#12

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            Preciso confessar uma coisa. Quando, na saída da escola, os fotógrafos rodearam a bicicleta dos sonhos, implorando por um sorriso, parte de mim pensou mesmo que aquilo tudo fosse por minha causa. Ah, qual é. Só faltava aquilo para o meu sonho estar completo: andando de bicicleta no Rio, sob o sol das duas e meia, na garupa do garoto mais cobiçado do momento, cabelos ao vento (bem, não tecnicamente, o capacete dificultava um pouco as coisas), e os paparazzi implorando pela minha atenção.

            Mas é claro que fazia muito mais sentido eles todos estarem ali por causa do Carlos. Quer dizer, eu não passava da filha de um escritor que teria um papelzinho merreca no filme. Que espécie de paparazzi estaria lá atrás de mim?

            Eles estavam em cima de nós antes que pudéssemos evitar. Havia muitas pessoas e muita gritaria, e eu só consegui ouvir algumas das vozes claramente o suficiente para entender.

            ― Um sorriso aqui, Mel! ― gritou um homem com uma câmera. E, bem, a não ser que Carlos secretamente tivesse mudado de nome, estava claro que aquele grito tinha sido para mim. Para mim. Que emocionante. Meu primeiro paparazzi. Sorri voluntariamente.

            ― Vocês são namorados? ― perguntou um dos outros.

            Desviei o olhar, corando. Carlos apoiou os pés no chão para manter a bicicleta em pé e educadamente pediu licença com a mão.

            Alguns deles se afastaram, e conseguimos rolar poucos metros. Mas eram muitos jornalistas e fotógrafos. A coisa era tão intensa que eu estava começando a sufocar. Olhei para o lado, desesperada, e um instante depois me arrependi completamente.

            ― O que houve com seu rosto? ― um dos fotógrafos perguntou em voz firme, fazendo uma careta. ― Como você pretende gravar qualquer coisa assim?

            Eu pus a mão involuntariamente no nariz, onde senti um pouco de sangue seco. Com certeza, eu não estava muito apresentável. Gemi. Carlos pareceu pressentir meu drama. Olhou para trás e acariciou meu rosto com compaixão. Depois ele simplesmente avançou com a bicicleta, de modo que as pessoas tiveram que se afastar, isso é, se não quisessem ser atropeladas ou sei lá.

            ― Obrigada ― eu falei, rapidamente enlaçando a cintura dele para não ficar para trás.

            Carlos estava pedalando muito rápido. Muito rápido. Como se quisesse despistar os paparazzi ou algo assim. Só que é claro que não tinha ninguém nos seguindo. A estrada que levava ao instituto era praticamente deserta àquela hora do dia, e todos os fotógrafos e jornalistas da coluna de fofoca estavam a pé quando nos abordaram. Eles não nos alcançariam. Mas aquilo não pareceu importar para o garoto, porque ele continuou pedalando e pedalando. Segurei mais forte.

            ― Não tem de quê ― Carlos falou, sua voz chegando até mim pelo vento. ― Eles também estavam me assustando.

            ― Foi a primeira vez que te abordaram desse jeito?

            ― Na verdade, ontem eles estavam na frente do hotel esperando que eu saísse ― ele respondeu. ― Mas essa foi a primeira vez que chegaram tão perto.

            ― Você não achou estranho eles terem me reconhecido?

            ― Não ― ele disse, fazendo uma curva. ― Você apareceu na televisão, ainda que por pouco tempo. E tem um rosto inesquecível.

            Eu ri, me sentindo constrangida demais para ter qualquer outra reação.

            ― E mais ― Carlos prosseguiu. ― Esses caras sabem até o nome do cocô do cavalo da Madonna. É o trabalho deles.

Como nos filmes [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora