Capítulo 20

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Clara

O colo da minha mãe sempre seria o melhor lugar para me reconfortar. Depois que descobri que Sofia já tinha uma namorada, não absorvi a informação de uma maneira muito saudável, coerente e, muito menos, madura. Primeiro, senti muita raiva; depois, fingi indiferença. Treinei minha mente para acreditar que não me importava, mas logo desisti de me enganar – tornou-se impossível e sofrível. Eu havia ligado para ela porque estava insuportável controlar a angústia em meu peito, – era saudade – porém, acabei ficando pior do que já estava.

Na tentativa de aliviar o que me afligia, comecei a pensar que havia sido um livramento o fato dela ter virado a página, ao passo que eu idealizava os defeitos da minha ex-namorada. Mas, nem isso me convencia. Depois da raiva, veio o remorso e a tristeza. Eu não conseguiria desabafar comigo mesma.

Deitada nos braços de dona Clarice, chorei tudo o que estava preso, até então. Ela tentava me consolar, mas a verdade era que não havia nada que pudesse ser feito para tranquilizar meu coração.

- Não pensei que vê-la com outra, me faria tão mal. – Voltei a chorar, bastante sentida.

- Filha, mas foi você que a dispensou. Se gostava dela, por que a afastou?

Não respondi, só continuei chorando. Minha mãe começou um afago em meu cabelo e, assim sendo, consegui me acalmar um pouco apenas para voltar a desabafar, ainda sentida demais:

- Ela disse que me amava, mas já está com outra pessoa.

- Queria que ela te esperasse, depois de como tudo terminou? Clara, você não deu a menor esperança a ela.

Eu havia contado tudo para minha mãe, por isso seria difícil que me desse alguma razão.

- Espero que a namorada dela vire hétero! – Praguejei.

Rindo, minha mãe rebateu:

- Então você vai ter que jogar praga para todas as outras lésbicas da cidade. Sofia é uma mulher inteligente, bonita e de bom caráter. Facilmente, arrumaria logo outra namorada.

- A senhora não está ajudando. – Reclamei e soltei um soluço, choroso.

Continuei me lamuriando, e minha mãe me afagando. Ela sabia que minha dor era sincera. Mas eu também sabia que me culpava pelo rumo dessa história.

- Vá até ela e revele como se sente. Se Sofia ainda te ama, pode ser que lhe dê outra oportunidade.

Eu não me humilharia.

- Se eu fizer isso, vou ter que sair por essa porta já de joelhos. Aquela metida foi bastante enfática ao me dizer que eu teria que implorar para que me ouvisse falar.

Dona Clarice suspirou pesado e me disse:

- Eu a entendo.

- Quem? – Perguntei, só para ter certeza.

- Sofia.

Ok, minha mãe era mesmo a fã número um da minha ex-namorada.

- Eu não a quero com outra pessoa. – Choraminguei, não dando a mínima por ter escolhido o outro lado.

- Mas também não a quer com você. Filha, deixa de ser orgulhosa. O orgulho é um dos maiores inimigos do amor. Se quiser ser feliz, vai ter que ceder. Eu e seu pai só estamos juntos até hoje porque ele cedeu todas as vezes.

- Ele sempre esteve errado, e a senhora certa?

- Não. Mas a vida é feita de escolhas. Você escolhe ter razão, ou ter paz. As duas coisas juntas não são possíveis.

Qualquer Semelhança É Uma Mera Coincidência 2Onde histórias criam vida. Descubra agora