8) CTC: lapsos e culpa

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   Os dias seguintes passaram-se como uma lembrança enevoada com lapsos temporais na cabeça do Tritão. Seus fantasmas remordiam e revolviam em uma tortura lenta de dor e arrependimentos. Perguntava-se se existia algo de efetivo que poderia ter feito ao invés de seguir o caminho covarde. Lapsos que eram interrompidos pelo humano e sua fingida (porque os humanos eram mestres nisso) bondade que Shouto pagava sibilando a cada aproximação de Izuku.

   A única maneira de conseguir fazer qualquer procedimento era descrever o que seria feito e o porquê.

   O Tritão estava constantemente na defensiva. Seu semblante neutro quase nunca distorcia, quando o fazia apenas detonava raiva. As poucas palavras que trocavam também vinham carregadas de irritação.
Era uma daquelas criaturas perturbadas desde o berço? Não, talvez, simplesmente seu coração sussurrava-lhe que aquelas reações não eram só devidas á um cativeiro forçado ou o estresse do tratamento.

   Uma coracionada sussurrou-lhe que o garoto-sereia tinha feridas mais profundas, talvez ao ponto que estivesse quebrado emocionalmente. Aquele olhar vazio queimava-lhe a alma. Já havia tratado de pessoas com esse olhar. Olhos de vítimas em estado de choque que alternavam com o instinto de autopreservação. O garoto era perigoso demais, até para si mesmo. Era doloso para o de olhos esmeralda ter de deixá-lo acorrentado em uma posição incômoda para o bem de ambos.

   Observando e recordando cada palavra trocada com o semi-albino, aparentemente não havia sinais de demência, então quebra emocional era o mais correto de supor-se.
E seria muito difícil conquistar sua atenção, talvez levasse muitos meses em tratá-lo e duvidava que seu paciente o quisesse, em todos casos, o trataria com a máximo de gentileza possível, pois a situação também era estressante para Izuku.

  Sibilos, ameaças de mordidas, cristais de gelo abaixando a temperatura da água e labaredas ocasionais. Estava lidando com uma tormenta viva com humor de uma "llama misturada com um texugo."

   As vezes o humano estava lá, as vezes não

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   As vezes o humano estava lá, as vezes não. As vezes estava debruçado na mesa várias horas sabe-se lá o que fazia. As vezes trazia um vaso de plantas para contemplar? Não entendia tantas horas gastas com essas atividades.

   Sempre havia pequenas merendas, almoço e jantar. Sempre havia murmurinhos. Sempre havia respeito e todos as noites o humano dormia no mesmo cômodo que ele estava, pendente de sua saúde, como que sua vida realmente fosse valiosa ao humano, ainda haviam dúvidas e muitas sobre as intenções do macho humano.

   Shouto era prisioneiro e ao mesmo tempo não.
O humano era gentil e constantemente tocava seu corpo procurando saná-lo. Lentamente e sem dar-se conta, começou prestar atenção nas ações de humano. Avaliando o cheiro, as expressões. Procurando um indicio de sujidade, de falsidade, por mais que procurasse não havia mais que alguém cuidado de outra pessoa, talvez por pena ou caridade.

   Shouto tinha noção que comportava-se como uma boneca de porcelana. Imóvel, submerso em sua própria tristeza oprimida por anos de tortura psicológica.

Tritão e Sangue - DekuTodoOnde histórias criam vida. Descubra agora