A pequena comitiva partiu de Perranth como o previsto. Ayla não havia se juntado às bruxas por objeção de Manon e também por falta de logística para levá-la, seria mais um peso inútil.
Mesmo com a garantia da própria mulher, Manon não confiava no que via e sentia. O cheiro de Crochan era acentuado demais para Ayla afirmar que não tinha qualquer origem desse clã. Entretanto, Manon precisava de um lugar digno para descansar suas sentinelas e por isso tinha deixado que elas ficassem na casa da desconhecida.
Além disso, a bruxa líder tinha ficado desnorteada demais depois do momento dela com Azriel e, infelizmente, não conseguiu se concentrar em mais nada que não fosse o gosto do sangue daquele macho. Quando ele entrou na cabana de Ayla, seguido de Vesta, Manon precisou usar cada fiapo de força que seu corpo para sair de perto dele.
A bruxa sabia que tinha cometido um erro gravíssimo em se deixar levar pelos instintos femininos e agora pagava o preço por isso. Já era o segundo dia de viagem e ela não ousava se aproximar de Azriel além do necessário. Vesta, Edda, Briar e Ghislaine não eram burras e já tinham percebido que algo havia acontecido entre os dois.
Vesta até mesmo ousou perguntar o que havia acontecido com eles no tempo em que ficaram a sós na clareira, mas Manon se recusou a deixar qualquer vestígio de seu erro transparecer e apenas a cortou, dizendo que a subalterna estava curiosa demais com o que a líder fazia ou deixava de fazer. Não tinha sido a resposta mais elaborada de Manon, mas pelo menos Vesta percebeu que estava se metendo em um assunto perigoso se continuasse insistindo.
O alvorecer surgindo no horizonte trazia o fim de mais uma noite de viagem. A mando de Manon, a conformação de voo havia mudado, com Azriel seguindo à frente, guiado por Vesta e Ghislaine, seguidos de Edda e Briar, com a líder por último, ocupando o local mais distante do feérico possível.
O céu começava a se tornar cinza, com o sol surgindo entre as nuvens pesadas de inverno, abaixo da comitiva uma pequena cidade começava a se despertar. Se os cálculos de Manon estivessem certos, chegariam em Forte da Fenda na próxima noite .
Deixando a mente devanear, a líder observou ao longe a grande Floresta Carvalhal, que se estendia quase que infinitamente, começando a tornar-se verde pela luz do sol nascente.
Manon deixou o vento atingir seu rosto, fazendo com que a confusão de pensamento se esvaísse aos poucos. Fechando os olhos, ela respirou fundo a lufada constante e gelada que a atingia, trazendo os sentidos de Manon para a realidade.
Por um breve momento, a única imagem que surgiu em sua mente foram as pupilas dilatas de macho alado, aqueles olhos de avelã completamente predatórios. A boca quente e macia dele, com os lábios entreabertos esperando o beijo de Manon. Um arrepio subiu pelo corpo da bruxa, aquilo não estava ajudando Manon a por os pensamentos em ordem.
Bufando de raiva, a bruxa espantou a imagem de Azriel sob si e se forçou a voltar para a realidade. Ela estava prestes a ordenar que a comitiva pousasse quando um cheiro forte a fez se sobressaltar em sua vassoura.
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Um Conto das Sombras
FantasyManon Bico Negro está em uma das suas muitas caçadas ao clã das Crochan, quando se depara com um feérico alado perdido. Vítima de um desastroso experimento elaborado pelo Grão-Senhor da Corte Noturna, Azriel acaba atravessando algumas barreiras en...