Capítulo 25

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Sofia

Saber que minhas desconfianças tinham fundamento, não me tornou prepotente. Eu também não tinha raiva de Clara nem dificuldade em confiar nela. Meu único problema era lidar com o fato de que aconteceu o que poderia ter sido evitado. Avisei, mas de nada adiantou.

Eu estava certa, afinal. Isabel gostava da minha namorada e era impulsiva demais para controlar seus anseios. Ela não era uma ameaça para mim, pois eu acreditava demais nos sentimentos de Clara, como também em seus princípios. Eu confiava de olhos fechados na pessoa que eu amava.

Entretanto, a recíproca não era verdadeira. Ela não só demonstrava que não confiava em mim, como também precisava compreender que poderia me contar qualquer coisa e, não, ficar escondendo acontecimentos que lhe fugiram de controle, simplesmente, por medo da minha reação. Em primeiro lugar, eu entendia que nem havia sido sua culpa; em segundo, nosso amor sempre seria mais forte do que qualquer mal-entendido.

Tudo o que eu queria era um relacionamento sério e franco. Ser uma namorada com quem Clara se sentisse à vontade e segura de me confidenciar seus segredos e acontecimentos relevantes.

Eu tentaria ser sempre compreensiva e sincera a fim de nunca julgá-la ou penalizá-la, sem correr o risco de ser injusta. Porém, eu também não era feita de ferro. Vê-la ao alcance de outra mulher, com os lábios marcados por um beijo que não havia sido meu e, ainda por cima, ouvir suas mentiras por receio da minha reação, deixou-me realmente chateada e frustrada.

Minha intenção era que nunca dormíssemos sem resolver nossos conflitos, mas eu precisava de um tempo sozinha para pensar com mais clareza e não tomar mais nenhuma atitude precipitada. Eu não queria ter motivos para me arrepender por causa de palavras ditas pela raiva. Eu não queria ser uma péssima namorada. Por isso, preferi deixar para discutir esse assunto no dia seguinte, apenas após o trabalho, quando minhas ideias estariam em ordem e minha cabeça não estivesse quente.

No dia seguinte, decidi sair mais cedo para trabalhar e evitar um embate. Não nos falamos pela manhã nem tivemos tempo de conversar pelo decorrer do dia. Ainda bem, porque ela também devia estar precisando de tempo para esfriar a cabeça e se preparar para mais uma conversa séria sobre confiança.

Eu só queria fazer as pazes.

Não passei o dia bem. Saber que havia algo a ser resolvido, deixava-me angustiada mais e mais. Eu já estava cogitando sair um pouco mais cedo do hospital e encontrá-la para nos resolvermos de uma vez por todas, – essa angústia estava fazendo mal ao meu coração – mas uma situação ruim aconteceu.

O dia no hospital poderia ser muito agitado, ainda mais se você estivesse atendendo na emergência – eu havia sido requisitada a auxiliar a equipe médica que precisava de toda a ajuda disponível para atender vítimas de um grave acidente de trânsito. Uma mulher grávida havia se acidentado e precisava de cuidados urgentes. Só não esperava que fosse ter que lidar com o momento mais difícil da minha vida.

Já havíamos prestado os primeiros socorros e ainda estávamos envolvidas nisso, quando chegou mais uma vítima do mesmo acidente – no total, já eram nove pessoas feridas.

Havia acontecido um engavetamento entre quatro carros. A maioria dos envolvidos haviam sofrido escoriações leves; outros, um pouco mais graves, que era o caso da grávida. Porém, após o primeiro atendimento, já havia a certeza de que ela ficaria bem, assim como seu bebê. Precisaria apenas passar por uma cirurgia simples de contusão, fazer curativos e alguns exames por precaução.

Uma única pessoa não havia tido a mesma sorte. Uma mulher mais velha e muito familiar chegou em estado gravíssimo. Estava desacordada, havia perdido muito sangue e sofrido algumas fraturas.

Qualquer Semelhança É Uma Mera Coincidência 2Onde histórias criam vida. Descubra agora