No primeiro dia de férias, Cadu cozinhou o jantar.
Eu não sabia que ele cozinhava.
Ele me buscou de taxi no hotel às sete horas. Estava vestido para um evento formal e insistiu que eu colocasse o meu melhor vestido. (Eu passei quase uma hora na frente do meu guarda-roupas tentando decidir qual dos meus lindos novos vestidos de marca seria considerado o melhor por Cadu. Acabei me decidindo por um vermelho com rendas.) Quando chegamos na casa dele, percebi que ele tinha arrumado a mesa no quintal para parecer com um restaurante chique. Jantar à luz de velas.
Eu ri e revirei meus olhos, mas Cadu me segurou e beijou a ponta do meu nariz e disse para eu parar de zombar dele porque ele só queria fazer uma coisa legal por mim uma vez na vida.
A comida estava surpreendentemente boa. Eu imaginei comigo mesma quando era que Cadu, com sua rotina agitada de astro do cinema, havia arrumado tempo para aprender a cozinhar.
Em algum momento, enquanto nós estávamos comendo, eu comentei que talvez fosse voltar para Brasília por alguns dias. Fazia muito tempo que eu não via a minha mãe, embora ela me ligasse regularmente, e fazia tempo demais que eu não via a Mari pessoalmente. Eu sentia um pouco de falta da minha vida antiga.
Cadu ficou muito sério por um tempo.
― Quantos dias? ― ele perguntou por fim.
― Uma semana ― eu disse, encolhendo os ombros. ― Duas, talvez.
― Não as minhas duas semanas, né? ― ele perguntou rápido, como se as palavras tivessem escapado sem querer. Ele tinha duas semanas de folga e, pelo jeito, pensar que eu não iria fazer parte delas não o deixava feliz. Por aquele instante, ele deixou cair sua máscara séria e aparentou quase desesperado. ― Quer dizer, se você precisar ir, eu...
Estendi a minha mão para segurar a dele.
― Cadu ― eu sorri. ― Não as suas duas semanas.
Ele se permitiu sorrir de volta.
― Tudo bem então ― ele disse. ― Mas você volta?
Eu pensei por um momento.
Por um lado, Elaine não precisava mais de mim. Ela já era a Mel Coldheart perfeita. Meu pai não precisava mais que eu servisse de inspiração para ninguém. A Mari e a minha mãe provavelmente sentiam tanto a minha falta quanto eu delas.
Por outro lado, eu já estava matriculada no Instituto. A transferência aparentemente havia dado bastante trabalho para o meu pai, e eu sabia que ele não me ajudaria a fazer a transferência de volta, se eu quisesse. E também tinha o Cadu. E a Elaine. E até mesmo o estranho do Mate, que ficava voltando na minha cabeça, por alguma razão.
― Acho que sim ― eu sussurrei.
Cadu sorriu, satisfeito, e foi buscar as sobremesas.
*
Outro dia, nós estávamos deitados no sofá dele apenas jogando conversa fora. Ele me contou sobre a família dele, sobre como tinha sido a vida dele, crescendo nos arredores da capital paulista, perto de uma área rural. Ele me contou sobre o seu primeiro cavalo e como tinha sido difícil quando o coitadinho teve que ser sacrificado por conta de uma doença infeliz. Ele me contou sobre seus amigos, sobre seus sonhos e suas paixões. Contou coisas felizes e coisas tristes.
Quando ele terminou de falar, ficou estranhamente quieto. Eu ergui minha cabeça e o beijei.
― Você é uma pessoa incrível, Cadu ― eu sussurrei.
Ele sorriu e me beijou de volta. Me puxou para mais perto, afastou os meus cabelos, mordeu o meu pescoço de leve. Eu me arrepiei toda. Eu percebi que ele também.
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Como nos filmes [Completo]
Teen FictionAmelia Clapp seria uma adolescente comum se seu pai não tivesse inventado de se tornar escritor. Na verdade, ela seria uma adolescente comum se as pessoas não tivessem inventado de gostar do livro dele. Com a fama de Guilherme Clapp, veio ta...