#19

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            Depois que a música terminou, Maroon 5 prosseguiu com o seu repertório da noite. Cadu e eu dançamos mais um pouco, nos beijamos mais um pouco, bebemos mais um pouco da coca-cola que garçons prestativos faziam circular pelo salão... Eu estava me acostumando rápido ao ritmo da festa. E estava gostando muito de tudo aquilo.

            Mais para o fim da noite, Adam Levine estava cantando uma de suas músicas mais calmas, Sunday Morning, e eu e o Cadu estávamos dançando abraçadinhos, de olhos fechados, como num conto de fadas.

De repente, a música parou.

Eu apenas abri os olhos por causa da microfonia horrível que se seguiu. Cadu, que estava de frente para o palco, abriu primeiro apenas um dos olhos para espiar. Quando pareceu tomar foco, abriu o outro olho rapidamente, franzindo as sobrancelhas num sintoma claro de irritação.

― Filho da puta ― alguém disse no microfone, e sua voz ecoou por todo o salão. Uma voz familiar.

Cadu me puxou para mais perto.

― Mel, gatinha... ― ele sussurrou no meu ouvido. ― O que você acha de a gente ir para um lugar mais privado?

Eu ia dizer que sim, mas a minha curiosidade foi maior. É claro. Quem poderia me culpar?

Antes de responder qualquer coisa ao Cadu, me virei na direção do palco e dei de cara com Mate.

Ao me ver olhando, Mate sorriu de lado por reflexo, mas seus olhos emitiam uma agressividade quase palpável. Meu sangue congelou.

― Boa noite ― ele disse habilmente no microfone. ― Alguém que toca tango pode por favor subir no palco? ― perguntou, gesticulando para lá e para cá com um objeto preto em sua mão.

Esse objeto era um livro.

Não qualquer livro.

Era um livro de capa dura preto com uma escrita floreada em tinta cor-de-ouro o identificando como "Tesouros". Não que desse para ler de onde eu estava, mas eu reconheceria esse livro mesmo de olhos vendados.

Fez-se um silêncio na festa por alguns instantes.

Os Maroon 5 estavam ainda no palco, atrás de Mate, parecendo tão confusos quanto o resto de nós. Talvez eles soubessem tango, mas não sabiam português.

Ninguém atendeu a solicitação de Mate.

Em vez disso, uma figurinha num vestido radiante subiu no palco, parecendo irritada, e colocou as mãos na cintura.

Sabina DelRey.

― O que você está fazendo aqui? ― ela perguntou em uma voz aguda e falhada, como se estivesse prestes a cair no choro.

Mate se voltou para ela, parecendo completamente perder sua pose confiante. Ele claramente não esperava aquela interrupção. A situação desnorteou completamente o pobre coitado.

― Sabina... ― ele sussurrou, colocando o microfone de volta no pedestal. ― Isso não é...

― Eu achei que eu tivesse deixado bem claro que você não poderia nem respirar perto dessa festa! ― Sabina disse, sua voz ganhando força. ― Ou eu caía fora.

Mate caminhou até ela lentamente. No início, ela se retesou, mas logo cedeu ao toque dele. Era como se ele tivesse um enorme poder sobre ela... Quase como tinha comigo...

― Sabina ― ele repetiu, tocando o seu rosto de forma carinhosa. ― Eu não estou aqui para te magoar. Juro que não. ― Com o polegar, ele acariciou a bochecha dela, e Sabina fechou os olhos, se entregando à sensação. ― Me desculpa. Eu sinto muito, muito mesmo por tudo o que eu fiz, mas... Isso aqui não tem a ver com você. Eu não vim aqui para estragar a sua festa.

Como nos filmes [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora