadora barata. Talvez fosse só coisa da minha cabeça, a sementinha da dúvida havia sido plantada por Laura e Hanna. As duas poderiam estar enganadas, mas eu estava começando a me preocupar que suas teorias poderiam ter fundamento. Por mais que Clara estivesse se comportando aparentemente bem, algo me dizia para me manter cautelosa.
Eu não queria tanta aproximação, a fim de evitar situações desagradáveis. Unicamente por essa razão, inventei de criar uma barreira com um dos sacos de dormir, entre mim e ela. A barraca não era muito espaçosa, então, assim, pude garantir um pouco de espaço e privacidade.
Não adiantou. Acordei e a encontrei debruçada sobre o saco de dormir, enquanto me encarava com um sorriso sacana.
Sim, eu havia sonhado com putaria e ela havia percebido.
- O que foi? Por que está me olhando? – A idiota estava prestes a rir bem na minha cara. Sua cara de boba anunciava que não demoraria para começar a me azucrinar. E foi o que aconteceu. Clara começou a gargalhar e a se espernear como se estivesse em um circo e fosse uma palhaça. – Qual é o seu problema? – Se ela não parasse de palhaçada, eu a colocaria para fora da barraca.
Por que não acabava logo com isso? Eu sabia, ela sabia, nós sabíamos que ambas tinham conhecimento do que havia acontecido.
- Admita que estava transando em sonho! – Falou em tom acusatório, durante o tempo em que apontava o dedo em minha direção e voltava a desatar em rir.
Se pensava que seria a única a se divertir com isso, estava muito enganada.
- Eu estava te comendo. – Mostrei três dedos em posição de combate.
Imediatamente, ficou séria. Perdeu a graça?
- Saiba que isso jamais aconteceria nem em seus sonhos! – Disse, entredentes.
Dessa vez, foi a minha vez de rir. Apenas. Eu jamais entraria em uma discussão como essa.
- Posso voltar a dormir? – Perguntei, encerrando o assunto.
- Preciso fazer xixi.
- Então vá!
- Sozinha não. – Dai-me paciência! – Se algo acontecer comigo, não terei testemunhas.
E se eu fosse sua serial killer? Ela não teria testemunhas mesmo.
- Ok, Clara. – Não tinha muito o que se fazer. – Está muito escuro lá fora, então não nos afastaremos muito e você terá que esvaziar a bexiga por aqui mesmo. Não conte à Laura.
Utilizamos as lanternas de nossos celulares e procuramos um canto com um mato não muito alto. Fiquei de costas, esperando a mijona terminar de esvaziar a bexiga; depois, que trocasse a calcinha mijada – assim, eu esperava. Mas fui obrigada a olhar para trás quando me assustei com um gritinho abafado e esganiçado.
- O que foi? – Ela ainda estava de cócoras.
- Acho que passou um bicho por aqui.
- Então se apresse ou vou te deixar sozinha. – Usei o celular para olhar ao redor, próximo à minha perna. Eu também não era fã de insetos, anfíbios e répteis.
- Merda! Esqueci de pegar um pouco de papel higiênico.
- Se sacode, Clara. – Eu estava doida para me trancar na barraca.
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Qualquer Semelhança É Uma Mera Coincidência 2
RomanceSofia retorna para casa e ao convívio de suas antigas amigas. Mais de uma década depois, ela está preparada para encarar os dilemas que pensava terem sido superados, assim como enfrentar fantasmas responsáveis pelos seus traumas do passado. Focada e...