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Quando o dia ameaçou a raiar, o Osso sugeriu que nós fôssemos assistir ao espetáculo lá da cobertura. Ele disse que tinha feito isso no dia anterior e me prometeu que eu iria adorar.

Quando chegamos lá em cima, éramos os únicos, e o céu ainda estava completamente escuro.

O Osso ficou fazendo palhaçada, contando regressivamente várias vezes, como se o sol fosse surgir de repente com um "bum!". Mas ele sempre acabava se enganando, e todos nós ríamos quando a contagem chegava a zero e o céu continuava tão escuro quanto antes.

No fim, o sol surgiu quando menos esperávamos. Alguns raios no horizonte, colorindo o céu de um espetacular tom de negro alaranjado. As cores se misturaram rapidamente nas nuvens depois disso. Roxo. Rosa. Vermelho. Laranja. Amarelo. Ficamos em completo silêncio assistindo ao show; nem mesmo o Osso teve coragem de fazer piada ou quebrar o clima.

Apenas quando o céu estava em seu tom natural e límpido de azul claro é que eu resolvi falar alguma coisa, temendo que o silêncio se prolongasse até os fins dos tempos.

― Isso foi incrível ― eu disse.

Alex, que estava segurando a minha mão, apertou meus dedos com intimidade.

― Incrível ― ele ecoou, mas não estava olhando para o céu. Seus olhos estavam pregados em mim.

― Eu disse! ― Osso riu, se enfiando entre Alex e eu e nos obrigando a desgrudar as mãos. Passou um braço pelo ombro de cada um e nos sacudiu. ― Eu disse! Vocês nunca acreditam no que eu falo!

Alex lançou um olhar desesperado para mim pelas costas do Osso e eu ri.

Osso resolveu interfonar para um amigo dele no serviço de quarto e conseguiu encomendar um café da "madrugada" (como ele chamou) para nós três, que chegou ainda quente e delicioso na cobertura.


Depois de comermos, nos deitamos em cadeiras-de-sol na cobertura e continuamos a nossa conversa. Eu acho que nunca na minha vida tinha conhecido ninguém tão divertido quanto o Alex e o Osso.

            Só quando o assunto finalmente acabou, e o silêncio começou a pairar sobre nós é que percebi que Alex estava perigosamente perto.  Em algum momento da conversa, nós acabamos dividindo a mesma cadeira-de-sol. Olhei para cima e seus olhos encontraram os meus.

― Osso ― ele disse, sem tirar o olhar de mim. ― Por que você não vai lá... lá no nosso quarto e...

― Já saquei, mano ― Osso disse, dando um tapa tão estalado nas costas de Alex que doeu até em mim. ― Vocês querem ficar sozinhos. Pode deixar. Vocês foram legais comigo a noite toda. Merecem um pouco de privacidade.

E, simples assim, ele nos deixou sozinhos.

A proximidade de Alex pareceu pesar ainda mais quando estávamos só nós dois na cobertura, como se o Osso tivesse providenciado alguma forma de alteração na gravidade.

― Ei ― Alex sussurrou, ainda olhando para mim. ― Você é uma garota muito especial, Mel. Sabe disso, não sabe?

 Eu sorri, e ele sorriu de volta, suas bochechas queimando naquele adorável tom rosado, que ficava ainda mais evidente à luz do novo sol.

Então, sem pensar muito, eu acabei com o espaço entre nós dois em um rápido movimento. Pincelei os meus lábios nos dele delicadamente. Alex não me afastou. Ele correspondeu ao beijo, sorrindo, e até mesmo me apertou para mais perto.

Se eu dissesse que, naquele instante, o mundo sumiu, eu estaria mentindo. Pelo contrário, o mundo ficou mais vívido, embora eu tivesse os meus olhos fechados. Eu conseguia sentir muito mais nitidamente o  vento que acariciava nossas peles, contornando nosso corpo, mas bagunçando nossos cabelos. Conseguia escutar com muito mais atenção o som das marolas na piscina, das gaivotas que cacarejavam ao longe. Conseguia até mesmo sentir o cheiro salgado de um mar que não estava muito distante. Mas nada daquelas coisa parecia importar muito. Apenas Alex e eu parecíamos importar, como se todo o resto fosse só a trilha sonora, o pano de fundo.

Como nos filmes [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora