Capítulo 13

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Sofia

Foco era do que eu precisava, mas estava sendo impossível me concentrar depois dos últimos acontecimentos. Ter esbarrado com meus pais e, sobretudo, discutido com eles foi estarrecedor ao ponto de resgatar traumas do passado. Eu não era mais uma adolescente indefesa, mas as cicatrizes causadas jamais seriam apagadas. Era doloroso enfrentar o que havia acontecido de pior em minha vida, ainda mais quando a pessoa que havia me marcado tão dolorosamente era minha própria mãe.

Enfrentá-la no meio de todas aquelas pessoas, ao mesmo tempo que foi gratificante – uma limpeza de alma – acabou por trazer à tona emoções há muito tempo suprimidas. Por causa do preconceito, eu havia deixado de viver experiências ao lado de amigas e perdido sentimentos valiosos. Ouvir novamente as palavras hostis de Lúcia, tocou assustadoramente no meu íntimo, enfraquecendo o inabalável controle que eu tinha sobre meu emocional e minhas vontades.

Depois que Clara me beijou na boate, seria mentiroso da minha parte dizer que não pensei algumas vezes sobre sua insolente atitude. A infeliz tomava, vez ou outra, o domínio dos meus pensamentos, mesmo que minha mente batalhasse bravamente contra isso. Mas estava se tornando cada vez mais frequente e incontrolável pensar na minha ex-namorada – até mesmo quando me relacionava intimamente com outra pessoa. Porém, era tudo muito confuso porque, ao mesmo tempo que ela abalava minhas estruturas e despertava meus desejos mais profundos, seu jeito de lidar com as circunstâncias me deixava alarmada.

Clara me deixava nervosa, mas eu jamais lhe admitiria isso. Preferia demonstrar indiferença, ainda que fosse quase impossível manter as aparências.

- E o meu desejo? – Óbvio que ela não perderia a oportunidade.

Ri sarcasticamente, já tendo uma prévia noção do que me pediria – sexo.

- O que você deseja, querida?

A cretina sorriu arrogantemente, achando que me surpreenderia.

- Quero que seja minha namorada!

COMO?

Não era por isso que eu esperava. Com toda a certeza, superou minha expectativa, deixando-me desconcertada. Atônita, não consegui nem pensar no que fazer, o que pensar ou o que dizer. Apenas permaneci olhando-a com cara de idiota, aparentando uma adolescente inexperiente e amedrontada.

Esse nosso acordo estava saindo caro demais para mim. Mas só tive uma noção mais correta de quanto me custaria, quando Clara começou a rir da minha expressão pasma e decidiu resolver o meu problema.

- Calma, não precisa me olhar assim. Sua cara de assustada está me divertindo, mas preciso confessar que não passa de uma brincadeira. Eu tinha certeza de que seria engraçado.

Não sei dizer exatamente o que senti, mas descobrir que ela apenas zombava da minha cara, me deixou realmente zangada.

- Você é uma ridícula, sabia?! – Praticamente rosnei, controlando a raiva.

- Meu desejo é outro. Quer tentar adivinhar? – Ainda teve a audácia de continuar a brincar comigo.

- Não tenho tempo para isso, Clara. Preciso me aprontar para o trabalho.

Eu tinha dois palpites, mas apostava mesmo que seu desejo era apenas sexo.

- Não vou pedir sexo, se é o que está pensando.

Ótimo, agora ela começou a ler minha mente.

- Eu não estava pensando nisso. – Menti. Era o que passava pela minha cabeça, exceto por uma outra coisa, que já estava resolvida. Mas ela não sabia.

Qualquer Semelhança É Uma Mera Coincidência 2Onde histórias criam vida. Descubra agora