Capítulo 17

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Sofia

Normalmente, não era da minha personalidade enfrentar pessoas ou assuntos que tinham o poder de me desestabilizar emocionalmente – havia apenas uma exceção. No entanto, desde que retornei ao país, foi só o que me aconteceu. Eu evitava esse tipo de situação o máximo que era possível, por essa razão, posterguei por mais três semanas o encontro com meu pai. Teria levado mais tempo, mas Clara se sentiu no direito de informar meu contato para ele, que não suportou a angústia e enviou-me um convite para um almoço despretensioso – só queria conversar.

Na hora, aborreci-me pela invasão de privacidade e pelo desrespeito à minha vontade, mas eu também sabia que não era totalmente sua culpa. Meu pai vivia nessa expectativa há semanas, com o coração esperançoso – devia estar sendo torturante esperar, enquanto eu me mantinha em silêncio. Era compreensível. Assim sendo, minha raiva foi toda direcionada para a pessoa que divulgou meu número de telefone, sem meu consentimento.

Porém, eu já estava farta de brigar. Passamos as últimas semanas sem olharmos na cara uma da outra e, quando nos notávamos, acabávamos nos tratando um tanto desagradavelmente.

Para piorar a situação, também não realizei seu último desejo; ou seja, não dormimos juntas em nenhuma noite. Na verdade, apenas consegui evitá-la por todo esse tempo porque o quarto de Laura ficava vago com frequência e, após tantas discussões, Clara já não fazia mais questão da minha companhia.

Desde que passei na primeira fase do processo de revalidação do meu diploma, não eram mais necessárias tantas horas de estudo. Por essa razão, aproveitei o tempo vago para aumentar minha carga horária no batente da boate e ganhar mais um pouco de dinheiro. Em vista disso, comecei a passar mais algumas noites fora.

Reunindo todos esses motivos, foi possível manter o máximo de distância do meu desafeto – e afeto – inclusive, me manter longe de sua cama também.

Clara poderia esperar deitada, porque não conseguiria mais nada de mim.

- Desculpe-me pelo atraso. – Pronunciei, anunciando minha chegada.

Seu Bernardo tentou se levantar para me recepcionar, mas indiquei que continuasse sentado.

A última coisa que eu queria era uma tentativa de abraço forçado.

- Tudo bem, filha. Não fiz o pedido ainda. – Segurou o cardápio. – O que deseja comer?

- Na verdade, estou sem fome. Vou beber apenas uma água e ouvir o que tem a me dizer. – Meu semblante estava inexpressivo. E minha boa vontade de estar ali era praticamente nula.

- Tem certeza? – Ele mal conseguia olhar na minha cara.

- Estou sem muito tempo. – Era mentira.

Não insistiu mais. Apenas pediu um café para si e uma água para mim.

- Você se tornou uma mulher muito bonita.

Ignorei o elogio e fui direto ao ponto crítico.

- Lúcia sabe que o senhor está aqui? – Negou. – Por quê?

- Ela não aprovaria.

Perguntei só para ter certeza. Meu pai continuava mesmo ao lado dela.

Como não tinha muito o que se fazer, preferi encurtar meu tempo em sua presença e dar logo o que ele queria.

- Eu te perdoo. – Falei, de repente. – Mas não podemos manter contato.

Seus olhos encheram-se de lágrimas. Só não sabia dizer se era de alegria ou tristeza.

Qualquer Semelhança É Uma Mera Coincidência 2Onde histórias criam vida. Descubra agora