#24

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No dia seguinte, não consegui me levantar para ir para aula, fosse por que eu ainda estava muito chocada, fosse porque eu tinha ido dormir apenas uma hora antes de ter que acordar.

Uma mensagem de Cadu no meu celular me despertou, "te encontro no lobby p/ gnt ir junto". Eu consegui ficar acordada por tempo o suficiente para dizer que eu não ia para aula, que estava me sentindo mal. Não era mentira. Cadu mandou outras mensagens, mas coloquei meu celular no silencioso e voltei a dormir.

Acordei um tempo depois, atordoada pelos meus próprios pensamentos.

Cadu havia me dito que gostava de incorporar o Cadu Pompeo no seu dia-a-dia. Que gostava que eu fosse sua Mel Coldheart pessoal, e ele até mesmo permitia seu declarado arqui-inimigo dançar com a sua namorada só porque a mesma coisa havia acontecido a Cadu Pompeo no livro. Eu sabia de tudo isso. Não era nenhuma novidade.

A novidade era que tudo o que nós dois tínhamos vivido naquelas últimas semanas tinha sido copiado do livro do meu pai.

Tudo.

Não só as personagens, os cenários e as situações como também o diálogo. Algumas vezes, letra por letra.

Carlos era completamente pirado.

Aquilo não era uma simples técnica artística. Eu tinha quase certeza de que aquilo poderia ser classificado como no mínimo patológico.

E eu me sentia usada. Tão usada. Eu era provavelmente a maior idiota do mundo de ter caído no mesmo papo furado em que a idiota da Mel Coldheart tinha caído no livro.

Lá pelas onze da manhã, meu pai bateu na minha porta.

― Mel? ― ele chamou. Eu tampei meus ouvidos. Não queria nunca mais ser chamada por aquele nome idiota. ― Mel? Cadu me disse que você não estava se sentindo bem...

― Eu to bem! ― gritei de volta.

― Posso entrar? ― ele pediu. ― Estou preocupado.

Eu resmunguei e coloquei o travesseiro sobre a minha cabeça. Talvez, se eu ignorasse, ele desistisse. Eu não estava com vontade de falar com ninguém naquele momento.

De repente, a porta se abriu e eu me levantei, assustada.

Meu pai olhava para mim com os olhos preocupados.

― Como você entrou aqui?

Ele apontou para trás, sem jeito.

― A camareira... ― começou a dizer, mas depois pareceu decidir que não era importante. Ele se aproximou e se sentou aos meus pés. ― O que houve, querida?

Involuntariamente, eu lancei um olhar na direção do livro dos Tesouros, que estava sobre o criado mudo ao lado da cama. Meu pai percebeu imediatamente. Ele pegou o livro em mãos e folheou por um tempo.

― Você está lendo os Tesouros? ― perguntou devagar.

Eu joguei a cabeça sobre o travesseiro e suspirei. Cobri o rosto com as mãos.

― O Carlos é completamente louco ― eu disse por fim.

Senti o toque do meu pai na minha perna, cuidadoso.

― Louco? ― ele ecoou.

― Pai, você não faz ideia! ― eu solucei, me sentando tão de repente que meu pai recuou, assustado. ― Ele... e eu... Nós tivemos as férias mais mágicas da minha vida. E então, eu descobri que... Tudo era mentira.

Meu pai franziu as sobrancelhas numa expressão magoada e abriu os braços para que eu entrasse neles.

― Mentira, Mel? Como assim "mentira"? O Cadu é doido por você!

Como nos filmes [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora