#15

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Vai ser muito patético se eu confessar que passei o resto da noite chorando sozinha no meu quarto de hotel?

            Eu nem mesmo tenho certeza do motivo do meu choro.

Quer dizer. Que tipo de pessoa cai em prantos quando um garoto fofo e super legal confessa seu amor publicamente através de uma música? A não ser que sejam lágrimas de alegria, acho que não tem perdão.

E as minhas definitivamente não eram lágrimas de alegria. As lágrimas que escorriam pelo meu rosto desenfreadamente vinham de uma mágoa profunda, originada no centro da minha alma.

Acho que primeiro eu comecei a chorar por não conseguir gostar do Carlos como eu gostaria de ter gostado. Depois, o choro evoluiu para uma auto-retaliação por ter feito aquela cena no restaurante, saindo sem nem dizer nada. O que será que a Angélica devia pensar de mim?

Em certo ponto, eu tive certeza de que nunca mais teria chance nenhuma com o Carlos. Ou com qualquer outra pessoa. Eu morreria sozinha e era tudo culpa da minha própria burrice.

Fiquei o sábado todo no meu quarto, me alimentando através do serviço de quarto, que, aliás, era muito bom.

No domingo eu já estava me sentindo melhor, mas não abusei. Falei no Skype com a Mariana, almocei com o meu pai na cobertura e, basicamente, fingi que Carlos nunca tinha existido. Porque se ele não existisse eu não teria que ficar me remoendo com os fatos da sexta à noite.

Na segunda, eu não tinha mais como evitar. É claro que eu quis. Pensei seriamente em fingir uma doença e matar a aula. Ou em voltar para Brasília e esquecer tudo.

Mas me orgulho em dizer que não fiz nada disso. O que eu fiz foi me aprontar e ir para a escola e encarar o meu destino.

Como os horários haviam rodado nessa semana, o primeiro horário era Atuação. Carlos não estaria por lá, e parte de mim ficou muito aliviada com o adiamento do inevitável. Mate também não estava por lá, o que eu achei muito estranho, mas tentei ignorar. O professor não pegou muito no meu pé naquele dia, tendo escolhido outros pobres alunos para atuarem na frente das câmeras. Fiquei quieta no meu canto fazendo os exercícios de voz que ele tinha passado.

No segundo horário, quando entrei na sala, avistei Carlos imediatamente. Ele estava na última cadeira da fileira, cabeça baixa, mexendo no celular.

Meu coração disparou, pensando no que eu falaria quando ele me abordasse. Pensei em sentar longe dele e sair assim que batesse o sinal, para evitar qualquer conversa, mas percebi logo que, se eu continuasse assim, só prolongaria a minha própria tortura. Então respirei fundo e sentei na cadeira na frente do Carlos.

― Você acha que Mate saiu da escola? ― perguntei.

Não sei por que falei aquilo. Foi a primeira coisa que veio na minha cabeça, e eu estava desesperada para falar qualquer coisa e acabar com aquilo logo.

Cadu primeiro sorriu ao perceber que eu estava ali, mas então fez uma careta assim que compreendeu o que eu tinha acabado de perguntar.

― Bom dia para você também ― ele resmungou. ― Uma ótima maneira de voltar a falar comigo depois de tanto tempo.

― Dois dias ― eu falei, meio encabulada.

― Sessenta e duas horas, e vinte e.. ― ele olhou para o relógio ― ... cinco minutos. Três segundos. Agora quatro, cinco, seis...

Eu suspirei. Por que ele tinha que complicar tanto as coisas? Não consegui me decidir se eu devia ficar lisonjeada ou assustada com aquela contagem de segundos. Dei de ombros.

Como nos filmes [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora