Capítulo 29

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Sofia

Era surreal tudo o que estava acontecendo na minha vida. Todos os meus planos aconteciam exatamente como eu os idealizara. No setor profissional, conquistei meu emprego dos sonhos e desempenhava as habilidades que tanto me dediquei a me especializar. No setor amoroso, a mulher da minha vida havia aceitado ser minha esposa. Meu pai estava de volta ao meu convívio e minhas amigas estavam bem na vida e muito felizes. Estava quase tudo funcionando tão bem, que me fazia desconfiar se não era uma fantasia do meu subconsciente, uma distorção da realidade ou se eu não vivia mesmo em uma obra surrealista de grandes artistas renomados.

Clara havia aceitado se casar comigo e se mostrava tão interessada em se unir a mim, quanto eu a me unir a ela. Mas eu só consegui começar a acreditar que esse sonho era de verdade, quando nossas amigas receberam a notícia com alegria e a nossa família se reuniu para celebrar nosso noivado – eu não sonhava. Então, a minha vida deixou de ser uma fantasia, para se tornar uma realidade. Não era um sonho, mas era como se eu vivesse em um.

Na casa dos meus sogros, tudo ocorria bem. Graças a Clarice, em boa parte do tempo, o papo acontecia agradavelmente e meu pai começava a se sentir acolhido e à vontade. Clara, ao contrário disso, ficava aos prantos toda vez que minha sogra revelava alguns acontecimentos do nosso passado. Vê-la toda sem graça na presença do sogro, apenas tornou o contexto um pouco mais divertido para mim, durante o tempo em que eu achava lindas sua expressão tímida e suas bochechas coradas.

Não havia motivos para que se sentisse tão envergonhada. Tanto eu, quanto meu pai, não nos importávamos com o teor pessoal de suas histórias. Clarice gostava de falar sobre tudo e seu Bernardo era um bom ouvinte. Entretanto, desde o começo, eu só esperava por uma oportunidade de um momento a sós com minha sogra. Eu precisava de seus conselhos, visto que não havia ninguém que conhecia melhor a sua filha. Além de que, ela tinha conhecimento científico para fazer uma análise correta do motivo que sugava todas as minhas energias.

- Gostaria de aproveitar que estamos sozinhas para solicitar uma pequena ajuda.

Clara havia acabado de descer para atender o pedido da mãe e tudo indicava que só teríamos os minutos que eram necessários para passar um cafézinho.

- É sobre minha filha?

Como lhe explicar que Clara poderia ter algum distúrbio sexual, sem expô-la tanto? Impossível. Se minha noiva descobrisse meus receios e que eu estava prestes a tentar resolvê-los com sua própria mãe, entraríamos em uma guerra infinita. Ela jamais esqueceria, ou me perdoaria.

- Sim. É bastante pessoal, não sei se estou certa em falar com a senhora sobre isso, mas é a única psicóloga que conheço, confio e que está ao meu alcance.

- Ok. É sério e sigiloso? – Afirmei que sim. – Minha filha não pode saber? – Confirmei de novo. – Pode confiar em mim.

Depois disso, não hesitei. Ainda faltava um importante ajuste em nossa vida sexual, e eu não poderia ignorar ou seguir em frente como se tudo estivesse realmente perfeito. Por um tempo, estive sobrecarregada com a energia de Clara. Depois, pensei estar tudo resolvido após uma conversa madura entre nós duas e uma necessária desaceleração de ritmo. Porém eu era a única a estar satisfeita com a quantidade de contato íntimo que mantínhamos em nossa rotina. Começou a ficar cada vez mais evidente que minha noiva estava descontente – ela só fingia estar bem com as decisões impostas. Nosso relacionamento não estava funcionando maravilhosamente como eu imaginava e havíamos falhado ao tentar encontrar o equilíbrio que faltava. Isso nunca iria acontecer, enquanto apenas um lado continuasse a ceder. Mas eu não conseguia vislumbrar uma solução para nosso dilema, ainda mais quando poderia haver um motivo bastante sério, responsável por nos impossibilitar de resolver nosso problema.

Qualquer Semelhança É Uma Mera Coincidência 2Onde histórias criam vida. Descubra agora