Capítulo 27

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Sofia

Depois que consegui finalmente conversar com Clara sobre minha dificuldade de tempo e disposição para lidar com seu excesso de energia, minha vida seguiu muito mais tranquila. Minha namorada se portou de forma maravilhosamente compreensível e eu estava amando-a muito mais por isso.

No início, ela não soube lidar muito bem quando expus nossa falta de sintonia, mas conseguimos encontrar um equilíbrio e vivíamos a melhor fase da vida que compartilhávamos juntas. Eu não chegava para minhas consultas tão cansada nem cometia mais pequenos erros bobos no trabalho por causa de minha consequente falta de concentração. Inclusive, eu tinha até mais energia para minha eterna dedicação a me tornar a melhor no que eu fazia. Medicina era uma das profissões que exigia muito estudo acerca das constantes atualizações no avanço da ciência e da tecnologia.

Em casa, continuamos muito próximas e me tornei ainda mais carinhosa. Talvez não estivéssemos transando tanto quanto Clara gostaria, mas realmente parecia que ela havia se adaptado à minha rotina, e eu só tinha que agradecer por ter cedido e respeitado o meu ritmo.

Aparentemente, ela também estava satisfeita e feliz com o equilíbrio que havíamos alcançado em nosso relacionamento e que tanto era importante para que pudéssemos ficar juntas.

- Doutora Sofia, com licença. – Bruna, a enfermeira chefe, havia batido na porta do meu consultório e parecia um pouco preocupada.

- Pois não?

- A senhorita está disponível agora?

- Na verdade, não. A consulta já acabou, mas minha paciente ainda está na cabine vestindo-se. – Ela continuou me olhando preocupada e me deixou um pouco alarmada. – Está tudo bem? Há alguma emergência para eu resolver?

- Não. Quero dizer, sim. Mais ou menos. – Passou pela porta e a fechou. Aproximou-se de mim e falou baixinho: – A senhorita Clara Castiel está esperando por você. Ela está um pouco agitada e disse que não vai embora até que vá vê-la.

Chequei meu celular e não havia mensagens suas. Será que...

- Percebeu se ela está sob efeito de álcool?

- Está normal, diferentemente da última vez. – Arranhou a garganta e endireitou a postura. Como Bruna poderia esquecer o episódio lamentavelmente vergonhoso com o qual teve que lidar outrora? – Se me permite, posso terminar aqui para que possa ver sua namorada. Aviso à sua paciente que teve uma emergência a resolver.

A enfermeira tinha receio de que Clara pudesse fazer um novo escândalo, se é que já não tinha feito.

- Obrigada, querida. – Agradeci, já levantando da minha cadeira. – Onde ela está?

- Na minha sala.

Então era mesmo sério. Clara estava esperando na chefia da enfermaria e Bruna não era assim tão receptiva.

- Obrigada, de novo.

Saí às pressas e não ponderei em ter que lidar seja lá com o que Clara devia estar delirando. Eu só esperava que fosse mesmo um delírio.

Com Laura, eu sabia que havia ocorrido tudo bem na audiência. Ela mesma havia me atualizado sobre os fatos acerca do processo que disputava com o pai. E se algo de ruim tivesse acontecido com qualquer uma de minhas amigas ou com familiares, eu já estaria à parte das notícias. Essas, as ruins, são sempre as primeiras a chegar.

Cheguei rápido na sala da enfermaria e a encontrei perambulando impacientemente de um lado ao outro. Quando me viu, porém, parou de repente e não falou nada. Seus olhos encheram-se d'água ao me ver na entrada e meu coração sentiu uma leve pontada.

Qualquer Semelhança É Uma Mera Coincidência 2Onde histórias criam vida. Descubra agora