Manon Bico Negro está em uma das suas muitas caçadas ao clã das Crochan, quando se depara com um feérico alado perdido.
Vítima de um desastroso experimento elaborado pelo Grão-Senhor da Corte Noturna, Azriel acaba atravessando algumas barreiras en...
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Os olhos dourados refletidos no espelho encaravam a bruxa de cabelos prateados de volta. A superfície do espelho estava começando a demonstrar os primeiros sinais de desgaste, com pequenas manchas nos cantos superiores.
Manon estudou aquelas pequenas pintas de ferrugem que carregavam séculos de história de seu clã, de seus dois clãs. Com um peso no coração, a bruxa se lembrou de quando entrou por ele de mãos dadas com Aelin Galathynius, para reescrever suas histórias.
Carinhosamente, Aelin tinha deixado que Manon ficasse com o espelho, para que ela se lembrasse e se orgulhasse de como, depois do que as duas enfrentaram juntas, a bruxa tinha se tornado a rainha das Bico Negro e Crochans.
Desde quando Manon atravessou o espelho, ela só conseguia pensar onde mais ele poderia levá-la. Em que mundos a bruxa poderia ir, quais terras descobrir e, o mais intrigante, quem poderia reencontrar.
Ás vezes, cada vez mais raras com o passar das décadas, Manon se pegava pensando em como Azriel tinha sido importante para ela e se orgulhava do laço que tinha criado com o illyriano. Mesmo depois de ver Az desaparecer em meio aquele portal, Manon ainda passou alguns anos esperando e procurando pistas do illyriano.
Jamais encontrou qualquer coisa.
Apesar disso, Manon nunca se deixou abalar pela falta que Azriel passou a fazer na vida dela. Ela se orgulhava da bruxa que tinha se tornado depois de tê-lo conhecido.
Tinham sido meses corridos, mas inesquecíveis, e mesmo agora, como Rainha das Bruxas, Manon se apegava aos ensinamentos que Az, mesmo sempre percebe, tinha lhe passado.
Um sorriso brotou no lábios de Manon, junto com a lembrança boa daqueles dias ao lado dele. Carinho aqueceu seu peito, levando uma onda de tranquilidade até o abdômen da bruxa.
Ali, um pequeno chute a fez estremecer, e um sentimento muito maior brotou em seu peito.
Ainda com os olhos sobre o espelho, Manon observou sua mão passear pela abdômen levemente inchado. Outro chute leve movimentou a pele sob sua mão.
– Parece que teremos uma bruxinha guerreira – os olhos de Manon encheram de lágrimas. - Seu pai irá gostar disso - ela acrescentou, abaixando a cabeça e olhando diretamente para a barriga - E sua irmã mais ainda - o sorriso em seus lábios ressoou em sua voz.
Como se invocada pela ideia, a bruxinha de cabelos negros entrou no quarto como um mini furacão.
– Mamãe! – ela correu até Manon – Olha o que tia Yrene me deu! Olha! Olha!
Quando Manon viu o pequeno tecido vermelho nas mãos de Asterin, as lágrimas, que ainda não haviam caído, molharam seu rosto.
– Que linda! - a Rainha Bruxa se ajoelhou para olhar o presente da filha.
– É uma capa Crochan! - ela ergueu o tecido para que a mãe pudesse ver melhor, um sorriso largo ocupando o rosto gordinho com bochechas rosadas - Tia Yrene disse que... - seu sorriso se desfez - Mamãe, você está chorando? - os olhos dourados da pequena Asterin brilharam em preocupação.
Por um instante, Manon não soube o que responder para a filha. Apenas encarou aqueles pequenos olhos dourados, quase tão reluzente quanto os seus, exceto pelo pequeno aro azulado ao redor da íris.
Os olhos mais lindos que a Bruxa Rainha já vira.
– Mamãe está sensível, meu amor - uma voz grave e masculina preencheu o cômodo.
A voz de seu marido acariciou os ouvidos de Manon, fazendo-a expirar levemente. A bruxa ergueu os olhos até a porta e viu o homem de cabelos negros e olhos azuis. Olhava para as duas com os olhos cheios de amor e devoção. Ele estava com o ombro escorado no batente da porta e sobre a cabeça sua coroa já reluzia, complementada pelos trajes formais.
Aquele homem... O homem que tinha ensinado Manon a amar.
Mais lágrimas escaparam de Manon, mas dessa vez ela só deixou que seu amor por sua família transbordasse por completo.
– Papai! - Asterin arregalou os olhos ao ouvir a voz de Dorian - Olha! Olha! - e com uma agitação linda ela correu até os braços do Rei de Adarlan, carregando a pequena capa carmesim.
Ainda de joelhos, Manon observou a figura minúscula cruzar a distância até seu pai e se lançar em seus braços, soltando uma gargalhada doce. Dorian a pegou e ergueu no ar, fazendo as duas tranças da bruxinha balançarem junto com a mini capa Crochan.
Ela teria que agradecer a boa vontade de Yrene pelo presente, mas teria que explicar que Asterin só poderia usar uma capa Crochan de verdade depois do primeiro sangramento. Mas isso ficaria para depois, mais tarde ou amanhã, quando Manon e Dorian tivessem dado as boas vindas para todos os convidados que haviam vindo ver sua coroação como Rainha de Adarlan.
A bruxa Rainha riu daquela ideia maluca que tinha aceitado. Mas sabia que desde quando Asterin havia nascido, Manon nunca mais seria apenas Manon Bico Negro, ou o Demônio Branco.
Ela seria Manon Bico Negro Crochan, Rainha das Bruxas e Primeira Rainha Bruxa de Adarlan.
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