Capítulo 16

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Clara

Minha vida era muito descomplicada, simples e leve. Eu me entendia bem, sabia do que gostava e o que queria para meu futuro. Não havia planos para um casamento, muito menos para a constituição de uma família com filhos. Para falar a verdade, eu invejava a vida das solteironas donas de gatos. Eu queria essa independência e liberdade para todo o sempre. A solidão nunca foi um problema para mim, porque sempre tive uma rotina agitada e dinâmica, além de estar sempre rodeada por amigas e pela família.

Resumindo, minha vida estava muito bem do jeito que se encontrava. E meu plano ainda era seguir carreira solo, mesmo após Sofia ter voltado para o meu convívio trazendo fantasmas do passado.

Entretanto, estava muito difícil manter o foco, uma vez que morávamos sob o mesmo teto e nos encontrávamos quase todos os dias. Talvez, por isso, não sentia mais vontade, como sempre foi antes, de estar intimamente com outras pessoas. Minha ex-namorada já estava ocupando espaço demais em minha vida e em meus pensamentos – tornou-se complicado administrar meu tempo.

As explicações para como eu me sentia eram todas deturpadas pela minha vontade de continuar sendo a mesma pessoa, com o mesmo estilo de vida, e por colocar o orgulho sempre na frente. Mas eu não era totalmente cega. Mais ou menos. No fundo, ainda tentava entender o que acontecia.

- Gostou da experiência? – Sofia me perguntou.

Eu bem sabia que ela queria apenas se vangloriar, pois com certeza já sabia da resposta. Não tinha como ter dúvidas depois de meu corpo ter reagido tão forte em contato com seus estímulos.

- Você tem alguma dúvida?

Eu havia gostado tanto que até estava considerando coisas absurdas.

- Quero ouvir você dizer que amou. Anda, fala! Diz que foi a melhor experiência da sua vida.

Cobri meu rosto com as mãos e me senti como uma adolescente cheia de vergonha. Sexo nunca foi um tabu para mim, mas a forma como havíamos transado, há pouco, aconteceu de um jeito tão íntimo e avassalador, que me deixou completamente exposta e arrebatada. Ela havia conseguido quebrar meus bloqueios e me tomar completamente entregue – sem defesas.

Nunca havia me sentido assim com ninguém. Em nenhuma hipótese, imaginei que aconteceria com ela.

- Não tem como eu mentir, não é? – Perguntei, ainda com as mãos sobre o rosto. Mas Sofia tratou de me arrancar do meu esconderijo e me obrigou a olhar em seus olhos. – Laura sempre teve razão. Eu nasci para ser passiva.

Minha amiga sempre me irritava ao dizer isso. Era apenas brincadeira da parte dela, – uma implicância de duas crianças grandes – porém, acabou se tornando realidade. Ou não.

- O quê? – Sofia queria rir. – Eu te converti em passiva? – Queria ter certeza, já se sentindo um máximo.

Nessa hora, só consegui me lembrar da sua versão mais jovem, cheia de si. Ela sempre foi uma narcisista e, pelo jeito, continuava sendo.

- Não, ridícula! – Segurei-a pelos cabelos. – Gostei muito, mas existem outras coisas que gosto mais. – Mordi seus lábios.

- Deu para perceber que gostou muito. – Sorriu bem arrogante, desviando das minhas investidas. – Acho que os vizinhos também devem estar sabendo o quanto gostou. Sabia que você gemeu alto para o caramba?! Isso nunca me aconteceu. Quero dizer, nunca transei com uma mulher que respondesse tão fervorosamente assim aos meus dedos. Acho que posso entrar para o livro dos recordes. Sério!

Pronto, seu modo exibido e egocêntrico estava ativado. Sofia nunca foi modesta.

- Espero não receber uma notificação do condomínio. Isso seria vergonhoso. – Choraminguei, ainda sob o peso e o calor do seu corpo.

Qualquer Semelhança É Uma Mera Coincidência 2Onde histórias criam vida. Descubra agora