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             Assim que o sinal de atar os cintos foi desligado, eu peguei minha bolsa e praticamente voei para fora do avião. Caminhei uns trezentos mil quilômetros até a esteira de bagagem. Minha mala, graças a Deus, era uma das primeiras a rolar por mim, então eu apenas a agarrei e saí do aeroporto.

            Uma fila de taxis e vans me fez cair de volta na realidade: o que eu faço agora? Relutantemente, voltei para dentro do aeroporto e me recostei na parede mais próxima enquanto conferia se meu pai tinha mandado uma mensagem para o meu celular. Mas, como constatei rapidamente, ele não tinha mandado nada. Eu seriamente suspeitava que o meu pai nem ao menos sabia o número do meu celular. Para minha sorte, eu sabia o dele.

            Já tinha digitado quase todos os números quando me dei conta de que, mesmo nós dois estando no Rio, aquela ligação provavelmente contaria como interurbano por alguma regra idiota das operadoras ou algo assim. Guardei o celular de volta na bolsa. Meu pai ajudava com as contas, enviando uma pensão mensal, mas ultimamente a minha mãe não estava se lembrando de pagar nenhuma delas, e eu ainda não tinha aprendido a me virar completamente no mundo financeiro. Então, decidi me poupar a dor de cabeça.

            Em vez disso, resolvi transferir a dor de cabeça para o meu pai. Uma dor de cabeça em forma de ligação a cobrar. Saltitei até um dos seguranças e perguntei onde ficava o telefone público mais próximo.

            O cara era daqueles dois por dois morenos que são basicamente o esteriótipo de segurança de filme. Ele mal olhou para mim, apenas apontando com a cabeça vagamente na direção da escada rolante.

            ― Lá em cima ― informou.

            Murmurei um obrigada e já ia me virando na direção da escada quando o cara me chamou de novo.

            ― Ei, espera! ― ele disse. ― Por acaso você é... ― tirou um envelope do bolso e leu, espremendo os olhos. ― Amelia Clapp?

            A menção do meu nome me fez congelar no lugar. Girei nos meus calcanhares e voltei a olhar para o segurança.

            ― Sou, sim ― eu disse devagar. ― Por quê?

            Ele sorriu. Isso mesmo: aquele sujeito barra-pesada dois por dois sorriu para mim. Me senti um pouco especial demais. Aquilo era quase tão divertido quanto fazer um guarda do Palácio se mexer.

            ― Seu papai pediu pra eu te entregar isso aqui ― ele me estendeu o envelope.

            Aceitei o envelope. Na frente estava escrito apenas o meu nome.

            ― Como você sabia quem eu era? ― perguntei, curiosa. ― E como meu pai sabia que eu falaria com você? ― gesticulei ao redor, para todos os outros seguranças do aeroporto. Eu poderia ter escolhido qualquer um deles para fazer minha pergunta, no entanto, magicamente, eu tinha escolhido justo o certo.

            ― Não faça perguntas difíceis, garota ― ele sacudiu a cabeça. ― Eu simplesmente recebi instruções de entregar esse "pacote" para uma garota de olhos e cabelos cor-de-mel que estivesse vestindo um casaco de camurça e botas combinando ― ele conferiu todos os requisitos em mim enquanto dizia aquelas palavras. ― Ah, e também me disseram que você iria parecer estar chateada. E que você era de Brasília ― completou, como se essa fosse a chave do mistério.

            ― Espera aí. E você deduziu que eu era brasiliense só de me olhar?

            ― Basicamente. Você é tão branca que é quase como se nunca tivesse visto o sol. Carioca é que não é.

Como nos filmes [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora