Qualquer Semelhança É Uma Mera Coincidência 2

Capítulo 26

Clara

Há algum tempo, eu vinha reparando que Sofia me evitava cada vez mais. Em algumas ocasiões, ela inventava diferentes desculpas para simplesmente me afastar na cama, como se não me desejasse mais. Quase sempre dizia estar cansada ou indisposta. No entanto, eu compreendia que o seu trabalho sugava toda a sua energia e, por essa razão, eu respeitava sua individualidade e sua vontade.

Apesar de sua constante indisposição, sua libido, porém, parecia inabalável. Sofia não negava sexo. Ela era insaciável. Nesse quesito, minha mulher era igual a mim – minha alma gêmea.

Eu sabia que, se ela tivesse mais tempo disponível, estaria mais sexualmente disposta e curtiríamos nossos momentos íntimos com mais frequência. Por isso, eu morria de ciúmes do seu trabalho. Afinal, ele a disputava comigo. Sua função era esgotá-la a energia durante toda a semana e, por vezes, nos finais de semana também; minha função, portanto, era recebê-la com chamegos e fazê-la relaxar em meus braços. Era assim como eu recarregava suas energias.

Entretanto, parecia que meu amor e meus carinhos não estavam sendo mais tão apreciados. Sofia não fazia mais questão de tanta intimidade e estava começando a me preocupar com a verdadeira razão disso.

Mesmo assim, eu continuava sendo compreensível porque entendia que seria muito egoísta da minha parte cobrar por mais atenção, ainda mais sabendo que seu trabalho consumia muito de seu tempo e que, apesar disso, vivia seu sonho de ser médica. Jamais criaria um conflito entre sua vida pessoal e a profissional. Ela era feliz assim e eu me adaptaria à sua rotina atribulada e cansativa.

Depois que Laura sobreviveu ao pedido de casamento e, obviamente, Hanna aceitou a proposta, permanecemos comemorando o novo ciclo que se iniciava para nossas amigas, enquanto eu sonhava acordada com o dia que eu mesma fosse viver o mesmo com o amor da minha vida. Eu sabia que ainda era cedo demais para nos casarmos, mas nada me impedia de fazer planos em minha mente e me empolgar com todos eles.

Esse clima de noivado me deixou inspirada e animada para estar a sós com Sofia e, assim, compartilharmos um momento íntimo que se tornava cada vez mais raro. Eu era completamente apaixonada e minha melhor maneira de expressar meus sentimentos era na cama.

Sofia sabia e compreendia. Ainda bem que era essa a característica que mais amava em mim. Minha intensidade e meu desejo infinito pelo seu corpo.

Aproveitei que estava com energia o suficiente, apressei-me para tomar um banho gostoso e ficar cheirosa para uma noite de sexo selvagem – ela amava que fosse desse jeito e aprendi a satisfazer todos os seus desejos. Mesmo que fizesse tempo que não me tomava assim, eu sabia que ainda era o que mais a deixava excitada.

Quando retornei ao quarto, a encontrei deitada à minha espera. Sorri satisfatoriamente e me aproximei cheia de expectativa. Ter uma noite de amor sem hora para acabar era a melhor parte de ter uma namorada. Assim sendo, eu tornaria a noite memorável e aproveitaria muito bem a oportunidade de tomá-la para mim por toda a madrugada. Ela não precisava trabalhar no dia seguinte e, portanto, poderia descansar em meus braços, quando não estivéssemos nos amando.

Contudo, a vida me ensinou que quanto maior fossem as expectativas, menor seria o contentamento quanto à realidade.

Eu não entendia o comportamento dela.

Com a boca na bu... botija, ela me assustou e me deixou em alerta, quando gritou:

- EU NÃO QUERO TRANSAR!

O que foi isso? Eu estava sendo invasiva? Ou transar comigo havia se tornado um sacrifício?

Sentei-me ao seu lado, tentando compreender sua reação enérgica, durante o tempo em que ela respirava rapidamente, demonstrando o quanto estava nervosa e apreensiva. Eu esperaria que se pronunciasse e me explicasse o que estava acontecendo, já que ela que havia acabado de fazer um escândalo, no mesmo momento em que minha cabeça encontrava-se entre suas pernas – o que me deixou péssima. Confusa também. O mínimo que me devia era uma boa explicação dos fatos.