9) CTC: Trocanco talas e limpando feridas

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   Izuku chegou muito tarde, portando um lampião. Atiçou o fogo e colocou mais madeira para queimar. Esquentou água para um banho rápido e em um canto longe, atrás de um biombo, banhou-se. Enxugou-se, pôs o camisolão, escovou os dentes e foi dormir. Tudo em silêncio.

   O dia seguinte foi igual de silencioso.

   O cômodo do banho, foi limpo com esfregão, água quente e sabão.

   Shouto foi tirado do tanque com cuidado. Coberto de panos úmidos para não desidratar. A piscina foi esvaziada. Limpa e a água foi reposta. Um processo muito trabalhoso e penoso feito em pleno inverno mesmo com a lareira acesa e bem abastecida de lenha.

   Izuku também lavou o corpo de Shouto com água e sabão de cinzas. Manteve um balde de água por perto para poder ir umedecendo o corpo do garoto-sereia.

   O posicionou sobre um cobertor limpo e seco. A cauda foi recoberta por panos úmidos e ao lado de sua cabeça foi posta uma bandeja com muitos instrumentos de metal, vidros com líquidos e algodão.

   Izuku tinha o semblante sério, muito concentrado, muito profissional e polido.

   Examinando o braço direito. Trocou a madeira das talas com cuidado. Deixando o braço ainda imobilizado, só que com uma tala mais leve e prática. Desinfetou a linha do corte na cintura do garoto e retirou os pontos com ajuda de uma tesourinha e uma pinça curva.

   Passou pomada de ervas curativas pelo peito e braços do outro. Rolou o corpo contrário de lado e continuou compenetrado. As costas tinham muitas marcas esverdeadas ainda, assim como pontos inchados.

   Midoriya não trocou nenhuma palavra que não fosse extremamente necessária, mesmo assim esmerou-se em dar o melhor tratamento médico que podia, dentro de seus conhecimentos.

   As mãos do humano eram grandes e quentes. Os dedos ásperos passaram por sua costas de modo firme e gentil.

   Shouto sentiu pequenas descargas elétricas ao longo de sua coluna. Era uma sensação nova, agradável e vergonhosa. A cabeça do Tritão pensava uma e outra vez sobre como estar com esse humano era diferente e isto assustava-lhe.

   < É isso que chamam de conforto?>

   Sensação de conforto a muito esquecida e só vivida em tenra idade nos braços protetores de sua mãe, esse conforto tinha-lhe sido roubado e isso doeu muito, ainda doía como ferida aberta, esse conforto chamava-o e afrontava-o, como a luz chama as mariposas. Não havia razão lógica para ceder diante de tal oferta. Seria o único a sair magoado disso tudo. Era um idiota remoendo-se por um humano. Era um grandessíssimo idiota confuso.

   Havia uma pequena parte, sufocada por toneladas de orgulho que clamavam; não, mendigavam ouvir a voz do humano, anelando atenção.

   O humano começou a tirar os pontos nos cortes fechados ao longo de sua cauda. Foi virado de bruços com muito cuidado. Fisgadas de dor a cada ponto e linha cortada que abandonava a carne.

   Quando sentiu a mão morna em uma de suas nádegas, suas pálidas bochechas esquentarem. A sensação da grande palma apertando suas escamas da nádega. Era estranho, como se algo tivesse mudando em seu corpo. Respirou fundo tentando acalmar seus corações.

   Izuku com muita vergonha teve que segurar uma das nádegas para acessar dois pontos que teve que dar em um pequeno corte na dobrinha desta. Ali, entre as nádegas onde estaria um ânus, se Shouto fosse humano, havia uma cicatriz muito velha que aparentava ter sido cosida por alguém sem prática em medicina. O ânus do Tritão ficava na parte frontal, no final da cauda em formato de ranhura. Este intrigante detalhe já estava anotado em sua caderneta de evolução de pacientes e de certo modo aborrecia-lhe.

Tritão e Sangue - DekuTodoOnde histórias criam vida. Descubra agora